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Jardineiro do Palácio transforma canteiro central em galeria
Vida & Arte

Jardineiro do Palácio transforma canteiro central em galeria

Esculturas do jardineiro Eduardo Ângelo seguem atraindo os olhares de quem passa defronte ao Palácio da Abolição. Acervo do artesão cearense ganhou dezenas de novas peças nos últimos meses
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Em meio ao barulho intenso do trânsito e do vai-e-vem de gente em todas as direções, um recanto da avenida Barão de Studart, no bairro Meireles, abre uma brecha para, digamos, outra dimensão. No universo particular de Luís Eduardo Ângelo da Silva, 52, há espaço para bichos diversos, seres que remetem ao sertão e outros personagens, cuidadosamente confeccionados - em sua maioria - a partir de uma única matéria-prima: a carnaúba.


Jardineiro do Palácio da Abolição há cerca de 20 anos, é no canteiro central situado em frente ao prédio que Eduardo deixa a imaginação fluir e oferece aos passantes sua exposição a céu aberto. Natural da cidade de Pentecoste (a 100 quilômetros da Capital) e vindo de uma família de cinco irmãos, sendo três homens e duas mulheres, é da figura da mãe que ele credita ter herdado o seu dom.


“Minha mãe era artesã, fazia panela de barro, bolsa de palha, essas coisas... Faleceu tem uns dois anos, com 90 anos”, conta Eduardo que, diariamente, chega ao trabalho às 5h30min - o horário do expediente oficial só é contabilizado a partir das 7 horas - com o mesmo objetivo em mente: ir à caça de material para mais uma escultura. “Isso eu faço como hobby mesmo. Chego aqui cedo e já vejo tudo que é reciclagem e que, à primeira vista, iria para o lixo”, explica. Atualmente, Eduardo soma cerca de 80 peças expostas.


Residente no bairro Papicu, o jardineiro artista - casado há 26 anos e pai de uma filha - chegou em Fortaleza ainda na juventude. Com a cara e a coragem. “Meus irmãos ainda estão todos espalhados pelo interior. Tá com uns 32 anos que eu tô aqui, meti as caras sozinho mesmo, com um saco embaixo do braço (risos)”, relembra. E a filha, também traz essa genética do pai? “Que nada... Ela só entende é dessas coisas que eu não entendo, que é de informática! Eu ainda sou um ‘cabôco’ do mato”, ri-se.


Antes do ofício de jardineiro, porém, já fez de um tudo. “Já trabalhei como vigia, em lanchonete, como servente... E lá na minha cidade, era na base da enxada mesmo, capinando, pegando madeira no roçado e fazendo carvão”, conta ele.


As obras

A inspiração, revela ele, é resultado de toda essa vivência de um sertanejo que sabe, como tantos, o real significado do que é a seca. “Faço o que vem na minha imaginação. Então têm pescador, mulher com criança, animalzinho, um boneco com uma câmera como se fosse repórter, jumento... Eu boto na mente e faço de improviso”, explica Eduardo. E a lembrança da primeira escultura é ainda bastante presente.

 

“Quando eu fiz, ainda estava (trabalhando) lá no Palácio Iracema (Centro Administrativo Bárbara de Alencar, bairro Edson Queiroz). Me lembro que tava na hora do almoço, quando vi um galho de mangueira derrubado. Fiz um índio”, resumiu. Daquele começo para cá, Eduardo ampliou seu leque de materiais: as talas da carnaúba dividem o espaço agora com outros tantos, como plásticos, metais, retalhos de tecido e até restos de tapete. No Palácio da Abolição, ele permanece todos os dias até as 16 horas.


Apesar de nunca ter exposto seus trabalhos de forma profissional, Eduardo ainda consegue vender algumas peças, principalmente quando chega a época do Natal. “Elas são bem vistas pelos turistas, né, e eu também faço presépios, então consigo vender”. O artista da Barão de Studart também sinaliza um interesse em terminar seus dias vivendo só de seu hobby. “Meu tempo é muito curto, mas faltam cinco anos pra eu me aposentar. Vou poder me dedicar mais, fazer um acabamento melhor com facão, martelo, essas coisas... Mas tem que ter incentivo, né?”, manda o recado.

 

Sugestão do leitor


Esta matéria foi sugerida pelo leitor Júlio César Coelho


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