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Moana. A jornada da heroína e seu lugar no ativismo
Vida & Arte

Moana. A jornada da heroína e seu lugar no ativismo

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André Bloc

andrebloc@opovo.com.br

Todo herói parte em uma busca. Nessa procura, ele acaba encontrando a si. A pergunta-chave nessa “jornada do herói” é, portanto, “quem sou eu?”. É essa a base narrativa de algumas das histórias mais famosas do cinema e, notadamente, o alicerce da grande maioria das animações da Disney.

Moana: Um Mar de Aventuras, de Ron Clements, Don Hall, John Musker e Chris Williams, também tem essa base. A protagonista tem uma busca, se perde, se reencontra, supera percalços e lutos para descobrir quem é. A novidade é que o questionamento sobre onde Moana está é tão forte quanto sobre quem ela pode ser.

“Onde Moana está?” admite duas respostas. A primeira, mais óbvia, é na antiguidade da Polinésia Francesa. Houve um deslocamento do eurocentrismo, visto mais recentemente na Suécia pintada em Frozen (2013), para um grupo étnico diverso.

A outra resposta para “Onde está Moana?” é mais complexa, ainda que clara. Diferentemente do lugar físico, existe um lugar simbólico que a nova princesa Disney ocupa. Lembremos da trajetória da primeira de todas, a protagonista de Branca de Neve e os Sete Anões (1937). Pura, bela, ingênua, inofensiva: uma donzela em perigo. Ela é salva por um príncipe, cuja relevância para a história é mínima, mas que ainda assim pôde se impor. Naqueles tempos, as coisas só eram vistas sob este prisma. Hoje, no entanto, uma princesa Disney pode ser mais.

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Se a gente parar para pensar, Moana poderia ser um personagem masculino. Sucessor do chefe de uma vila, sem interesse romântico, destemido, obstinado. Seria mais um de tantos. Mas as moças, no cinema, parecem sempre necessitar da validação masculina. Mesmo a genial e insuperável Mulan tem a muleta de um par romântico (o capitão Li Shang). As duas têm ainda a semelhança de serem de minorias étnicas e de serem heroínas de fato. Moana é um novo degrau. Ela não prescinde de nenhum homem humano. Suas únicas ajudas são divina (Maiu) e animal (Heihei).

O lugar onde Moana está, portanto, é o do ativismo. Curioso o caminho das animações Disney, outrora comandadas por um gênio que, infelizmente, tinha sérios traços de racismo e misoginia. Hoje, o estúdio se mostra talvez o mais progressista do cinema hollywoodiano.

Voltando ao longa, Moana: Um Mar de Aventuras é previsível como toda jornada do herói. Mas por mais formulaico que seja, com humor%2bação músicas, Moana merece carinho. Pode não reinventar a roda, mas, repito, é um novo degrau na escada mais importante da discussão social na arte atualmente.

A discussão toda é sobre destino. Maiu pode ser o destaque. Ele tem força, carisma, graça. Mas a gente sempre sabe que quem vai salvar o dia será Moana. Ela se sustenta só. Assim como quem via Star Wars (1977) pela primeira vez podia amar Han Solo, no entanto, esperava pelo momento em que Luke vai se impor ao seu destino. Ainda que ela negue o título, torço que Moana vire molde para toda “princesa” que surja hoje – tanto as da Disney, quanto as do mundo real.


 
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