Estratégias de governo e oposição até votação de denúncia contra Temer
A duas semanas da votação da denúncia contra o presidente Michel Temer (PMDB), prevista para 2 de agosto, o Congresso começa o recesso. Apesar da aparente calmaria na Câmara, que só registrou 16 presenças, negociações e pressões continuam até o relatório chegar ao Plenário. A oposição precisa conseguir 342 votos dos 513 deputados. Faltas e abstenções contam a favor de Temer, que é acusado de corrupção passiva.
[SAIBAMAIS]Nas últimas duas semanas, Temer intensificou a agenda de encontros com parlamentares. Nos últimos 15 dias, ele recebeu 82 deputados, pouco menos da metade dos 172 votos que ele precisa para barrar a denúncia na Câmara. O número de reuniões aumentou na medida em que se aproximava a data de votação. Entre 1º e 18 de junho, ele recebeu 31 deputados e dez senadores.
A ofensiva de negociações pelos votos contra a denúncia contou ainda com a liberação de R$ 1 bilhão em emendas desde que a gravação da conversa do presidente com o dono da JBS, Joesley Batista, veio à tona em maio.
[QUOTE1]O Psol entrou ontem com ação na Procuradoria-Geral da República apara investigar a liberação dos recursos. “Há emendas que são piores que o soneto da mera liberação de recursos orçamentários aos deputados. Caracterizam evidente compra de votos, com consequências de obstrução à Justiça, no caso”, afirma o deputado Chico Alencar, vice-líder da sigla na Câmara.
Apesar do investimento, aliados admitem que há focos de traições nos partidos da base.“Boa parte dos partidos, como o meu, já fecharam questão. As reuniões foram anteriores à votação da CCJ”, lembra o vice-líder do governo, o deputado Domingos Neto (PSD-CE).
A estimativa é de que os dissidentes do PP, PR, PRB, PSD e PTB e PMDB, legenda do próprio Temer, cheguem a 30 traidores. Entre eles, está o deputado Vitor Valim (CE).
[QUOTE2]“Sou a favor da investigação do presidente Michel Temer. Votei contra a reforma trabalhista e sou contra a reforma da Previdência”, publicou o deputado cearense nas redes sociais.
Desafio para oposição
A oposição acredita que pode conquistar os votos desses partidos que fecharam questão contra a denúncia. Na avaliação dos oposicionistas, metade das bancadas do PSD, PP e PRB é suscetível a traição. Na contabilidade da oposição, a maioria do PSDB, do PPS e do PSB também devem caminhar para aprovar a denúncia. No PSB, por exemplo, dos 36 deputados da bancada, pelo menos 24 devem apoiar a admissão do pedido da PGR.
A expectativa é que as possíveis delações do ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e do corretor Lúcio Funaro tragam fatos novos e capazes de abalar a base governista. “Isso terá peso nas coisas”, avaliou o deputado Júlio Delgado (PSB-MG). Os oposicionistas contam também com a pressão das bases sobre os parlamentares, que estarão de férias nos próximos dias e em contato direto com o eleitorado. (com Agência Estado)
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Fatores externos
A oposição conta com fatores que estão fora do controle do governo, como o surgimento de novas delações e escândalos. Outro fator que pode pesar a favor dos opositores seria a entrega de uma nova denúncia contra Temer pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, às vésperas da votação. No entanto, para o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB), a oposição “nunca” irá conseguir a quantidade necessária de votos para admitir a denúncia.Economia
Governistas contam que a melhora em indicadores econômicos devem influenciar para que a maioria dos deputados sigam a tendência de votar para barrar a denúncia, com o argumento de que o afastamento do presidente poderia ser desinteressante para a economia.Nas ruas
Tanto movimentos mais à direita como à esquerda planejam manifestações de rua para pressionar parlamentares a aceitar a denúncia contra Temer. Até agosto, deverá haver pelo menos dois eventos de extensão nacional, segundo informações da Frente Brasil Popular e do Vem pra rua.
Isabel Filgueiras