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Déficit surpreende com menor remessa de lucros e dividendos, dizem analistas

15:30 | 25/10/2016
As menores remessas de lucros e dividendos ao exterior explicam o desvio entre as projeções de analistas do mercado para o déficit em conta corrente de setembro e o resultado efetivo, avaliam economistas ouvidos pelo Broadcast, serviço de notícias em tempo real do Grupo Estado. Um deles ressalta também que os dados do mês indicam uma acomodação do saldo em relação ao PIB em nível inferior ao observado nos últimos dois anos.

A maioria dos analistas consultados pelo Projeções Broadcast esperava déficit superior a US$ 1 bilhão. O saldo negativo, no entanto, ficou em US$ 465 milhões. "Olhando os números e comparando-os com os meus, a diferença ficou concentrada nas remessas de lucros e dividendos, que acabaram sendo menores do que projetei. Além disso, o montante pago em juros também ficou abaixo do que o cronograma de juros do Banco Central apontava", justificou o economista-chefe do chinês Haitong Banco de Investimentos do Brasil, Jankiel Santos, que aguardava déficit de US$ 1,4 bilhão.

Em setembro, as remessas de lucros e dividendos somaram US$ 899 milhões, bem abaixo dos resultados de julho (US$ 1,639 bilhão) e agosto (US$ 1,767 bilhão). "Essa é a conta que mais costuma oscilar", explicou o economista Lívio Ribeiro, lembrando que, em julho e agosto, muitas empresas aproveitaram o dólar mais baixo para enviar recursos a suas matrizes no exterior.

Dessa vez, mesmo com o dólar ainda em queda, algumas questões associadas a cada empresa podem ter freado o envio de mais lucros e dividendos ao exterior, acredita Ribeiro. "Uma empresa pode ter aproveitado que o dólar estava mais barato (em julho e agosto) e, agora, achou que era melhor segurar o envio de novos recursos porque avaliou que o dólar cairá ainda mais", citou como exemplo. "Outra lógica é que o lucro pode estar ficando mais estrangulado", disse.

Santos, do Haitong, diz que a tendência é que, com a recessão, as empresas estariam faturando menos no Brasil. Ele ponderou, no entanto, que a crise já vem afetando as receitas das empresas já há muito tempo.

Ribeiro, da FGV, reconhece que o déficit em conta corrente tem ficado menor a cada mês, mas ressalta que o ritmo de redução já foi mais intenso. Para ele, o ritmo de redução tem sido mais lento porque o real está mais valorizado e porque a diferença de crescimento entre a economia brasileira e o comércio internacional tem ficado menor. "A velocidade de piora do comércio internacional é menor do que a velocidade de melhora da absorção doméstica", disse. Segundo Ribeiro, a previsão do Ibre/FGV para o ano inteiro ainda é de déficit de US$ 16 bilhões.

Com o déficit menor, a proporção em relação ao PIB também cai, destaca o economista Bruno Lavieri, da 4E Consultoria. Ele lembra que, nos últimos dois anos, o saldo negativo do setor externo marcou 3% e 4% do PIB, respectivamente. Para este ano, a sua estimativa é de um déficit entre US$ 17 bilhões e US$ 18 bilhões, que representaria cerca de 1% do PIB.

Para Lavieri, a redução do déficit em relação aos anos anteriores se deve a uma leve recuperação da economia e à valorização recente do câmbio. Segundo ele, a tendência para os próximos meses é que o saldo negativo continue caindo até o final do ano, com a atividade recuperando-se em ritmo lento. Para 2017, com a retomada mais consistente da economia, a trajetória deve mudar e o déficit deve voltar a aumentar, aposta economista.

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