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Opinião: Kremlin está impotente na Venezuela

18:00 | 12/08/2017
O país sul-americano preocupa a Rússia, que teme mais um levante antiautoritário no mundo e a perda de seu aliado no petróleo. Jornalista Konstantin von Eggert prevê o fim do drama: Maduro e Putin saem perdedores."Os governos socialistas tradicionalmente fazem uma bagunça financeira. Eles sempre acabam ficando sem o dinheiro dos outros." Essa citação da ex-premiê britânica Margaret Thatcher é talvez a melhor descrição do que aconteceu na Venezuela, nos governos do falecido Hugo Chávez e de seu sucessor, Nicolás Maduro. O assim chamado "socialismo bolivariano" está implodindo sob o número crescente dos que não aguentam mais a inflação galopante, abastecimento deficiente e violência desbragada das autoridades criminais. Ao regime Maduro restam duas possibilidades: ou renunciar imediata e espontaneamente (o que é improvável), ou se transformar numa ditadura declarada e depois entrar em colapso (o que é mais provável). O fantasma de uma "Maidan latino-americana" – a Praça da Independência de Kiev onde começaram os protestos contra o governo pró-Kremlin da Ucrânia – deixa nervoso o governo russo. Ele teme todo movimento popular antiautoritarismo, não importa em que país do mundo. A Venezuela, no entanto, é um caso especial: por mais de 15 anos, Moscou esteve ao lado, primeiro de Chávez, e depois de seu sucessor. E isso não só pelo desejo de apoiar um inimigo dos Estados Unidos – um tema que a Rússia persegue sem cessar. Há um outro motivo: a companhia estatal de petróleo venezuelana PDVSA é a segunda mais importante parceira da petroleira estatal russa Rosneft, depois do conglomerado americano ExxonMobil. A Rosneft tem grandes planos na nação com as maiores reservas do ouro negro no mundo e tem privilégios locais. A Venezuela é o país onde o presidente da Rosneft, Igor Sechin, quer provar do que é capaz, fora da Rússia, a empresa controlada por ele e pelo Kremlin. Só por isso Moscou ajuda os chavistas. Ainda em 10 de julho, o presidente russo, Vladimir Putin, falou ao telefone com Maduro. Segundo fontes oficiais, ambos conversaram sobre planos conjuntos ligados à energia. Mais provável, porém, é Maduro ter pedido a Putin para reestruturar a dívida estatal venezuelana com a Rússia, totalizando 1 bilhão de dólares. Talvez ela até seja inteiramente perdoada. Além disso, a Rússia conta entre os poucos Estados que respaldam a tentativa do venezuelano de reescrever a Constituição de seu país e de destituir o Parlamento eleito. Os EUA sustentam sanções tanto contra Caracas quanto contra o Kremlin. Por isso, Moscou experimenta agora uma solidariedade especialmente intensa com Maduro. O Kremlin gostaria de fazer mais do que rolar dívidas e pronunciar palavras vazias de apoio. Ajuda militar, Moscou não poder oferecer ao regime venezuelano, que também não precisa dela. Pois não é necessário instar Maduro a empregar violência contra a oposição, como foi o caso de Viktor Yanukovych na Ucrânia: o líder chavista está, por si só, mais do que disposto a prender e matar os oposicionistas. O Kremlin só pode aguardar o fim do drama na nação da América do Sul e se perguntar se o presidente americano, Donald Trump, vai impor um embargo contra o petróleo venezuelano. Isso provavelmente acarretaria a rápida queda do regime Maduro, mas também atingiria os consumidores do combustível venezuelano. O fim de longo prazo do drama na Venezuela está claro: o regime Maduro vai renunciar. A questão é só quando, e quantos ele ainda vai levar junto para o túmulo, até lá. Depois disso, um novo governo pró-Ocidente mudará radicalmente a política venezuelana para a Rússia, revogará o reconhecimento diplomático da Abkházia e da Ossétia do Sul – ambas regiões separatistas da Geórgia –, com o qual, na época, Hugo Chávez prestou um grande serviço a Putin. Por último, mas não menos importante, a posição da Rosneft ficará igualmente abalada, ela talvez tenha até mesmo que se retirar do país sul-americano. Quem pode lucrar com a ascensão oposicionista na Venezuela será uma outra parceira da estatal russa, a ExxonMobil. No passado, Chávez expulsou a multinacional americana, e o retorno dela seria um final brilhante e irônico para a inglória aventura russa na Venezuela. Apostar numa ditadura acaba por prejudicar a reputação e os negócios. Essa lição, o pessoal do Kremlin provavelmente não vai nunca assimilar. O jornalista russo Konstantin von Eggert é apresentador da TV Dozhd e autor de uma coluna semanal na DW-Rússia. Autor: Konstantin von Eggert
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