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Íntegra da entrevista com Camilo Santana
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Íntegra da entrevista com Camilo Santana

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O POVO – Criou-se uma expectativa muito grande no início deste ano quanto à sua permanência no PT. O que há de concreto nisso e qual é a situação do senhor hoje dentro do partido?
Camilo Santana – Tudo tranquilo. Próxima pergunta (risos)... Olha, diante da situação que o Brasil está passando nesses dois anos, recessão econômica, desafios, principalmente a questão hídrica, tenho focado todas as minhas energias e todo meu tempo para cuidar do Ceará, cuidar da gestão, da segurança, da educação, fazendo com que as coisas andem com mais agilidade. Tenho convite (de outros partidos), tenho, mas estou tranquilo.

OP – O senhor já foi formalmente convidado por outra legenda?
Camilo Santana – Por várias, mas haverá o momento certo para discutir isso.

OP – Então existe a possibilidade (de deixar o PT).  
Camilo Santana – Fazemos parte de um grupo, uma coligação de vários partidos, que pensa o país, pensa o município, pensa o Estado. Essa discussão pode acontecer a qualquer momento.

OP – O senhor descarta sair?
Camilo Santana – Eu não descarto nada.

OP – O PT cobra muito que o senhor deixe as coisas mais claras, se vai sair ou não. Como o senhor vê essa pressão?
Camilo – Ninguém é mais claro do que eu quanto às minhas posições. Quando o Elmano (de Freitas, deputado estadual do PT) foi candidato a prefeito e eu era secretário (das Cidades) do Cid Gomes, eu apoiei o Elmano. Desta vez, defendi o Roberto Cláudio (PDT) à reeleição. Apesar de ter respeitado o partido no primeiro turno, sempre defendi que era um erro do PT (lançar Luizianne Lins, deputada federal e ex-prefeita de Fortaleza). Mais claro do que eu... Qualquer decisão que tomar ou não, sempre será de forma muito franca, sincera, com muito diálogo, tanto com a população quanto com os partidos que compõem as forças que dão sustentação ao governo.

OP – Essa decisão (de eventualmente deixar o PT) leva em conta episódios como esse, de o senhor defender que o PT apoiasse o Roberto Cláudio e o partido ignorar sua decisão?
Camilo – Acho que não se pode pensar no passado, tenho que pensar no futuro. Divergências, embates e contradições, a gente teve em várias campanhas, até na minha. Vamos pensar no futuro. Eleição é só em 2018.

OP – O senhor fala que o momento é inadequado, mas o ano que antecede as eleições é sempre movimentado. Caso mude de legenda, vai precisar de tempo para se organizar politicamente.
Camilo – Haverá o momento certo para discutir isso. Ontem mesmo recebi aqui o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT), por quem tenho o maior respeito. Foi um grande gestor. Acho que o cenário nacional vai definir muito (o quadro local). Sou simpático à candidatura do Ciro. Eu até defendo Ciro e Haddad, é minha chapa. Pra renovar.  

OP – O senhor acha que o Lula já deu?
Camilo – Tenho a maior admiração pelo Lula, mas acho que talvez seja o momento de colocar novos nomes e novos quadros na política brasileira. Acho que o Lula foi o maior presidente que esse país já teve, mas está na hora de... Eu vou defender a chapa Ciro/Haddad.

OP – O senhor se referiu ao ex-governador Ciro Gomes. Muita gente fala que o senhor é mais aliado dos Ferreira Gomes do que petista. Como o senhor vê isso? Sua identificação é realmente maior com o grupo do que com o partido?
Camilo – Eu sou o Camilo, mas nós fazemos parte de um trabalho político no Ceará. Eu tive a honra de participar desse trabalho desde que Cid foi governador. É um projeto no qual acredito, que pensa o Ceará do futuro, que investe no que, para mim, é o que há de mais importante para qualquer estado crescer, que é a educação, e o Ceará está mostrando isso. É fruto de uma política continuada, em que não há interrupção. Os resultados que estamos vendo na educação independem de partido e de ideologia. Você imaginar que, no país, nós termos as melhores escolas. Entre as 100 melhores escolas, nós temos as primeiras. Isso é fruto de uma política que começou em 2007 e está com dez anos. Metas, premiação, estímulo. Começou no terceiro ano e depois passou para o quinto ano.  Isso deve orgulhar muito o Ceará. Nós fazemos parte de um projeto que acredita nisso, acredita que é possível transformar o estado através da educação, do diálogo, não é um grupo que quer se perpetuar no poder. Pelo contrário. Dá espaço para novas lideranças surgirem no Estado.

OP – Vou insistir nesse tema. O senhor disse que não acha adequado discutir 2018 agora. Por quê?
Camilo – Não é que não seja adequado. É que o meu foco hoje é diferente. Você imaginar que a gente tem enfrentado dois anos de recessão seguidos. Acho que apenas uma vez na história do Ceará nós tivemos cinco anos de seca seguidos. Isso exige do gestor. A minha energia hoje está focada nisso, dar resposta, manter o Estado equilibrado, muita austeridade, fazer contenção de despesa, focar onde a população mais exige, saúde, segurança, educação. Isso é onde tenho gasto minha energia. Não é que eu ache que não pode discutir política. Todo momento é adequado pra discutir política.

OP – Hoje um dos seus principais adversários, Eunício Oliveira (PMDB), é presidente do Senado. Foi um passo importante para ele, que tem pretensões de disputar 2018. O senhor se sente ameaçado por essa investida?
Camilo – De forma alguma. Quem tem o poder é o povo. Vou querer muito a ajuda dele para o Ceará.

OP – O senhor pensa em não disputar 2018?
Camilo – O meu grupo deseja que eu seja candidato à reeleição. Repito: eu não quero antecipar 2018. Eu tenho procurado me dedicar muito para que o Ceará continue sendo um dos estados mais equilibrados do país, um dos estados com melhores resultados na educação, que conseguiu reduzir homicídios em dois anos, que conseguiu bater recorde de transplantes. Mesmo com todas as dificuldades.

OP – Metade do seu mandato é marcada por mudanças administrativas simbólicas e estratégicas. Uma delas é a chegada de Maia Jr., um tucano de bico grosso, como se costuma dizer, na Secretaria do Planejamento. E, na Segurança Pública, a de André Costa, um nome muito polêmico e midiático. O que essas duas mudanças representam para os próximos dois anos de governo?
Camilo – Vamos lá. Segurança. Essa é uma área à qual prometi me dedicar durante a minha campanha. É um desafio para qualquer gestor, uma área sensível. A gente tem a compreensão de que o problema da violência não se resolverá só com mais polícia. Esse é o primeiro ponto. Nós temos que trabalhar duas áreas: investir na Secretaria da Segurança Pública, que é o papel do Estado, mas trabalhar a pactuação com outros órgãos e a prevenção. Tem que ter a participação do Ministério Público, da Defensoria, os órgãos federais, a sociedade, que vive o problema no dia a dia. No comitê do “Ceará Pacífico”, liderado pela professora Izolda (Cela, também vice-governadora do Estado), onde permanentemente nós mantemos esse diálogo com vista às políticas públicas de médio e longo prazos. Então, independentemente de secretário, é uma política que envolve várias secretarias e não apenas uma. Envolve Esporte, Segurança, Cultura. Mas tem a ação direta da Segurança. Qual foi nossa primeira meta? Reduzir indicadores de homicídios, que só faziam crescer. A gente conseguiu dar uma estancada. Caiu 9,5% em 2015, no ano seguinte acho que foi 13%. Fortaleza foi o nosso foco prioritário. Reconheço que nós temos um lençol curto nessa área, quando estancava Fortaleza, subia na região norte do Estado. Nosso efetivo ainda é pequeno. Qual é a percepção que a população tem hoje de segurança?  É o assalto dentro do ônibus, na esquina. É impossível ter a polícia presente em cada esquina, em todos os cantos. Em lugar nenhum do mundo tem isso. Só tem duas formas de trabalhar isso. Ou você faz prevenção, que é o que eu defendo que o país devia fazer, colocar nossos jovens o tempo integral na escola. É uma forma de protegê-los do assédio, das drogas etc. A gente está com uma estratégia de ter mais presença da polícia, trabalhar com mais inteligência, mais parceria com a Polícia Federal. A mudança na secretaria se deu porque o Delci (Teixeira, ex-titular da SSPDS) também queria sair por um problema familiar. Tem a mãe muito doente no Rio Grande do Sul. Saiu por uma questão própria.

OP – Mas o Delci tinha perfil muito discreto. O senhor já conhecia o perfil do novo secretário?
Camilo – Eu não vou negar, não. Eu estava procurando um secretário que tivesse mais disposição de ir pra rua.

OP – A postura dele tem agradado ao senhor, então.
Camilo – É uma demonstração que o governo quer dar pra sociedade de que nós estamos agarrados com o problema. Ele não é um secretário de gabinete. Isso é bom pra tropa, pra liderar o processo.

OP – O Ceará já teve um secretário com esse mesmo perfil, o Francisco Bezerra. O senhor vê diferença?
Camilo – Totalmente diferente. O André (Costa, atual titular da SSPDS) trabalha com inteligência e cooperação com outras instituições. É jovem, tem 17 anos de Polícia Federal e Civil. É cearense. Estou muito otimista. Acho que a declaração dele foi mal interpretada (Camilo se refere à afirmação de Costa segundo a qual os bandidos têm duas opções, “justiça ou cemitério”. A declaração, dada pelo secretário durante entrevista coletiva no dia 28/1, estampou manchete do O POVO no dia 30/1 deste ano).

OP – Ou ele é que se expressou mal?
Camilo – Talvez ele tenha se expressado mal, mas também a forma como a mídia interpretou a declaração dele... 

OP – A frase é bem objetiva, governador, “justiça ou cemitério”. Não tem como interpretar diferente.
Camilo – Nós não vamos abrir mão e ceder um milímetro no combate à criminalidade no Ceará. Eu sou um árduo defensor da legalidade. A minha orientação é que tem que respeitar a legalidade.

OP – O senhor conversou com ele depois disso?
Camilo – Sim, conversei. Acho que ele está com muita vontade. É preciso apostar nele. É um cara sério, dinâmico, jovem, talentoso. Vai dar certo. Nós estamos tentando construir uma estrutura de Estado que possa dar resposta aos homicídios.

OP – O senhor falou que ele tem uma postura que agrada, que o aproxima da população...
Camilo – Eu acabei de vir de uma visita de obra. As pessoas sugerem, reclamam, elogiam, batem foto. O secretário tem que ter isso com a população, que é quem está nos bairros. Tem que ouvir as pessoas. Eu gosto do estilo dele por isso. Sempre oriento meus secretários a saírem dos gabinetes, visitarem hospital, escola, pra ver se as coisas estão funcionando, se as pessoas estão satisfeitas. Nós somos pagos pra isso, nós estamos servindo. Acho o estilo do André muito positivo. Tem muita disposição, muita vontade de ajudar o Ceará. É uma pessoa de muito diálogo. É uma sinalização que ele dá pra tropa, de liderança, de comando, e pra sociedade. Isso é bom.

OP – Quando o senhor foi eleito, a relação do governo estadual com a PM era conflagrada. Uma herança da gestão anterior, de Cid Gomes (PDT). A presença do novo secretário anula, em certo sentido, a ascendência que o deputado Capitão Wagner (PR) tem sobre a PM. A escolha de um secretário com esse perfil tinha esse cálculo político em vista?
Camilo – De forma alguma. Até porque quem procurou se aproximar da própria tropa fui eu. Quando assumi o governo, eu procurei manter uma relação de diálogo com a tropa, distensionar o que existia, fruto da tensão com o governo passado. É tanto que nós fizemos as promoções, que era uma grande reivindicação da tropa. Fiz isso no primeiro ano de governo. Foram quase nove mil policiais promovidos de uma vez só. Foi uma demonstração que eu dei de valorização. O André é uma pessoa de muito diálogo. Nós pensamos nisso na hora de fazer o convite a ele. Ele tem uma visão aberta. Acho até bom estar criando essa polêmica. É sinal de que está despertando o debate.

OP – Sobre o Maia Jr., o senhor não acha uma escolha arriscada, colocar um tucano num posto-chave do governo?
Camilo – Não é uma escolha partidária. É uma escolha técnica. O Maia é um grande técnico, tem experiência no serviço público, foi secretário de vários governos. O convite ao Maia é técnico, e ele dará grande ajuda pensando a gestão, o planejamento, que é uma área essencial para o funcionamento da máquina.

OP – A escolha dele foi sugestão de alguém? Como o senhor chegou a esse nome?
Camilo – Nós pensamos no nome dele, mas achei até que ele nem aceitaria. Para minha grata satisfação, ele aceitou e fiquei muito feliz. 

OP – O senhor fala que a escolha é prioritariamente técnica, mas ela passou pelo aval do senador Tasso Jereissati (PSDB). Como é hoje sua relação com ele?
Camilo – Isso aí eu não sei. Aí vai ter que perguntar ao Tasso ou ao Maia. A minha relação com o senador é a melhor possível. É uma pessoa por quem tenho muito respeito, tem me ajudado bastante.

OP – Ele já falou que o senhor tem jeitão de tucano.   
Camilo – Não acho que eu tenha, não (risos). Eu gosto dele. Tem dado uma grande contribuição pro Ceará. Meu pai foi secretário dele no primeiro governo. Eu votei nele pela primeira vez para governador. Sempre tem se colocado à disposição em Brasília.

OP – Tem facilitado o diálogo com o governo Temer?
Camilo – Tem facilitado, sim. Acho que nós, eleitos, temos de trabalhar por nosso estado. 

OP – O senhor está hoje no Palácio da Abolição graças também à influência do seu principal padrinho político Cid Gomes. Qual a influência que o Cid exerce hoje no seu governo? O senhor costuma consultá-lo?
Camilo – Não é o estilo do Cid. Ele nem gosta de interferir. Tenho grande admiração pelo Cid. Pra mim, foi um grande aprendizado ter sido secretário dele. Nós procuramos sempre nos encontrar, ele, eu, o Roberto Cláudio, o presidente da Assembleia (deputado estadual Zezinho Albuquerque), o grupo político do qual nós fazemos parte. Para conversarmos, avaliarmos. Mas, em relação diretamente à gestão, nenhuma (conversa com Cid).

OP – Mas ele nunca deu nenhuma opinião sobre o governo?
Camilo – Eu gostaria é que ele desse.

OP – Mais da metade dos problemas que o senhor teve de enfrentar nesses dois anos de gestão são herança de Cid Gomes. De saída, tem o Acquario, o hospital de Quixeramobim (construído, mas sem funcionar), crise na saúde, relação tensa com a PM etc. Não houve uma espécie de herança maldita aí?
Camilo – Problemas, todo governo tem. É o contrário. Acho que eu fui um privilegiado de receber um governo tão bem organizado. O Ceará teve sorte, acho que não só pelo Cid, mas pelo Tasso também, o próprio Lúcio Alcântara. Acho que o Estado sempre teve governadores zelosos pela situação fiscal. Todos os governadores, de Tasso pra cá. Sempre uma referência na austeridade. Recebi o governo com esses desafios, mas bem organizado. Mas não esperávamos que, em vez de crescer, fosse a arrecadação diminuir, a economia desaquecer. Às vezes você planeja o Estado como se fosse continuar crescendo no mesmo ritmo que vinha. De repente, tem uma recessão, um baque grande, um segundo ano também difícil, com momento político ruim, impeachment da presidenta que afetou muito a economia e a imagem do Brasil. Eu vejo que temos problemas, mas vamos concluir VLT, Acquario terá parceria com iniciativa privada. É um equipamento importantíssimo pro Ceará e pra Fortaleza.

OP – Vai ser concluído?
Camilo – Não pelo Estado, mas pela iniciativa privada. 

OP – Em 2011, o senhor assumiu a Secretaria das Cidades e já pegou de cara um escândalo, que foi o dos banheiros. O senhor tomou as medidas necessárias, investigou, demitiu muitas pessoas. Mas até hoje o programa nunca voltou. Nem com o senhor como secretário nem agora como governador.
Camilo – Ele não voltou por lá, mas existe um programa na SDA (Secretaria do Desenvolvimento Econômico). E a Cagece também tem um programa. O governo continua com essa política. Quem está implementando ela hoje tem mais expertise. O banheiro é até melhor. 

OP – Sua base na Assembleia Legislativa está travando uma queda de braço para extinguir novamente o Tribunal de Contas dos Municípios (TCM-CE). A economia feita pelo Estado é tão grande assim que justifique o fim do TCM? Ou há uma disputa de fundo entre o seu grupo e o de Domingos Filho, presidente do tribunal?
Camilo – Só existiam quatro estados no Brasil com dois tribunais. Há décadas o Ceará discute se põe fim ou não, se fica com dois tribunais ou não. O Ceará extinguiu. O TCM está extinto. Tem uma decisão liminar, mas ele está extinto. Só não será extinto quando houver uma decisão em contrário do STF em relação a isso. Minha opinião é que jamais existiria momento pra discutir isso se não houvesse ambiente político pra discutir isso. Houve ambiente político, a gente tomou a decisão, tem uma economia pro Estado de no mínimo R$ 20 milhões. Do ponto de vista físico, o TCE (Tribunal de Contas do Estado) tem um prédio novo, grande. Está ocioso. Porque continua o antigo e tem o novo, com vários andares. Ele pode muito bem funcionar como dois tribunais, como a maioria dos estados brasileiros. Acho louvável a decisão da Assembleia. Me surpreendi com essa liminar do Supremo.  Ao meu entender, foram cumpridos todos os trâmites legais da Assembleia. 

OP – Mas o próprio presidente da AL-CE já admitiu que a votação foi rápida.
Camilo – Aí é ele quem tem que avaliar, mas a legislação permite regime de urgência. Todas as matérias no fim do ano passado foram votadas assim.

OP – O senhor fala que houve momento político, mas foi logo depois da disputa pela presidência da Assembleia.
Camilo – Eu, inclusive, acho que a Assembleia cometeu um erro em não ter aprovado aquela emenda do deputado Carlos Matos, que pedia uma quarentena. Um membro do tribunal de contas não pode ter vinculação com mandatos ou disputas eleitorais.

OP – Mas alguns foram indicados por Cid.
Camilo – Não estou dizendo que concordo com tudo que o Cid faz. Estou dizendo que é minha opinião. O TCM tem que ser isento porque está julgando contas de gestores, contas do governador e contas de prefeitos.  Não pode ter vinculação político-partidária. É errado. Acho que era o momento de corrigir isso. O presidente do Tribunal de Contas do Estado é um técnico de carreira. 

OP – O senhor se compromete a não indicar mais políticos para os tribunais?
Camilo – Eu me comprometo com o que a lei diz. Se a Assembleia for votar de novo, eu defendo que haja critérios, um mínimo de quarentena para relações de membros dos tribunais com partidos ou candidaturas. Não dá para o mesmo conselheiro fazer política dentro dos tribunais. 

OP – O TCM é um tribunal político assim como o TCE. Por que só agora isso incomodou?
Camilo – Só agora não. Esse debate vem sendo feito há algum tempo. O momento político é favorável à decisão da Assembleia, que é uma decisão correta. Não tenho nada contra o Domingos Filho, sou um admirador da mulher dele como prefeita. Claro que cada um toma sua decisão.

OP – A saída do grupo do Domingos da sua base vai prejudicar muito a estabilidade do governo?
Camilo – Nós fizemos foi aumentar nossa base na Assembleia. Nossa base é maior do que a que nós tínhamos anteriormente. Em relação a isso, nenhum prejuízo.

OP – Há algum tempo ninguém imaginaria uma aliança entre PT e DEM no nível estadual. Como o senhor avalia isso?
Camilo – Eu já tive o apoio do Moroni como governador. Eu sou um governador eclético.

OP – De fato, todo mundo tem representantes no governo Camilo. PT, PSDB, DEM etc.
Camilo – É uma união pelo Ceará. O DEM tem espaço no governo. Tenho grande relação com Moroni. João Jaime tem sido parceiro do governo. Independentemente de ser oposição, tem que fazer a crítica quando precisar fazer e elogiar quando for preciso.

OP – O senhor consulta o PT quando toma essas decisões para evitar algum tipo de constrangimento?
Camilo – Não. A escolha da minha equipe de governo é prerrogativa minha. O governador é quem escolhe seus secretários e seus auxiliares. 

OP – O PT fica em segundo plano.  
Camilo – Não, estou dizendo que é prerrogativa minha.

OP – O senhor começou sua carreira política em Barbalha, sua cidade natal. Seu candidato a prefeito foi derrotado em 2004. Seu candidato em 2016 também perdeu. Há uma resistência em Barbalha a sua família?
Camilo – Não é familiar. Fui candidato duas vezes, perdi duas eleições para prefeito. Mas também ganhei duas vezes com meu prefeito. Eu era candidato em 2008, tinha perdido a eleição anterior por 184 votos. Eu era secretário do Cid, e ele me pediu para continuar no governo. Infelizmente, agora, perdemos. Essa foi uma eleição atípica, as pessoas votaram muito na oposição. Na grande maioria dos municípios do Ceará, mesmo com boas gestões, a oposição ganhou. O prefeito de Quixeramobim foi um grande prefeito e perdeu a eleição. A prefeita de Tauá perdeu a eleição, uma grande prefeita. Em Juazeiro a oposição ganhou. Missão Velha. Caririaçu.  Faz parte da política, ganhar e perder.

OP – Governador, o senhor mantém fotos da Dilma no seu gabinete...
Camilo – Não vai querer que eu troque, não é? (risos).

OP – Não, mas eu estava olhando e, pelos corredores do palácio, não há uma única foto do Temer, que é o atual presidente. O senhor não tem foto do presidente por aqui?
Camilo – Não. Colocarei foto do próximo presidente eleito pelo povo brasileiro.

OP – O senhor defende a tese do golpe?
Camilo – Já disse isso publicamente. A saída da presidenta Dilma cumpriu a legalidade do processo, mas não houve fato em si que pudesse afastar a presidenta. Foi um erro para o Brasil a forma como aconteceu o impeachment.

OP – Mas a participação do senhor foi um pouco tímida naquela grande mobilização pela permanência da ex-presidente Dilma no Planalto, principalmente se a gente lembrar do governador Flávio Dino (PCdoB), do Maranhão.  
Camilo – Acho que o Flávio tem um estilo, eu tenho outro. O meu é mais recatado, conciliador. Mas o Ceará foi o estado que deu o maior número de votos de deputados federais contra o impeachment da presidente. Nós demos 14 votos. Bahia deu mais porque tem mais deputados. Proporcionalmente, é o maior. Nós sempre fomos muito firmes na defesa da permanência da presidenta. Não havia motivação concreta para o afastamento dela. 

OP – Como o senhor viu o apoio do PT, nessas eleições para a presidência do Congresso, a legendas que votaram a favor do impeachment da ex-presidente Dilma? O PT ensaiou um apoio ao Rodrigo Maia (DEM-RJ) na Câmara e apoiou de fato Eunício Oliveira (PMDB) no Senado.
Camilo – Por tudo que aconteceu, o partido deveria ter tido uma posição mais coerente e não apoiar essas candidaturas. A história irá julgar ainda essa decisão. Deixo por conta dos deputados e senadores.

OP – Voltando para o Ceará. Qual é a marca que o senhor espera deixar no governo estadual após quatro anos de mandato?
Camilo – Primeiro, que a gente continue fazendo do Ceará, além da terra da luz, a terra da educação. Em 2015, nós não tínhamos nenhuma escola de ensino médio de tempo integral. Nós criamos as primeiras 26, uma em cada regional de Fortaleza e outras no Interior. Neste ano são mais 46 escolas de tempo integral no ensino médio. São 72. Vou fazer um esforço muito grande para, até o ano que vem, chegarmos a 50% (do total de escolas). Somando às 116 escolas que temos hoje, de tempo integral profissionalizante, para cada quatro escolas do ensino médio, uma é integral. É o grande caminho para dar oportunidade e proteger nossos jovens. Esse é o perfil de quem está matando e de quem está morrendo. São jovens. Então essa é nossa aposta, o ensino médio. O Ceará é referência nessa área educacional. Quero muito chegar ao final do meu governo com os indicadores de segurança melhores. Segurança é algo que influencia na economia, influencia no turismo. Quando você tem uma imagem de Fortaleza como violenta, o turista pensa duas vezes antes de vir pra cá. É ruim para os investidores. É preciso ser obstinado nisso.

OP – Educação quase nunca é a aposta maior de um gestor, talvez por ser difícil de mostrar ao eleitorado. Tanto que governadores e prefeitos acabam adotando outra linha, que é de construir, deixar um legado de concreto. Ao apostar nessas duas áreas, educação e segurança, o senhor não teme que seu legado acabe sendo eleitoralmente impalpável?   
Camilo – Pelo contrário. Eu acho que um gestor precisa estar sintonizado com o que a população quer. Se você faz qualquer pesquisa hoje, o que a população quer? Primeiro, saúde. Depois segurança e educação. E hoje emprego, por causa da crise. O governo não dá pra fazer tudo. Tem que focar naquilo que a população cobra e está querendo. É importante fazer obras e nós estamos fazendo. Eu vou fazer mais escolas em Fortaleza do que juntando os seis governadores que passaram aqui. Pode juntar. Estou fazendo 17 escolas neste momento em Fortaleza. Estou fazendo 12 mil quilômetros de estradas. Estou duplicando a CE-040 todinha. Estou duplicando a CE-085. Concretizamos o sonho do Ceará, que era a siderúrgica. Vou começar agora 25 areninhas no Interior. É uma política de prevenção. Estou gastando R$ 13 milhões para recuperar a Biblioteca Pública Menezes Pimentel e interligar ao Centro Cultural Dragão do Mar. Tem obra. Onde você procurar, tem obra.

OP – Mantido esse cenário de hoje, sem recarga de açudes, tem racionamento em 2017?  
Camilo – Essa tem sido a minha maior dor de cabeça e também a minha maior prioridade nesses dois anos: o problema da água. Tem uma grande equipe no governo hoje focada nisso. A gente tem feito um plano de segurança hídrica para a região metropolitana e as ações emergenciais. Só no ano passado foram 1,9 mil poços. Comprei 19 máquinas (para perfurar poços), recebi cinco já. Tem que pagar por antecipação. A gravidade do problema está em Fortaleza e região metropolitana, diante do tamanho da população. Dois terços da população do Ceará estão aqui. Fortaleza não tem bacia pra atender. Nossa análise mostrou que o racionamento é um transtorno para a população, com sofrimento maior para a população pobre. Cria um problema sério de pressão na rede. Pra retomar a pressão normal, é uma semana. E, se eu fizer isso, um racionamento durante um ano, é uma economia de um mês de água para Fortaleza. 

OP – Quais as alternativas?
Camilo – Reutilizar a água da lavagem do filtro do Gavião que era jogada fora. A água da lavagem ia embora. A um quilômetro, fizemos uma captação e retornamos essa água pro Gavião. Hoje, nós ganhamos 300 litros por segundo. Isso equivale a abastecer Sobral. É muito mais do que a minha economia de racionamento. Segunda ação. Vamos usar a água da barragem do Maranguapinho, que é uma barragem de prevenção de cheias. Toda a cidade de Maranguape está sendo abastecida com a obra do Maranguapinho. Deixamos a água do Castanhão exclusivamente para atender Fortaleza. O açude Pacajus chega a uma cota em que não se consegue mais usar a água dele. O que nós fizemos: interligamos o Pacajus ao sistema metropolitano, ao eixão. Eu estou com uma reserva de água lá que me garante abastecer Fortaleza durante 45 dias. E o racionamento seria de apenas um mês. Descobrimos um aquífero no Pecém, fizemos poços, interligamos e estamos gerando 200 litros por segundo. Vamos fazer isso agora na Taíba e no Cauipe. Estamos fazendo poços horizontais, uma experiência inédita no País.

OP – Mas o racionamento em Fortaleza é uma possibilidade?
Camilo – Não. Nem que eu tenha que desligar térmica. Eu vou trabalhar até o último minuto para evitar que haja esse tipo de transtorno.

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