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Corra!, de Jordan Peele, estreia hoje nos cinemas brasileiros
Vida & Arte

Corra!, de Jordan Peele, estreia hoje nos cinemas brasileiros

Fenômeno de crítica e público nos EUA, Corra!, de Jordan Peele, estreia hoje nos cinemas brasileiros. Filme aposta no equilíbrio entre horror, comédia e drama social em obra de relevância surpreendente
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Como todo terror na vida real, o longa Corra!, de Jordan Peele, começa de forma banal. O jovem fotógrafo Chris (Daniel Kaluuya) viaja para conhecer a família da namorada Rose (Allison Williams). Após um acidente no caminho, algo que soa quase como premonição, Chris chega ao seio de uma família rica e perfeita e amável. E branca. À exceção dos funcionários do casarão, o fotógrafo é a única pessoa negra em uma realidade que, simplesmente, parece não se encaixar.


No ano em que o espetacular Moonlight – Sob a Luz do Luar, de Barry Jenkins, chocou o mundo vencendo o Oscar de melhor filme ao contar a história de um menino negro, pobre e homossexual, Corra! escancara a tensão social entre caucasianos e afrodescendentes de forma alegórica e poderosa. O horror contido nos 104 minutos de filme tem foco apenas no racismo, na forma diferente com que o preconceito faz com que uma pessoa trate a outra. Conhecido como comediante e estreando na direção, o roteirista Jordan Peele é cirúrgico ao plantar um personagem externo em um ambiente hegemônico. Chris, negro, em meio às imposições pequeno-burguesas brancas.


Números

Tratando um tema delicado de forma alegórica, Corra! conseguiu um feito raro, ainda mais entre obras de horror. Atualmente, o filme tem 99% da aprovação da crítica internacional, medida pelo site Rotten Tomatoes. Mais do que agradar a crítica, a obra virou fenômeno de público. Só nos Estados Unidos foram mais de US$ 170 milhões arrecadados.

 

Com 20 milhões de ingressos vendidos, Corra! já é o filme de horror norte-americano mais assistido desde 2007, quando Eu Sou a Lenda vendeu 29 milhões de entradas. Ressalte-se que a superprodução estrelada por Will Smith teve orçamento de US$ 150 milhões e censura 13 anos, enquanto o filme de Jordan Peele investiu US$ 4,5 milhões para uma classificação indicativa restrita (18 anos).


Qualidades

Chris é um personagem tridimensional, complexo, e que enfrenta a provação de ser tratado de forma “diferenciada” de maneira honesta. De um lado, temos o paranoico Rod (LilRel Howery), agente de segurança de aeroporto e melhor amigo de Chris. Alívio cômico do filme, ele dificilmente seria levado a sério ao aconselhar o parceiro a não viajar para conhecer a família branca da namorada branca.

 

A forma como a comédia é tangida até virar horror é o ponto central, dominante da trama. Em um primeiro momento, há uma simpatia forçada dos personagens, uma tentativa de se aproximar. É como o menino branco que começa a usar gíria do gueto para disfarçar que tem medo de um assalto. Peele extrapola a noção de tensão social já na sequência inicial, em que um homem negro surge intimidado ao se ver em meio a um bairro suburbano branco. A ironia está aí. É o racismo funcionando como via de mão dupla.


Apesar de pesar a mão na trilha musical e apostar em alguns “jump scares” (susto de pular da cadeira) desnecessários, Corra! é, tudo ao mesmo tempo, drama social pungente, horror aterrorizante e comédia satírica. O longa tem uma eficiência ímpar em expor uma tensão racial que vem resultando em formas diversas para o cinema mundial. Na veia da comédia, por exemplo, tivemos o longa Cara Gente Branca (2014), que rendeu a série homônima da Netflix em 2017. Na parte documental, dois filmes indicados ao Oscar: Eu Não Sou Seu Negro e A 13ª Emenda. Corra! pode até não ser o melhor entre essas obras. Mas, certamente, é o mais original.


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