Déficit surpreende com menor remessa de lucros e dividendos, dizem analistas
A maioria dos analistas consultados pelo Projeções Broadcast esperava déficit superior a US$ 1 bilhão. O saldo negativo, no entanto, ficou em US$ 465 milhões. "Olhando os números e comparando-os com os meus, a diferença ficou concentrada nas remessas de lucros e dividendos, que acabaram sendo menores do que projetei. Além disso, o montante pago em juros também ficou abaixo do que o cronograma de juros do Banco Central apontava", justificou o economista-chefe do chinês Haitong Banco de Investimentos do Brasil, Jankiel Santos, que aguardava déficit de US$ 1,4 bilhão.
Em setembro, as remessas de lucros e dividendos somaram US$ 899 milhões, bem abaixo dos resultados de julho (US$ 1,639 bilhão) e agosto (US$ 1,767 bilhão). "Essa é a conta que mais costuma oscilar", explicou o economista Lívio Ribeiro, lembrando que, em julho e agosto, muitas empresas aproveitaram o dólar mais baixo para enviar recursos a suas matrizes no exterior.
Dessa vez, mesmo com o dólar ainda em queda, algumas questões associadas a cada empresa podem ter freado o envio de mais lucros e dividendos ao exterior, acredita Ribeiro. "Uma empresa pode ter aproveitado que o dólar estava mais barato (em julho e agosto) e, agora, achou que era melhor segurar o envio de novos recursos porque avaliou que o dólar cairá ainda mais", citou como exemplo. "Outra lógica é que o lucro pode estar ficando mais estrangulado", disse.
Santos, do Haitong, diz que a tendência é que, com a recessão, as empresas estariam faturando menos no Brasil. Ele ponderou, no entanto, que a crise já vem afetando as receitas das empresas já há muito tempo.
Ribeiro, da FGV, reconhece que o déficit em conta corrente tem ficado menor a cada mês, mas ressalta que o ritmo de redução já foi mais intenso. Para ele, o ritmo de redução tem sido mais lento porque o real está mais valorizado e porque a diferença de crescimento entre a economia brasileira e o comércio internacional tem ficado menor. "A velocidade de piora do comércio internacional é menor do que a velocidade de melhora da absorção doméstica", disse. Segundo Ribeiro, a previsão do Ibre/FGV para o ano inteiro ainda é de déficit de US$ 16 bilhões.
Com o déficit menor, a proporção em relação ao PIB também cai, destaca o economista Bruno Lavieri, da 4E Consultoria. Ele lembra que, nos últimos dois anos, o saldo negativo do setor externo marcou 3% e 4% do PIB, respectivamente. Para este ano, a sua estimativa é de um déficit entre US$ 17 bilhões e US$ 18 bilhões, que representaria cerca de 1% do PIB.
Para Lavieri, a redução do déficit em relação aos anos anteriores se deve a uma leve recuperação da economia e à valorização recente do câmbio. Segundo ele, a tendência para os próximos meses é que o saldo negativo continue caindo até o final do ano, com a atividade recuperando-se em ritmo lento. Para 2017, com a retomada mais consistente da economia, a trajetória deve mudar e o déficit deve voltar a aumentar, aposta economista.