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Vitória de Trump é comemorada em Miami com charutos cubanos

09:06 | Nov. 09, 2016
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Tipo Notícia
O café Versailles está tomado pelo cheiro de charuto. Duzentas pessoas comemoram a vitória de Donald Trump neste clássico ponto de encontro da comunidade cubana na Little Havana de Miami.
Algumas estão enroladas em bandeiras dos Estados Unidos, outras usam bonés com o slogan "Make America Great Again" (Vamos tornar os Estados Unidos grandes de novo), que o candidato republicano repetiu diversas vezes em sua feroz campanha rumo à Casa Branca.
"Queríamos uma mudança, não queríamos que o país seguisse inclinações socialistas, muitos empregos se perderam", comentou Miguel Alejandro, agarrando sua bandeira gigante com cuidado para que não arrastasse no chão.
"Não é o país que era quando cheguei de balsa em 1993, que te recebia com grande emoção", disse o cubano de 45 anos à AFP.
Trump conquistou a presidência dos Estados Unidos contrariando todas as previsões. No entanto, a comunidade cubana em Miami, tradicionalmente republicana, nunca havia perdido as esperanças.
Pela primeira vez na história, o voto latino, que quebra recordes a cada quatro anos devido ao crescimento de sua população, podia ser decisivo e ajudar a democrata Hillary Clinton a alcançar a Casa Branca.
Não conseguiu. Em Nova York, um bar mexicano onde uma festa era esperada ficou deserto. Muitos jovens democratas preferiram ir embora porque, no fim das contas, ninguém gosta de chorar em público.
"Que tristeza este resultado, reflete muito a maioria deste país, a falta de educação, o racismo. As pessoas não se informam bem, já vemos os efeitos no mercado. O Dow está baixando sete pontos, e Wall Street nem mesmo abriu", disse Karen Aliaga, uma peruana de 33 anos que vive em Nova York e trabalha com publicidade.
"Acabei de voltar a viver nos Estados Unidos do exterior, mas se Trump vencer provavelmente terei que me mudar", disse Jessica Fryman, que vive em Nevada e visitava uma amiga na Big Apple.
Talvez com a vitória do magnata esteja fazendo os planos. De fato, o site de migração do Canadá ficou fora do ar, segundo meios de comunicação, pelo medo de Trump e de suas declarações contra os imigrantes muçulmanos e hispânicos, ameaçados de deportação por ele.
"Trump administra muito bem as redes sociais, sabe o que vende, quem é seu alvo e o que tem que dizer para deixar seus eleitores satisfeitos. Terá que fazer algo com tudo o que disse dos imigrantes", acrescentou Fryman, de 27 anos, em referência ao muro de 3.200 km que Trump prometeu construir na fronteira com o México.
Mas no Versailles só se respira felicidade... e fumaça de charutos.
"Graças a Deus Trump venceu porque a razão pela qual este mundo está como está é porque perdemos a fé", explicou entre lágrimas de emoção Ileana García, uma cubana de 58 anos que trabalha na gigantesca loja de ferragens The Home Depot.
"Gosto de Trump. Não estou de acordo com algumas coisas, como seu desrespeito em relação às mulheres. Mas é um homem do povo. Fala como eu, e quanto temos que dizer 'fuck you' (foda-se), dizemos 'fuck you'", lançou sem conseguir enumerar quais ações Trump deverá tomar para melhorar o rumo do país.
O ânimo crescia à medida que as horas se passavam. Buzinas de carro tocavam ao passar pelo Versailles, com bandeiras ondeando a partir das janelas e um motorista que gritava em inglês contra Hillary: "Perdedora, perdedora".
Em certo momento, os manifestantes receberam pedradas lançadas de um lugar desconhecido que a polícia atualmente investiga, mas ninguém ficou ferido.
Enquanto isso, os lamentos nas redes sociais pela vitória do republicano de 70 anos eram intermináveis. "Misoginia e ignorância em ação. É hora de se converter nos Estados Unidos da Costa Oeste", escreveu um internauta da Califórnia, um estado completamente democrata.
"Não estou certa de como explicarei ao meu filho a eleição que este país fez", publicou uma mãe preocupada. E, com humor, uma pessoa simplesmente perguntou em tom de piada: "aTRUMPcalipse?".
Na Carolina do Norte, uma enfermeira de 46 anos estava desconcertada. "É o fim dos Estados Unidos como o conhecemos. Dá medo", comentou Robin Munsey à AFP.
Os 50 milhões de hispânicos nos Estados Unidos representam a primeira minoria do país. A eles se somam os 11 milhões de imigrantes ilegais que Trump ameaça deportar.
E em Los Angeles, onde os imigrantes ilegais são muitos, as defesas de Hillary eram muitas.
"Este homem é quase um nazista", lançou Margarito Salinas, de 88 anos.
Enquanto isso a festa no Versailles avançava em grande estilo. Presidente e Congresso republicanos, um sonho que finalmente se tornou realidade.
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