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Cearense é autor de roteiro que inspirou enredo da Beija Flor
Vida & Arte

Cearense é autor de roteiro que inspirou enredo da Beija Flor

Por trás do desfile da Beija-Flor de Nilópolis, que homenageia a personagem Iracema, existe uma outra narrativa. É a história do dramaturgo cearense Ilclemar Nunes, que há mais de 30 anos é nome certo na Sapucaí
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Nem José de Alencar nem Martim Soares Moreno. Existe outro homem que também teve a vida transformada pela mulher cujos cabelos eram mais negros que a asa da graúna. É o cearense Ilclemar Nunes, dramaturgo, ator, professor de teatro e um apaixonado por Carnaval. Ele é o responsável pelo roteiro do desfile deste ano da escola de samba Beija-flor de Nilópolis, que levará para a Sapucaí a icônica personagem Iracema. Natural de São Luiz do Curu, Ilclemar fez carreira no Rio de Janeiro e, por mais de 30 anos, foi jurado do quesito mestre-sala e porta-bandeira do desfile carioca. Neste domingo, porém, o cearense viverá a emoção de ver uma ideia sua ganhar a avenida.

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Os carros alegóricos, as alas e as fantasias nasceram de propostas da dramaturgia Iracema dos lábios de mel: o musical, escrita por Ilclemar em 1991. “Adaptei Iracema, do meu conterrâneo José de Alencar, para o teatro musical e quis transformar a peça em enredo de Carnaval”, conta o dramaturgo, destacando a alegria de poder recontar a trajetória da índia em diferentes linguagens. “Depois de feita a adaptação carnavalesca do romance, liguei pra Selminha (Sorriso), a porta-bandeira da Beija Flor, e mandei o enredo para ela, que gostou muito e mandou pro Laíla, diretor de Carnaval da escola”, lembra. Laíla se interessou pelo enredo, gostou da iniciativa do cearense e, de pronto, convocou a volta de Ilclemar para o Rio, já que desde 2001 ele se divide entre a capital carioca e a cearense, para onde volta em março próximo, quando a folia passar. Por aqui, publicou o texto do musical em 2012, entre os 20 títulos da coleção de livros Edições Theatro José de Alencar, da Secretaria da Cultura do Ceará (Secult).


Apesar de não poder antecipar muito do que será visto no próximo domingo, ele conta: “Além da beleza morena da índia, será retratada na avenida também a inocência de uma menina-moça e a descoberta de um amor por quem ela corajosamente enfrenta a própria morte. Por amor, ela se torna uma mulher valente, corajosa. Tudo isso estará na avenida”, adianta.


Segundo Ilclemar, o Ceará representado pela Beija-Flor será de paisagens exuberantes e não se aproximará da imagem da seca, normalmente associada ao Estado. “Vai aparecer na Sapucaí o Ceará da beleza das matas virgens, das cachoeiras, das lagoas e do mar. E ainda dos animais selvagens e dos índios, os donos da terra”. Apesar de tantas releituras, o dramaturgo afirma não perder de vista a obra lançada há 152 anos. “O nosso Zé de Alencar transformou o seu romance numa verdadeira ode à beleza de nossa Terra da Luz”, celebra.


Acostumado a ser júri, posto que ocupou de 1984 a 2014, o cearense agora experimenta um novo frio na barriga. “É curioso, com essa mudança repentina, eu saí da condição de ‘julgador’ pra ser ‘julgado’ pelos meus colegas da Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro (Liesa)”, conta. Sobre a possibilidade de ganhar na avenida, arrisca: “Sonhar não custa nada. De repente, a Beija-Flor vai ser a campeã com a nossa ancestral ‘tritrisavó’ Iracema, que vai bombar na passarela do samba carioca”, se diverte o homem que encontrou na folia carnavalesca sua morada há mais de três décadas.

 

PERFIL

 

Entre o palco e a avenida

Ilclemar Nunes integrou o Curso de Artes Dramáticas da Universidade Federal do Ceará (UFC), se formou no curso de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro, onde também fez pós-graduação em Artes Cênicas. Sua grande estreia profissional como ator foi em 1964, quando integrou o elenco de A Noite do Iguana, peça em que contracenou com Cacilda Becker e Walmor Chagas. O cearense foi roteirista da primeira versão do Sítio do Picapau Amarelo (TV Globo) e de diversos programas da Televisão Educativa do Rio de Janeiro (de 1962 a 2001). É autor da premiada peça Soninha Toda Pura, história que foi levado ao cinema em 1971. Entre 1984 e 2014, foi jurado na Marquês de Sapucaí. Para 2017, o artista prepara uma montagem da dramaturgia Iracema dos lábios de mel. A ideia é reunir elenco e equipe técnica cearenses, com exceção do maestro e compositor Ubirajara Cabral, que é sergipano. Já no próximo mês, Ilclemar inicia audições para buscar sua própria Iracema.


 
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