Falta de linhas vai limitar geração de Belo Monte
A restrição técnica, conforme apurou o Estado, foi oficialmente comunicada pela concessionária Norte Energia, dona de Belo Monte, ao Ministério de Minas e Energia (MME), ao Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) e à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
Com seis turbinas da casa de força principal já em operação, além de seis máquinas de menor porte da casa de força complementar, a usina atingiu potência de 3.899 megawatts (MW) - o limite que a rede atual de transmissão consegue suportar. Acima disso, essa malha, que foi improvisada para distribuir a energia da usina, não aguentaria. Ocorre que, entre setembro e dezembro, mais duas máquinas de 611 MW cada entrarão em operação, energia adicional suficiente para atender mais de 2,1 milhões de pessoas. Sem linha, essas turbinas terão de ficar desligadas.
O governo alega que, com o período seco na região e a baixa vazão do Rio Xingu nesta época, o acionamento de Belo Monte já seria reduzido, independentemente das máquinas à disposição. Em novembro, porém, com o início do período chuvoso, seria hora de operar a plena carga, o que agora está em xeque.
Não bastasse o prejuízo operacional que a falta de transmissão pode produzir - a geração hidrelétrica reduziria a dependência do uso de usinas térmicas, mais caras e poluentes -, há a possibilidade de que o consumidor brasileiro tenha de pagar por uma geração que não usou, já que Belo Monte tem direito a ser remunerada, porque não tem nada a ver com o atraso das linhas de transmissão.
O plano de distribuição de energia de Belo Monte se apoia na construção de três novas linhas. A primeira, conhecida como "linhão pré-Belo Monte", teve seu contrato assinado com a espanhola Abengoa em fevereiro de 2013. Previa-se que essa rede de 1.854 km de extensão ficasse pronta em fevereiro de 2016. Seria a malha de estreia da hidrelétrica, afinada com o cronograma das 18 máquinas de 611 MW da usina. Essa rede levaria a carga inicial de Belo Monte para o Nordeste; outras duas linhas de 2,1 mil km cada, que seguem para o Sudeste, entrariam em operação em março de 2018 e dezembro de 2019. O projeto da Abengoa, no entanto, naufragou com a crise financeira da empresa. Nada foi feito.
Desde o ano passado, o governo tem improvisado a entrega da energia de Belo Monte com redes locais de transmissão que chegam ao Sistema Interligado Nacional (SIN).
Ao jornal "O Estado de S. Paulo", o diretor-geral do ONS, Luiz Eduardo Barata, disse que o governo está empenhado em adiantar o cronograma da linha que segue até São Paulo. O plano é apertar o passo nas obras da concessionária Belo Monte Transmissora de Energia, para tentar ligar a linha liderada pela chinesa State Grid em dezembro. "Acreditamos que seja viável essa antecipação. Assim, teríamos o aproveitamento de todas as máquinas de Belo Monte sem problemas, já no período chuvoso."
A estratégia foi confirmada pelo MME. "Em função do período seco, até o mês de dezembro, somente haverá disponibilidade hídrica para geração em até seis unidades geradoras", declarou o ministério. "Com a antecipação do sistema de transmissão e com a previsão das afluências à Hidrelétrica de Belo Monte, não se vislumbra, até dezembro de 2017, restrição de escoamento da geração disponível na usina, mesmo com a entrada em operação de unidade geradoras adicionais."
Por nota, a Norte Energia declarou que, "de acordo com a legislação que rege o setor, qualquer unidade geradora conectada ao SIN assegura receita ao empreendedor, independentemente de questões referentes à transmissão da energia".
Os problemas só não são maiores porque a hidrelétrica atrasou seu cronograma. Belo Monte deveria estar com nove turbinas de grande porte em operação, em vez de seis. A conclusão da hidrelétrica, prevista para janeiro de 2019, foi reprogramada para janeiro de 2020.