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PGR investiga fatos ligados ao procurador Alessander Sales

2017-06-17 01:30:00
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O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, designou o procurador regional Wellington Cabral Saraiva, do Recife, para conduzir procedimento investigatório criminal sobre fatos descritos nas delações dos ex-excecutivos da Odrebchet Ariel Parente Costa e João Pacífico. Segundo os delatores, um dos beneficiários de propina nas obras da adutora do Castanhão, Marco Antônio Araripe, prestou serviço para gabinete do procurador Alessander Sales.


Engenheiro, Araripe atuou como assessor informal diversas vezes para o procurador nos últimos anos. Ele não é funcionário do Ministério Público, mas frequentou o gabinete do procurador até o início deste ano como perito.

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Sales foi o autor do pedido de abertura de inquérito administrativo para apurar fatos relacionados com o objetivo de que “não sobre qualquer dúvida sobre a correção” de seus atos. “Pedi para ele determinar isso porque a situação de dúvida ficou desconfortável para mim”, justificou.


Por meio de ofício assinado no dia 31 de maio, Sales enviou pedido formal à Procuradoria-Geral da República, único órgão que pode abrir investigações para questões relacionadas a procuradores. Sales pediu que os fatos ligados a seu gabinete fossem apurados. Em resposta, Janot publicou portaria no Diário Oficial da União de 14 de junho designando Wellington Cabral para cuidar do caso.

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Em delação, prestada ainda em 2016, Parente Costa afirmou que o procurador não sabia do acerto entre a Odebrecht e Marco Antônio Araripe.


Delação

Ainda de acordo com Parente Costa,Araripe recebia propina para evitar que a Procuradoria criasse problemas nas obras do canal que leva água do Castanhão até a Região Metropolitana de Fortaleza. Esquema teria durado de 2005 a 2012, conforme depoimento do ex-executivo. O Ministério Público Federal, por meio do procurador Rômulo Conrado, havia pedido que a parte das investigações relacionadas a Araripe fosse conduzidas pelo órgão internamente.

 

Ele também isentou o ex-governador Lúcio Alcântara e o ex-secretário falecido Edinardo Ximenes das investigações. Os pedidos, no entanto, foram negados pelo juiz federal substituto Danilo Dias Vasconcelos que determinou instauração de inquérito policial conduzido pela Polícia Federal para investigar Araripe, Lúcio e mais quatro nomes, entre eles o ex-ministro de Lula e Temer, Geddel Vieira Lima.


Em troca de 2% do valor de repasse, Geddel teria conseguido recursos do governo federal para a obra, enfatizando a importância dela. O dinheiro teria sido usado para financiar a campanha dele a governador da Bahia em 2010.


O ex-governador Lúcio Alcântara (hoje no PR, no PSDB à época) também teria recebido dinheiro ilícito pela obra que levava águas do Castanhão, no trecho III. Ele era conhecido pelo codinome “Zag”, diminutivo de “Zagueiro”. Lúcio não quis se manifestar sobre o assunto, alegando que estava se recuperando de cirurgia.


Para entender

 

Em 2005, foi aberta licitação para o trecho III, maior do Eixão das Águas, na época conhecido como Canal da Integração. Antes mesmo da publicação do certame, segundo o ex-executivo da Odrebrecht, Ariel Parente Costa, houve alterações para favorecer as empresas vencedoras. Elas também teriam negociado com outras empreiteiras para fraudar a licitação.

Então secretário de recursos hídricos de Lúcio Alcântara, Edinardo Ximenes, hoje falecido, teria selado acordo para receber 0,03% dos pagamentos recebidos pelo consórcio. Ele tinha o codinome “Bompreço”. A família de Ximenes publicou nota em defesa da honra e seriedade dele.


Mais tarde, com a troca de governo em 2007, houve mudança de secretário, mas o acordo de pagamento de propina continuou. César Pinheiro assumiu a pasta e ganhou o codinome “Pneu” na planilha da Odebrecht.


Parente Costa e João Pacífico contaram que, em 2007, o então superintendente de Obras Hídricas (Sohidra) do Ceará, Leão Montezuma Filho, teria feito chantagem para receber propina de R$ 500 mil. As defesas de César Pinheiro e Leão Montezuma esperam ter acesso ao processo para se manifestarem.

 

SAIBA MAIS

 

Araripe

O advogado do engenheiro Marco Antônio Araripe, Paulo Quezado, afirmou que ele não daria entrevista.De acordo com os delatores, ele tinha o apelido de “Beco”.

Relação com procurador

Segundo o procurador Alessander Sales, a relação entre eles era profissional e de confiança, mas não eram amigos e nunca se entraram fora do ambiente de trabalho. Ele conta ainda que manteve contato com Araripe até o começo deste ano, quando soube da delação e cortou relações. “Era um cara da minha confiança. Para mim foi um choque. Prestava um ótimo serviço. Fizemos vários estornos, recomendações que economizavam muitos recursos para o Estado”,disse o procurador.

 

Isabel Filgueiras

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