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Affonso Romano de Sant'Anna completa hoje 80 anos
Vida & Arte

Affonso Romano de Sant'Anna completa hoje 80 anos

O poeta, crítico e intelectual respeitado chega hoje aos 80 anos preparando-se para o lançamento de seis obras inéditas ainda neste ano
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O poeta mineiro Affonso Romano de Sant’Anna alcança hoje a marca dos oitenta anos de vida dizendo travar diariamente um diálogo com a morte. Mas a despeito do que ouve dela como resposta, segue sua trajetória a passos firmes. Ao seu acervo de mais de 60 livros publicados, serão somadas mais seis obras inéditas, ainda este ano. Em uma delas, a coletânea de poemas A vida é um escândalo (a ser lançada pela Editora Rocco), o autor se mostra atônito diante da existência. “A vida alargou-se”, disse em entrevista ao O POVO.

 

A soma já elevada dos anos - “não esqueça que estou fazendo 80!” - não imputa a Affonso Romano uma estagnação. O poeta, crítico e um dos mais respeitados intelectuais brasileiros mantém sua produção literária constantemente ativa e conta que escreve por necessidade. “Tento entender o meu tempo. Todo mundo quer expressar coisas que pensa sobre o mistério da vida”, explica.


A larga produção do autor deixa rastros de diversidade e consistência. Apesar de ser primeiramente identificado como poeta, nunca se restringiu à poesia e flanou do ensaio à análise crítica da arte contemporânea. Escreveu também crônicas para os principais jornais brasileiros e detém um dos acervos intelectuais mais densos dentre os grandes intelectualistas brasileiros.


A rotina diária de leituras envolve prosa e poesia, arte, e até biologia. “Agora mesmo estou lendo coisas com o tema árvore da vida”, conta. Escreve com frequência e de forma aleatória. “O mundo do escritor é bem complicado”, avisa. Desapegado a tradicionalismos, Affonso Romano não despreza os livros digitais e afirma que, para além da plataforma, o mais importante é a leitura.


Casado há quase 50 anos com a também autora Marina Colasanti, ele conta que aprende com ela todos os dias. Dividiram a autoria de diversos livros, dentre eles Com Clarice, um apanhado intimista da amizade dos dois com a escritora Clarice Lispector.


Estudioso da obra do escritor Carlos Drummond de Andrade, Affonso Romano é autor da tese Drummond - o Gauche no Tempo, que rendeu-lhe o título de doutor em 1972 e foi vencedora de diversos prêmios. “Drummond merecia um Nobel”, opina. E apesar de analisar a poesia dos dois como absolutamente distintas, Affonso Romano tem em Drummond um dos seus principais influenciadores.


Bienal do Livro do Ceará

Presença constante em encontros literários Brasil afora, Affonso Romano e Marina Colasanti são dois dos 51 nomes confirmados para a Bienal Internacional do Livro do Ceará que ocorre entre os dias 14 e 23 de abril, no Centro de Eventos. Ele avalia esses ajuntamentos em redor da literatura como fundamentais para que se conheça novos autores e seja traçado um panorama da produção literária e artística atual.

 

Na entrevista a seguir, Affonso Romano lança um olhar para além do estigma da poesia como um gênero difícil de produção e acesso. “O primeiro livro que escrevi chama-se O Desemprego do poeta. Tentava explicar para mim mesmo a poesia. Olho ao redor e penso: foi-se o Moacyr Felix, o Ferreira Gullar, o João Cabral de Melo Neto. E a poesia resiste”.

 

BATE-PRONTO


O POVO- O senhor descobriu-se poeta muito jovem, aos 16 anos. De que maneira sua jornada se solidificou de lá para cá?

Affonso Romano- O poeta se reinventa permanentemente. Estou aprendendo a fazer poesia até hoje.

 

OP - Sua esposa há quase cinquenta anos, Marina Colasanti, foi sua parceira na produção e escrita das obras Imaginário a Dois, Agosto 1991: Estávamos em Moscou, Com Clarice, dentre outras. De que forma a literatura produzida por ela influencia a que o senhor produz?

Affonso - Marina não existe, é ser de outro planeta. Aprendo com ela todos os dias. Aprendo por meio da nossa convivência e afinidade almas. Fizemos vários livros juntos e faremos mais.

 

OP- Em 2011 o senhor publicou Sísifo desce a montanha, uma coletânea de poemas cujo tema central é a morte. Um dos poemas se chama Preparando a cremação, onde o senhor descreve a preparação da sua própria. Pode me falar um pouco mais sobre sua relação com a morte?

Affonso - Que bom que fez essa pergunta. Me interesso pela vida e pela morte. Andei por aí falando sobre “morte digna” porque acredito que as pessoas têm direito a isto. Não é preciso que fiquem “caindo aos pedaços” por aí. Tenho um diálogo com a morte diariamente. É necessário. Não se esqueça que estou fazendo 80.

 

OP_ O mercado da literatura passa por mudanças e modernizações. Qual sua avaliação dos livros digitais?

Affonso- Umberto Eco certa vez disse: “Não contem com o fim do livro”. Eu digo: o livro está em transformação. Veja essas modernidades, esses aplicativos virtuais que hoje são disponíveis. O que interessa é a leitura. Até mesmo os animais sabem ler o mundo. E isso sem ler os livros. 

 

Saiba mais

 

Escritos inéditos

Três editoras lançarão em breve obras inéditas de Affonso Romano de Sant’Anna: UNESP, Rocco e L&PM. A UNESP lançará três livros de ensaios que contemplam o autor enquanto crítico. Os temas são a morte da arte, a insignificância de certas obras, o sujeito na pós-modernidade, a crise do conceito político de esquerda/direita, Michel Foucault, dentre outros.

 

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