REPRESENTATIVIDADE
GABIS LORAN
Atriz, modelo e militante da causa trans
Bicha, preta e periférica. Quanta admiração tenho por Liniker! Numa sociedade que só pensa em nos podar e silenciar, surge alguém que assume seu gênero fluido e não liga para a opinião de um sistema padronizado que só valoriza um único arquétipo de masculino e feminino. Suas músicas me tocam em meus mais profundos sentimentos e me sinto muito empoderada enquanto mulher trans. É de suma importância que existam mais pessoas como Liniker para que possamos mostrar que existimos e que também sabemos cantar, dançar e atuar. Estamos saindo das esquinas e tomando o direito ao respeito de nossos corpos marginalizados. Liniker me representa por ir contra esse sistema e se reivindicar enquanto artista. Em um programa de TV, durante uma performance, Liniker deu um tapa na cara da família conservadora durante a música Geni e o Zepelim. “Não Joga pedra! Basta! O Brasil é o país que mais mata mulheres trans, travestis, gays e isso tem que parar! Bendita Geni!”. E é isso, chega de sermos mortas todos os dias, chega de tanto ódio sem razão. Essa é a importância que Liniker tem, a esperança de que mais pessoas possam entender nossas questões.
[SAIBAMAIS]MUSICALIDADE
LUCIANO ALMEIDA FILHO
Jornalista e crítico de música
Impossível analisar o trabalho de Liniker do ponto de vista estritamente musical. Ela integra um grupo forte de artistas surgidos nos últimos anos que têm em comum a postura de orgulho e empoderamento de sua sexualidade (gay, trans e/ou andrógina), como elemento fundamental dentro de suas composições e na relação com seu público. Neste grupo estão nomes tão diferentes quanto Johnny Hooker, Jaloo, As Bahias e a Cozinha Mineira, Pabllo Vittar, Banda Uó, Rico Dalasam, sem esquecer os representantes cearenses, como Daniel Peixoto e a banda Verônica Decide Morrer... São artistas que surgem de norte a sul do Brasil com propostas consistentes. Liniker e os Caramelows já mostraram nos dois primeiros shows em Fortaleza (no Cineteatro São Luiz) um completo domínio de palco, um carisma inabalável. Com fortes referências ao soul nacional – de Tim Maia, Cassiano, Luiz Melodia, Itamar Assumpção até chegar em Seu Jorge, por que não? -, Liniker e seus comparsas ainda explicitam influencias do r’n’b e da cultura hip hop dentro do seu caldeirão sonoro. Sua poesia é coloquial, direta, para contar histórias de amor e desencontro do cotidiano, não estritamente do universo LGBT, garantindo identificação por parte de uma plateia bem mais ampla.
PERFORMATIVIDADE
FÁBIO LIMAH
Ator e consultor de moda
Força. Eis a palavra que melhor representa a fúria de Liniker no palco. E não é uma fúria apenas de uma voz que atravessa todos os poros quando ouvida, é um (também) ataque visual furioso que, ao mesmo tempo que levanta questões, as responde. Liniker faz de seu viril corpo completa extensão de sua voz, assim como do que veste (e lhe reveste). É um punhal envolto em seda. Seu vestir por si só discursa, reafirma sua performance-estandarte: ser o que se é.
Os versos iniciais do show entoados à capela a priori intimidam. Estar em sua frente intimida. Apenas a priori... Em pouco tempo ela te ganha, te envolve, te captura em teia. Uma teia que emana a mais pura entrega, o mais puro suor, a mais pura energia. A catarse é um resultado mais que natural. Não há limites. Há meios. Meios de transcendência.. Em todas as esferas: musical, pessoal, visual... E visual leia-se uma liberdade aos olhos acostumados com a rotina. Seu hibridismo é um convite ao desaforo. Ao melhor do desaforo. Ao desaforo pensante que nos faz inquirir: ser ou não ser? Eis a questão? Não há questão. Há apenas a necessidade e a quase auto-obrigatoriedade em: sim! Ser o que se é.
SERVIÇO
Show Liniker e os Caramelows
Onde: Praça Verde do Dragão do Mar (rua Dragão do Mar, 81)
Quanto: R$ 60 (inteira).
Preço promocional: goo.gl/AaI7yb
Telefone: (85) 3033 1010