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Presos soltos nas vivências agravam clima de insegurança em penitenciária

De acordo com o Sindasp, acordo foi feito entre os detentos e a direção da unidade. Os internos, por enquanto, respeitam as alas definidas para cada facção, mas a tensão é constante devido à suposta quebra de aliança entre as duas maiores organizações criminosas do País
18:30 | Out. 21, 2016
Autor O POVO
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Tipo Notícia

Um acordo feito com a administração estaria permitindo que presos ficassem soltos nas vivências da Penitenciária Francisco Hélio Viana de Araújo, em Pacatuba, na Grande Fortaleza. O pacto foi feito em abril deste ano, antes da paralisação dos agentes penitenciários, entre 19 e 20 de maio, informa o presidente do Sindicato dos Agentes e Servidores Públicos do Sistema Penitenciário do Estado do Ceará (Sindasp), Valdemiro Barbosa. A penitenciária é a única no Estado em que os presos não cumprem a rotina imposta pela Sejus.


A situação agrava o clima de tensão existente nas unidades prisionais com o rumor de que facções nacionais romperam a aliança que tinham. Textos com orientações das quadrilhas para os detentos, os chamados "salves", circulam nas redes sociais da internet apontando a rixa. "Estamos avisando à massa carcerária do estado do Ceará em geral, nos quatro cantos do estado, para que não aceitem os PCC [Primeiro Comando da Capital, facção paulista] nas vivências, assim como aconteceu domingo no estado de Roraima pode acontecer no Ceará", constava em um "salve", divulgado em redes sociais nessa segunda-feira, 17, atribuído à facção carioca Comando Vermelho. "Somos a maioria, não vamos apoiar esses covardes, nossas famílias merecem respeito, nossa visita é sagrada", continua o texto. Os trechos foram editados conforme a norma formal de escrita.


Na terça-feira, 18, houve um confronto na Penitenciária da Pacatuba, com registro de uso de arma de fogo por parte dos detentos, segundo O POVO apurou. A Secretaria de Justiça e Cidadania (Sejus) informou que o conflito foi controlado pelos agentes penitenciários. A Sejus nega uso de armas de fogo no episódio. Desde então, nenhum tumulto ocorreu na penitenciária, afirma um agente penitenciário, que não quis ser identificado. No entanto, o clima é de tensão, conta.

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Segundo ele, os presos estão respeitando os limítrofes das vivências que designam como pertencentes a cada facção. Porém, estão apreensivos, "porque não sabem a hora que vai vir a ordem dos líderes para invadir ou não outra vivência". Ele estima em 60% a parcela de presos da penitenciária filiados ao CV, contra 30% do PCC. Os presos são forçados a escolher uma das facções. Quem se nega a entrar, passa a ser ameaçado, diz.

A penitenciária, que tem capacidade para 525 detentos, tem cerca de 1000 atualmente. Doze agentes por turno atuam na penitenciária, com o apoio de 20 PMs em três guaritas, conta a fonte. O ideal seria um agente penitenciário para cada cinco presos, segundo o Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária (CNPCP). Segundo o agente, os procedimentos estão paralisados. "Lá os presos que mandam", afirma o agente. Aqui só podemos fazer vistoria com apoio armado da PM [Polícia Militar] ou do GAP [Grupo de Apoio Penitenciário], relata. O Sindasp reclama a contratação de mais 3.600 agentes,


Ameaças
Circulam nas redes sociais imagens contendo ameaças a agentes penitenciários, que teriam sido encontradas em um celular apreendido em uma unidade prisional. Dentre os possíveis alvos, está o presidente do Sindasp, Valdemiro Barbosa. O material foi encaminhado às autoridades competentes para apurar "se não é só mais uma mídia que jogam", conta Valdemiro. "As ameaças são constantes, é natural, por mais estranho que possa parecer dizer isso", diz.


Saiba mais
Segundo do jornalista Josias Jozino, do coletivo Ponte, O Ministério Público paulista apurou que o conflito entre as PCC e CV teve início no ano passado, quando presos desta facção se aliaram à facção FDN criminosa (Família do Norte), rival do PCC, nos estados de Roraima, Rondônia e Acre. Isso estaria por trás dos confrontos em presídios de Roraima e Rondônia, que resultaram em, pelo menos, 22 mortes, no domingo, 16.

O POVO Online solicitou nota à Sejus questionado a veracidade do acordo que teria sido feito com os presos. Até o fechamento desta matéria, porém, não obteve resposta.

 

Redação O POVO Online

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