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Europa: emparedamento da democracia?

01:30 | Mai. 28, 2019
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Eleitores europeus de 28 países do Velho Continente realizaram, no último domingo, eleições para a ocupação de 751 assentos no Parlamento Europeu. Ainda que os partidos de centro (socialdemocratas e centro-direita) permaneçam como as principais forças, terão de buscar alianças entre pequenos partidos para se contrapor à extrema direita, em ascensão, pois perderam a maioria. Os grupos parlamentares contrários à União Europeia (ultradireitistas e conservadores) aumentaram suas fileiras, de 20% para 23% (queriam 30%) dos assentos do Parlamento Europeu. Menos do que esperavam.

O Partido Popular Europeu (PPE) e a Aliança Progressista de Socialistas e Democratas (S&D), pró-europeus de centro-direita e de centro-esquerda, respectivamente, formam o bloco mais forte, mas vão precisar dos ecologistas e dos liberais para manterem a maioria. O comparecimento dos eleitores foi o maior dos últimos 20 anos. Mais de 50%. Todos movidos pela crise. A Europa viu seu ideal humanista (que a levara a construir um dos modelos de sociedade mais equilibrados do planeta, através do Estado de Bem-Estar Social) soçobrar e ser desmantelado, pouco a pouco, pela pressão do capital financeiro.

A Europa dos Povos, sonhada pelos idealizadores, transformou-se em Europa dos Banqueiros e Rentistas, sob o látego da Alemanha e de Bruxelas. O desmonte das conquistas obtidas pela sociedade não foi impedido pelos partidos moderados. Tanto fazia eleger governos liberais ou socialdemocratas: a receita econômica era (e é) a mesma. Como se fosse a única possível. E, isso não é verdade.

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O modelo contracionista de riquezas que faz com que somente oito pessoas detenham a riqueza correspondente à da metade da população mundial não tem condições de ser mantido dentro dos moldes da democracia. Só com regimes autoritários. Pois o normal é que eleitores inconformados com o preço a pagar por essa opção se sublevem, depois de perder a confiança nos políticos e nas instituições que fazem a mediação na sociedade democrática sempre em favor das finanças.

Ao invés de a democracia ser aprofundada, dando-se a esses cidadãos instrumentos que lhes permitam enquadrar o verdadeiro responsável (o capital financeiro) e suprimir a supremacia e autonomia que este ganhou frente ao Estado nacional e de direito, apela-se para o enfraquecimento ou supressão da democracia fazendo crescer as soluções autoritárias. Com esse afã criam-se as condições para a proliferação de líderes e partidos autoritários e suas soluções simplistas e demagógicas. Só que o fascismo sempre trouxe rios de sangue e de sofrimento às sociedades que se deixaram engabelar pelo canto de sereia do autoritarismo. A própria Europa sabe disso mais do que ninguém. 

 

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