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Escritor português Valter Hugo Mãe visita tribo Anacé, em Caucaia
Vida & Arte

Escritor português Valter Hugo Mãe visita tribo Anacé, em Caucaia

Principal nome da XII Bienal Internacional do Livro do Ceará, o escritor português Valter Hugo Mãe visitou a tribo Anacé, em Caucaia, durante a tarde de ontem
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Certamente o escritor português Valter Hugo Mãe esperava encontrar leitores e admiradores durante a passagem pela XII Bienal Internacional do Livro do Ceará. O insuspeitado foi que, para além destes, que lotaram as palestras do escritor no Centro de Eventos do Ceará nos últimos dias, ele teria contato tão marcante e carinhoso quanto com gente que mal sabia quem ele é ou quais livros escrevera.

[SAIBAMAIS]

Ontem, em programação da Bienal Fora da Bienal, Valter Hugo Mãe foi até a tribo dos índios Anacés, em Caucaia. “É muito simbólico que um português esteja aqui. Meu povo veio para confundir, atrapalhar vocês, os índios, o povo original”, disse. Foi recebido com presentes, cartazes de boas-vindas e músicas cujas letras pediam para que Deus e divindades da natureza o protegessem. “É muito tocante ser recebido de braços abertos, com tanta generosidade, por essa gente que foi dizimada pela minha gente”. O cacique da tribo, Antônio Anacé, entre sorrisos, respondeu ao autor que todos os povos são necessários uns aos outros.


Valter Hugo Mãe tinha olhar atento às histórias que os índios o relatavam. Ouviu sobre a luta da tribo pela posse da terra e a resistência em permanecer no local a despeito das investidas do poder privado e do agronegócio. “A terra do brasileiro sempre foi indígena. Não tem dono. Terra é coisa bonita que Deus deu, ninguém compra”, disse o cacique Antônio Anacé, que além da história do seu povo, contou ao português que escrevia poemas apesar de se dizer analfabeto. “Mas eu escrevo coisas pequenas. Me contaram que você escreve coisas grandes, muito bonitas”, riu-se.


O escritor traçou um paralelo entre os romances que produz e o encontro com os índios. “Meus personagens são sempre vulneráveis, não protagonizam o poder do mundo. Estar aqui é encontrar a literatura na vida real”.

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Valter Hugo Mãe disse estar disposto a abraçar a causa dos índios. “Sou apenas um escritor, e isso é muito pouco diante da grandeza da vossa causa, do vosso povo, da vossa questão”.


Na plateia estavam cerca de cem pessoas. Um dos presentes identificou-se como membro do Ministério Público, pediu perdão aos índios pelas invasões de terra e disse que faria o possível para atender as demandas dos Anacés. “Se você fizer isso terá minha amizade. O poder que nos interessa ter é o poder de ser gostado e gostar. Tudo o mais, posses de coisas, principalmente, não tem importância diante disso”, disse Valter Hugo Mãe ao promotor. O escritor classificou o momento com a tribo indígena como “uma experiência muito forte” e disse que certamente um índio brasileiro será personagem do romance que pretende escrever.


Ao fim do encontro, o escritor contou que pretende lançar um livro sobre o Brasil e será impossível não inserir no enredo o encontro com a tribo Anacé. “Desperdiçar a sabedoria deles seria uma tolice. Levo comigo a solidariedade deles e a vontade de protestar”, afirmou.


BASTIDORES


O encontro com os índios Anacés ocorreu em Caucaia, na Região Metropolitana de Fortaleza.


Durante o trajeto, Valter Hugo Mãe divertiu-se com a equipe de apoio da Bienal e os jornalistas que estavam na van que levava todos até o local onde a tribo mora. Inclusive, cantou músicas de Cartola. “Igual ao Cartola pode haver na cultura de vocês. Mas melhor que ele não tem”, disse o escritor ao fim da cantoria.

 

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SERVIÇO

 

XII Bienal Internacional do Livro do Ceará

Quando: até domingo, 23

Onde: Centro de Eventos do Ceará (avenida Washington Soares, 999)

Entrada gratuita.

Veja a programação completa:

bienaldolivro.cultura.ce.gov.br

 

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