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Izabel Gurgel: "Frida Kahlo e a fotografia"
Opinião

Izabel Gurgel: "Frida Kahlo e a fotografia"

Frida sabia fotografar, sabia posar. Prática aprimorada na série de autorretratos que pintou
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São muitos os laços anunciados pelo título acima. Para além de registro, documentação, memória, a relação da pintora mexicana com a fotografia - técnica e estética -, desdobra-se no cotidiano, na atuação política, na invenção artística (de si, de mundos). O encontro que o Museu da Fotografia realiza sábado, 8 de julho, mês de nascimento e morte da artista (dia 6, 1907-dia 13, 1954), é uma iniciação que fazemos, na condição de leitora, a partir do livro “Frida Kahlo: suas fotos”, organizado por Pablo Ortiz Monastério, por sua vez citado na publicação de 2010 como “fotógrafo, editor, curador e promotor da fotografia no México”.

 

Da presença na vida familiar, com avô e pai fotógrafos, à construção da persona artística. Da colaboração com o pai no laboratório, citada por críticos e biógrafos, ao intenso aprendizado de ver com olhos livres. Frida sabia fotografar, sabia posar. Prática aprimorada na série de autorretratos que pintou. Como outros artistas, viveu e usou a fotografia de muitos modos: arquivo, pesquisa, edição. No seu círculo de amizade, convívio íntimo, trocas sociais, fotógrafos sempre presentes: mexicanos como Manuel Álvarez Bravo (1902–2002), referência no país; viajantes de passagem pelo México ou lá residindo, ou, Frida viajante, encontrando-a em terra estrangeira, como Tina Modotti (1896-1942), Gisèle Freund (1908-2000) e, de origem húngara, Nickolas Muray (1892-1965), autor do retrato do casal Frida Kahlo – Diego Rivera exposto no Museu da Fotografia.


O livro-base do encontro do dia 8 se origina das mais de seis mil fotos achadas junto ao material guardado durante 50 anos no banheiro da Casa Azul, atual Museu Frida Kahlo. É a casa onde ela viveu grande parte da vida. Aquisição do pai, Guillermo

Kahlo, migrante de origem alemã. Depois comprada por Frida e Diego. Eles vão dar à casa uma nova pele, mutante – como tudo o que é vivo, tornando-a uma reverência-cotidiana ao México de milênios e aberta aos mundos do porvir.


Quando da morte da pintora, parte do que lhe pertencia foi guardada pelo próprio Diego em um dos banheiros da casa. Recomendou, então, que fosse aberto 15 anos depois da morte dele. Diego morre em 1957, a Casa Azul abre como Museu Frida Kahlo em 1958 e o banheiro segue fechado até 2004. Uma vez aberto e transformado o seu conteúdo em acervo público (todo acervo é um bem público), passa, como canta Caetano, “a lançar mundos no mundo”. O título da canção: “Livros”.

 

Izabel Gurgel

izabelrosagurgel@gmail.com

Jornalista

 

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