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Transformando o lugar em morada

Num quarto dividido com outros dois idosos, Roberto Maia guarda o que acumulou ao longo da vida - o gosto pela literatura, pela música, frases, um espaço para o abraço dos filhos. Com ele, O POVO Online estreia uma série com histórias garimpadas no Lar Torres de Melo
22:00 | Set. 28, 2016
Autor Bruna Damasceno
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Bruna Damasceno Repórter no OPOVO
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Tipo Notícia

[FOTO1] No quarto 25, frases de Mahatma Gandhi em um papel ofício decoram a parede ao lado da foto de Charlie Chaplin, imagens de crianças, alguns cordões e o desenho de uma bonequinha feito pela neta compõem o universo erudito de Roberto Souza Maia, de 75 anos.

 

Na penteadeira ao lado da cama: livros, CDs e discos de vinil se encontram com canetas, porta-retratos, colônia de alfazema, uma xícara de café e muitas lembranças. O vendedor aposentado foi para o Lar Torres de Melo, no bairro Jacarecanga, um pouco depois de se separar da esposa, há 11 anos. Mas ele avisa: tem uma pretendente em vista.

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Roberto apresenta a coleção de livros: "Os grandes julgamentos da história”, que comprou há 40 anos. Ele conta que é uma de suas leituras preferidas e que sempre revisita o clássico, se enredando em seus processos. “São oito livros que falam sobre vários julgamentos que nunca foram concluídos”, descreve.  Entre os escritores preferidos do aposentado, está o cearense José de Alencar.

A música também embala sua rotina. E é ao som de ícones da década de 1940, como Carmem Miranda, Lupicínio Rodrigues, Pixinguinha e Orlando Silva, que Roberto planeja suas melhores experiências: viajar para Jericoacoara com a paquera e escrever sua autobiografia. Os artistas Caetano Veloso, Alceu Valença e Chico Buarque, completam sua predileção sonora.

Maia começou a formar o arquivo que transportou para o Lar Torres de Melo aos 15 anos - com uma fotopintura. Depois disso, foi colecionando de acordo com cada experiência de vida. Ele conta que trabalhou por algum tempo no Correio do Ceará e depois foi bancário, neste período, começou a admirar a literatura. No seu último trabalho, como vendedor, viajava pelo interior do estado. Roberto explica que nas viagens descobriu a musicalidade. “Em cada lugar buscava por boa música, sempre gostei do bom”, diz.

[SAIBAMAIS]

O colega de quarto do Roberto, Expedito Gomes da Silva, conta que a música do amigo não o incomoda, e que adora quando ele escuta Orlando Silva.

Roberto Maia foi para a instituição por vontade própria, depois de conversar com os filhos. “Meus filhos disseram que me levariam para conhecer, e se eu não gostasse, voltaria para casa. Conheci, gostei e estou até hoje. Eles me visitam com frequência e também vou visitá-los”.



“O silêncio é um grande auxílio para quem, como eu, está em busca da verdade.”, é a frase escrita na parede rosa do quarto 25 e no semblante sereno do pai, avô, escritor e estudioso das melhores artes da vida, Roberto Maia.

Série Lar Torres de Melo

Nesta quinta-feira, 29, a série traz a história de Valderez de Castro Ramos e Maria Jovelina Alves da Silva, patroa e empregada doméstica que se reencontraram por acaso, e que hoje dividem o mesmo quarto no Lar Torres de Melo. 

 

 

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