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Com futuro incerto no STF, vaqueiros defendem vaquejada: 'há grande preconceito'

Sem previsão de retomada da votação no Supremo, O POVO Online procurou a comunidade vaqueirama do Estado para saber como ela tem acompanhado o julgamento
17:51 | Jun. 08, 2016
Autor Lucas Mota
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Lucas Mota Repórter na editoria de Esportes
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Tipo Notícia
A comunidade vaqueirama do Ceará está apreensiva com o julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF) da constitucionalidade da lei que regulamenta a vaquejada no Estado. Com o pedido de vista do ministro Dias Toffolli, a votação que decidirá o futuro da prática foi suspensa pela segunda vez e terminou empatada em 4 a 4, faltando apenas os votos de três ministros.

Sem previsão de retomada da sessão, O POVO Online procurou vaqueiros, promotores e diretores de associações ligados a vaquejadas no Estado para saber como eles têm acompanhado o julgamento. Para Luzardo Girão, presidente da Associação dos Vaqueiros e Criadores de Morada Nova, a mais antiga do segmento no país, há muito preconceito e desconhecimento sobre a prática, e que os próprios ministros do STF não possuem conhecimento adequado sobre a prática.

"O que acontece é que há grande preconceito e pessoas mal informadas sobre o esporte. Estão fazendo uma votação sem ter uma ideia do que é a vaquejada. É tanto que pediram vista do processo, pois eles precisam de embasamento maior", disse Girão.

O grupo ligado à vaquejada a defende como prática desportiva e cultural e ressalta a importância econômica. "É preciso valorizar a tradição, a vaquejada tem identidade brasileira. As pessoas precisam ter noção, antes de fazer julgamento. Não tem economista no mundo que faça essa conta (do que é gerado em eventos de vaquejada)", afirmou Luzardo.

O promotor da Vaquejada do Parque Aras Martins, em Tabuleiro do Norte, Neto Martins, reforça o fator econômico que envolve os eventos. Ele afirma que diversos profissionais são beneficiados, desde o vaqueiro ao vendedor ambulante, e que a renda acaba girando nas regiões onde são realizadas vaquejadas. "Movimenta o comércio, gera renda de tudo. Para vaquejadas que acontecem em dois ou três dias, estima-se um público rotativo em torno de 80 a 100 mil pessoas. Há prêmios que variam de R$ 30 mil a R$ 300 mil. Normalmente, fazemos de R$ 5 mil a R$ 10 mil. A vaquejada é milionária, animais chegam a ser vendidos por R$ 400 mil", relatou.

Maus tratos
Uma das críticas mais frequentes aos eventos de vaquejada é sobre os maus tratos dos animais envolvidos. A comunidade vaqueirama defende que houve uma evolução da prática e que o esporte tem passado por adequações até para preservar o boi. Uma das melhorias citadas pelo grupo é a calda artificial para o gado e o cuidado com o tratamento da areia onde o bicho será derrubado.

De acordo com diretor da Associação dos Vaqueiros Amadores de Limoeiro do Norte, Henrique Borba, os maus tratos já foram bastante reduzidos no esporte. "Concordados com tudo em relação a preservar os animais. Reduzimos muito a escora, já estão fazendo caldas artificiais. Tem muita coisa pior", argumentou ele.

Neto Martins concorda que há maus tratos no meio, mas acredita que adequações têm sido feitas para melhorar o esporte. "Já existem eventos em que a calda artificial é obrigatória. A pista é forrada com uma areia tratada, bem fofa, para quando o boi, o cavalo ou o vaqueiro cair (a queda ser amenizada). O dano mais comum é a calda do boi, se colocar a cada artificial vai anular os maus tratos". Nos eventos de Martins, ele garante que o gado vive sobre condições ideais, com boa alimentação, e que utiliza um esquema de rodízio, assim nenhum animal corre mais de uma vez por dia.

O vaqueiro Louro Façanha acha pouco provável que a vaquejada seja proibida. Segundo o praticante, os defensores dos direitos de animais perseguem a prática desportiva. "Tem pessoa que maltrata. Teria que ser preso quem fosse pego batendo em cavalo, deixando com fome. Os defensores de animais só visam à vaquejada. Cadê que eles vão atrás de animais que morrem de fome e de sede (no sertão)?. Só porque é vaquejada, eles querem aparecer", comentou Façanha.

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