Lira Neto defende ser “despropositado” se discutir o centenário do samba. “Parto do princípio de que não faz nenhum sentido buscar quem teria sido o primeiro sambista, indagar qual foi o primeiro samba a ser gravado ou discutir se ele nasceu na Bahia ou se é mesmo carioca da gema. O samba é plural, caleidoscópico, inclusive em suas origens”, aponta o escritor e jornalista cearense que tem no currículo quatro prêmios Jabuti de Literatura e um prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte, todos na categoria biografia. Lira inicia agora trilogia sobre a história do gênero musical que marcou a “identidade nacional”. A obra Uma história do samba - As origens chega às livrarias no próximo dia 20 e já está em pré-venda.
O biógrafo costura em 368 páginas uma trajetória marcada por contradições.
“Por um lado, o samba carrega consigo a ancestralidade e a evidente marca da cultura negra. Por outro, ele foi sendo incorporado e moldado pela então nascente indústria do entretenimento, o que resultou numa progressiva domesticação dos corpos e numa consequente desafricanização”, contrapõe o pesquisador, que nesse primeiro livro vai dos primórdios da manifestação cultural chegando até o desfile inicial das escolas de samba no Rio.
“Desde que o samba é samba, é assim: ele transita entre as dimensões antagônicas da resistência e do controle social higienista, trafega nos intercursos entre a potência criadora e as engrenagens normatizadoras do mercado”, detalha. Lira, que é autor de trilogia sobre Getúlio Vargas (1882 - 1954), afirma que o discurso “civilizatório hegemônico do início do século XX”, sobretudo da chamada Era Vargas, foi o que acabou elegendo o samba como um dos emblemas de uma pretensa “identidade nacional”, sendo, então, apontado como “símbolo máximo da brasilidade”.
Para descortinar o gênero musical, o escritor mergulhou na trajetória de personagens centrais. “Poderia citar como exemplo o grande Lalu de Ouro, o extraordinário Caninha, o fundamental Zé Espinguela. Mas também esquadrinho a trajetória de gente mais conhecida como Sinhô — coroado ‘Rei do Samba’ — ou a “Santíssima Trindade’ da música brasileira: Donga, João da Baiana e Pixinguinha”, diz, antecipando que outros nomes como Noel Rosa, Almirante e Cartola também estão na obra.
“Não estou escrevendo um livro sobre música, um tratado de musicologia ou qualquer coisa parecida. Até porque não tenho formação técnica para tanto. Meu foco é nos personagens e nos processos históricos que os envolvem”, explica Lira. Ele completa: “O resultado pretendido é oferecer ao leitor um mosaico tridimensional, um jogo de contrastes e complementaridades”.
O segundo volume da trilogia versará sobre a chamada Época de Ouro, os percursos do samba entre os anos 1930 e 1945. Já o terceiro livro partirá do final da Época de Ouro e chega até os cenários atuais do gênero. As duas obras ainda não têm data de lançamento.
Serviço
Uma História do Samba, de Lira Neto
368 páginas
Companhia das Letras
Quanto: R$ 64,90
Pré-venda: goo.gl/VBUR1j
Multimídia
Leia entrevista com Lira Neto em: blog.opovo.com.br/relatosderenato