Logo O POVO+
200 anos após a morte de Jane Austen, sua obra segue atual
Vida & Arte

200 anos após a morte de Jane Austen, sua obra segue atual

Edição Impressa
Tipo Notícia Por
NULL (Foto: )
Foto: NULL
[FOTO1]

Com passeios em sua Hampshire natal, exposições e, inclusive, uma nota com seu retrato, a Inglaterra homenageia a romancista Jane Austen, que, 200 anos depois de sua morte, é um ícone da literatura que transcende fronteiras.


Quando faleceu, em 18 de julho de 1817, aos 41 anos, já começava a ser reconhecida e hoje é uma das autoras preferidas dos britânicos.


Seus seis romances já venderam milhões e suas tramas, que dissecam a pequena nobreza provincial do início do século XIX, inspiraram centenas de adaptações.


“No teatro é Shakespeare e, no romance, Jane Austen”, proclama a escritora francesa Catherine Rihoit, que prepara uma biografia e destaca o fato de como a autora inglesa consegue atingir leitores de países tão distantes e culturas tão diferentes.


Virginia Woolf também destacou a genialidade de Austen, assim como Vladimir Nabokov.


Cada um tem seu romance favorito, apesar de Orgulho e Preconceito ser alvo de um culto particular e ter produzido adaptações de todos os tipos, do cinema indiano ao estilo Bollywood (Noiva e Preconceito), passando pelo gênero fantástico (a minissérie Lost in Austen) até o terror (Orgulho e Preconceito Zumbi).


A personagem vivida por Renée Zellweger, Bridget Jones, também é inspirada em Lizzie Bennet, a heroína austeniana que prefere se casar por amor e não por dinheiro.


Outro filme que brinca com a questão do amor e das aparências e males-entendidos é Mensagem para Você, em que Orgulho e Preconceito é explicitamente citado.


Mais um sucesso inspirado em um livro de Austen é Patricinhas de Beverly Hills, que traz para um contexto supermoderno e igualmente crítico o romance Emma, a história de uma adolescente de natureza independente, mas com pendores casamenteiros.


Em O Clube de Leitura de Jane Austen (2007), a vida dos personagens se misturam com as tramas de Austen. E até a autora da saga Crepúsculo se declarou apaixonada pela autora e produziu Austenland (2013), um mergulho no universo austeniano.


Feminista

A trama de seus livros, entre bailes, chistes em torno de uma xícara de chá e busca de casamentos convenientes para jovens mal saídas da adolescência, levou alguns críticos a injustamente comparar Austen com Barbara Cartland, a rainha do romance açucarado britânico.

 

“É muito mais que isso”, assegura Louise West, curadora da exposição, que tenta dar uma nova luz à vida desta mulher sobre a qual pouco se sabe, depois que sua irmã, Casandra, destruiu quase toda sua correspondência.


Outra curadora da mostra, Kathryn Sutherland, professora de literatura na Universidade de Oxford, destaca que, além da visão de uma Inglaterra idealizada, com suas lindas mansões e campina verde, Austen se mostra “uma escritora que fala de ética, de responsabilidade social em uma sociedade de classes”, com as guerras napoleônicas e a conquista dos mares como pano de fundo.


Austen também ilumina de maneira precisa as relações humanas e a condição das mulheres, cujo único futuro repousava no casamento.


“Ela tinha um conhecimento arguto da situação desesperada das mulheres, de sua dependência econômica dos homens e isso a frustrava”, diz Kathryn Sutherland, que a considera uma verdadeira feminista.


Uma das adaptações mais recentes de Orgulho e Preconceito, de 2005, mostra uma Elizabeth Bennet (vivida por Keira Knightley, indicada ao Oscar de melhor atriz por sua interpretação) ainda mais independente ante sua atração pelo sr. Darcy, o grande galã de Austen, neste filme interpretado com mais sensibilidade do que arrogância por Matthew McFadden.


O casamento é uma forma de escapar da pobreza, apesar de não para Austen, que permaneceu solteira, apesar de ter sido pedida em casamento.


Um filme de 2007, Amor e Inocência, especula a respeito desse episódio na vida da autora. Anne Hathaway vive Jane Austen, que se enamora de um advogado e é pedida por ele em casamento.


Filha de um pastor anglicano, viveu toda a vida no limite da pobreza. “Sempre tinha que calcular as finanças, fingir estar bem de situação”, explica Catherine Rihoit. Por isso se pôs a escrever livros, para ganhar a vida.


O manuscrito de Razão e sensibilidade foi finalmente aceito por um editor em 1811, depois de várias tentativas infrutíferas.


“Infelizmente, morreu quando o sucesso e o dinheiro começaram a chegar”, constata Rihoit, autora de uma biografia da autora.


O túmulo de Jane Austen, na Catedral de Winchester, ou as casas onde morou em Chawton, ao norte, em Bath, ou na região de Somerset, atraem anualmente milhares de admiradores que seguem os passos de seus personagens ou buscam indícios sobre a personalidade da autora.


No entanto, mesmo seu rosto continua sendo um enigma, destaca Kathryn Sutherland, que pela primeira vez reuniu em um mesmo lugar os poucos retratos que supostamente são da autora.


As certezas a respeito da eterna Jane Austen são tantas que deixam abertas as portas para a imaginação. (AFP)

 

O que você achou desse conteúdo?