Logo O POVO+
Punho de Ferro é golpe baixo nos espectadores
Vida & Arte

Punho de Ferro é golpe baixo nos espectadores

Preparando o terreno para a futura série Defensores, Punho de Ferro decepciona na primeira temporada
Edição Impressa
Tipo Notícia
NULL (Foto: )
Foto: NULL
[FOTO1]

Hamlet Oliveira

Especal Para O POVO

vidaearte@opovo.com.br


Com planos ambiciosos de formar uma das principais equipes da Marvel no mundo das séries, a Netflix surpreendeu a todos quando, em 2015, lançou a primeira temporada de Demolidor. Com um tom sério pouco visto em produções semelhantes - como Arrow e Flash -a série foi sucesso instantâneo, recebendo uma segunda temporada em 2016 e antecipando o lançamento das outras histórias dos futuros companheiros de Matt Murdock, os heróis Jessica Jones, Luke Cage e Punho de Ferro. Juntos, eles compõem a equipe dos Defensores, cuja série própria está marcada para estrear próximo semestre.


Enquanto Jessica Jones trouxe uma protagonista vítima de abuso e abriu diálogo sobre o assunto, Luke Cage, ainda que com ritmo arrastado, conseguiu abordar temas como racismo e violência policial com negros nos Estados Unidos. Punho de Ferro chega sem dialogar com tema algum, pois sua história já é batida. Os momentos que anteciparam a série criada por Scott Buck, no entanto, não foram dos mais tranquilos. Muitos até acreditavam que ela seria cancelada, dada as inúmeras desculpas divulgadas sobre a demora pela escolha do ator que ficaria com o manto do herói. A dúvida chegou ao fim com o anúncio de Finn Jones, o Loras Tyrell de Game of Thrones.


Na trama da Netflix, Danny Rand sofre um acidente de avião junto de seus pais aos 10 anos. Único sobrevivente, o jovem é levado por monges até K’un-Lun, uma cidade mística situada em outra dimensão. Por 15 anos, Rand treina para se tornar um grande mestre de Kung Fu, o Punho de Ferro, e então retornar à Terra para combater o Tentáculo, organização criminosa que já mostrou suas intenções em Demolidor.

[QUOTE1]

Herdeiro de uma fortuna bilionária, Rand irá lutar contra o mundo corporativo para reaver o que era seu de direito. Se não parece uma trama coerente com o mundo das artes marciais, é porque não é mesmo. Muito mais focada nos irmãos Ward e Joy Meachum (Tom Pelphrey e Jessica Stroup, respectivamente), amigos de infância de Danny Rand, a primeira metade da temporada parece esquecer quem é seu protagonista, que quase nunca tem oportunidade de se desenvolver como personagem ou mostrar seu lado lutador.


Por mais que o ritmo seja melhor do que visto em Luke Cage, a falta de foco e coerência da trama logo prejudicam Punho de Ferro. Colocando Rand quase como um coadjuvante, é perceptível que o showrunner Scott Buck não soube como aproveitar os 13 episódios que tinha disponível. Não há foco no desenvolvimento da história. Personagens relevantes só são apresentados nos últimos momentos enquanto os primeiros a aparecer perdem a relevância a cada cena.


O principal exemplo é Harold Meachum (David Wenham), pai dos “amigos” de Rand. Por 12 episódios, a relevância do personagem é nula, pois serve apenas de muleta para uma fraca decadência do filho Ward e de nada serve para o desenvolvimento de Rand. Somente no último capítulo é que vemos o real propósito do personagem, em uma reviravolta cansada e previsível desde o primeiro episódio.


Chegamos, então, a Finn Jones. Considerando que o roteiro não colabora em momento algum para a construção de um personagem carismático, sua falta de talento se torna o pior aspecto da série. O jovem é incapaz de passar emoções de forma convincente, falhando até mesmo em ser engraçado nos momentos em que sua fala pede. Nem entonação de comédia ele consegue.


As cenas de luta até trazem coreografias relativamente críveis, mas extremamente medíocres. Não há criatividade nelas. Em momento algum o espectador é convencido de que Danny Rand é, de fato, extraordinário, com exceção de quando usa seu punho mágico. Em 13 horas, a única cena de luta que vale a pena ser lembrada é a de Punho de Ferro contra um mestre no estilo do bêbado, um dos mais marcantes do Kung Fu. E o responsável pelo sucesso da cena não é, claro, Finn Jones, e sim Lewis Tan, artista marcial de fato competente. Uma curiosidade: Tan fez testes para interpretar Danny Rand. Infelizmente, os fãs ficarão especulando sobre como poderia ter sido se tivesse um ator como Lewis no papel principal.


Falhando também em antecipar o lançamento de Defensores, Punho de Ferro é uma série medíocre como seu protagonista. É impossível criar empatia por Rand, sendo sempre ofuscado por seus parceiros de cena, como a ótima Jessica Henwick, que interpreta seu interesse amoroso, Colleen Wing. Por mais que o gancho final para uma eventual próxima temporada seja interessante, não há como criar boas expectativas após um primeiro ano tão fraco. Resta aguardar que os quatro heróis juntos consigam reverter o gosto ruim deixado por Punho de Ferro e haja alguma redenção para o personagem.

 

O que você achou desse conteúdo?