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Carnaval: blocos vocalizaram crítica política e social

05:00 | Mar. 07, 2019
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O clima carnavalesco ainda continua presente até este final de semana, pelo menos nos locais mais envolvidos pela folia. Nestes o desencarne do espírito folião exige exorcismo mais forte. O certo é que a festa momina cumpriu seu papel catártico, servindo de válvula de escape para as tensões acumuladas no dia a dia de uma rotina desgastante de uma sociedade particularmente acossada, nos últimos anos, pela crise econômica e social que assola o País.

Neste ano, uma tradição sempre presente no carnaval brasileiro - a crítica política - ganhou realce intenso. Sem ela, na verdade, a folia fica sem sal, pois a verve brasileira de espicaçar figuras públicas e de expressar a quanto anda o humor social em relação aos responsáveis (ou supostamente responsáveis) por seus dissabores cotidianos é parte indissociável do seu Carnaval. Por que? Talvez, por falta de mecanismos efetivos de participação dos cidadãos no processo decisório, em vista da formalidade das instituições, ditas representativas. Assim, restaria ao brasileiro fazer do carnaval o espaço de recuperação da soberania popular esvaída pelo burocratismo de um poder fechado em si mesmo e rechear de conteúdo real a democracia. Toda vez que essa distância entre representantes e representados se acentua mais fortemente, mais o carnaval reflete a insatisfação da sociedade com o governo e com as próprias instituições ensimesmadas.

Cabe aos responsáveis pelo Poder a humildade de auscultar essas manifestações genuínas, vindas do seio da sociedade e procurar interpretá-las segundo o espírito da democracia. Sobretudo, precisam estar antenados para as sinalizações dos intérpretes mais sensíveis dessa realidade: o segmento artístico e cultural, pois este é o primeiro a detectar e dar vazão à alma da sociedade.

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Quando os ocupantes do poder não entendem isso, entram em conflito com a própria base social e se alienam do sentimento geral. A reação do Planalto ao volume de críticas que se espraiou através dos blocos carnavalescos pelo Brasil inteiro, neste Carnaval, está sendo equivocada, a começar pelo seu esbarrão com o mundo da cultura. Este vem expressando a insatisfação das camadas que querem ter participação ativa no processo de modificações institucionais, em curso, que interferirão inapelavelmente em suas vidas.

É razoável e até imperativo que essa cobrança seja aceita, visto que a campanha eleitoral, por uma série de razões conhecidas, não deu a oportunidade para que os temas mais importantes em disputa pudessem ser debatidos pelo conjunto dos cidadãos. A maioria não tem noção do que está em jogo e reclama ser ouvida, já que vão decidir sobre sua vida. Essa foi a mensagem indireta dos protestos do Carnaval. É preciso ouvi-la. n

 

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