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O traço característico do Lápis de Lata ganha as ruas de Fortaleza
Vida & Arte

O traço característico do Lápis de Lata ganha as ruas de Fortaleza

Carlos Edinardo tornou-se Edy Tattoo, mas nas ruas assume a alcunha de Lápis de Lata para deixar a imaginação fluir em desenhos que exploram personagens com abordagem de denúncia social
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Nascido e criado em meio às ruas dos bairros Joaquim Távora e Dionísio Torres, Carlos Edinardo, 35, aprendeu a rabiscar como qualquer outra criança dos arredores. “Na adolescência, cheguei a pichar também. Mas foi coisa rápida, passageira. Vi que não ia trazer nada pra mim, aí fiquei nos cadernos mesmo”, relembra. De desenho em desenho, feitos de forma totalmente autodidata, aprimorou os traços e debruçou-se com afinco na arte da tatuagem, hoje em dia seu ofício principal. “Com 21 anos eu comecei a tatuar. Já tenho mais de 12 anos nessa profissão”.

[SAIBAMAIS] 

Edinardo passou a adotar o apelido de Edy Tattoo, mas não parou por aí. A profusão de ideias e possibilidades por ele criadas, de acordo com o próprio, não cabiam só nas paredes de um estúdio ou mesmo na pele de seus clientes. Havia bem mais espaço para sua criatividade aflorar. “Eu fui absorvendo informações dos clientes mesmo e senti a necessidade de mostrar o meu trabalho nas ruas”, explica ele, que também pode ser encontrado nos muros de Fortaleza pela alcunha de Lápis de Lata Graffitis.


O traço de Edy Tattoo é bem peculiar. Personagens alongados, de pé ou deitados, que denunciam situações de descaso com o outro e com o País na companhia de pequenas frases ou mesmo num simples olhar. Em outras situações, bichos e flores é que colorem as superfícies. “Eu iniciei no grafite fazendo uns palhaços. Mas, conforme eu fui estudando, vi que cada profissional tinha o seu estilo próprio e, como muita gente já fazia (palhaço), eu resolvi procurar o meu também”, explicou.

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Atualmente, a maioria dos personagem do Lápis de Lata está nua, resultado de seus novos estudos. “De um ano pra cá, comecei com essa coisa mais lúdica e disse: agora eu vou brincar com os meus personagens! É uma coisa mais artística, mas que passa uma mensagem também”. A filha especial, hoje com 10 anos, também toma um tempo precioso em suas inspirações. “Boa parte desses desenhos com um homem abrindo a cabeça é relacionado a um tumor cerebral que ela teve. Passou por cinco cirurgias, só anda com o apoio de uma pessoa do lado... Mas hoje, graças a Deus, está bem”.


Contemporâneo de nomes da área como Narcélio Grud e Grafite Luz, Edy Tattoo fez sua estreia no Concreto - Festival Internacional de Arte Urbana, em 2016, com um mural no viaduto da av. Raul Barbosa. “Desenhei um Adão com a Eva saindo da costela dele”, explica ele, que já teve alguns trabalhos apagados ao longo de sua trajetória. “Nem sempre a gente consegue o contato do proprietário”, confessa.


Quanto à polêmica envolvendo o grafite em São Paulo, Edy Tattoo tem sua opinião formada. “Eu acho que ele (prefeito João Dória Júnior) foi muito infeliz em não ter procurado se informar melhor sobre a nossa arte. Ele apagou trabalhos de artistas nacionais e internacionais, né... Talvez ele esteja querendo mostrar serviço”, afirma.


Edy Tattoo possui estúdio próprio, atualmente em reforma, que funciona no número 1214 da rua João Brígido. Das semelhanças e diferenças entre as duas artes, “tatuagem é minha profissão, e o prazer é o grafite. Levo um pouco do estilo da tatuagem para o grafite. Foram mais de 12 anos absorvendo isso tudo, aí juntou”. Quanto a ter seu trabalho/arte reconhecidos, “isso aí é fruto que eu vou colher. Tô preocupado, não, o prazer de pintar é maior do que isso tudo aí”.


 

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