Logo O POVO+
Allan Aguiar: "Ceará: nem São Paulo nem Flórida"
Opinião

Allan Aguiar: "Ceará: nem São Paulo nem Flórida"

Preferiu entregar a pasta para políticos preocupados com as eleições, e não com as próximas gerações
Edição Impressa
Tipo Notícia Por
O Ceará queria ser a São Paulo do Nordeste quando poderia ter sido uma Flórida sul-americana. O Ceará queria ser a mutação perfeita entre os “Tigres Asiáticos” e o “Vale do Silício”. O Governo queria indústrias e orientou o modelo de desenvolvimento do Estado para este objetivo. Sabe aquele filho que você quer que seja médico, mas a vocação dele é para a música? É mais ou menos isso o que o papai Governo tenta desde o século passado, sem sucesso. Sem os “saltos” prometidos, o Estado continua patinando nos 2% da economia nacional e teima em uma estratégia caduca para gerar renda para sua pobre população. Mesmo com todas as induções e isenções do Governo, a participação da Indústria no PIB do Estado não atinge 20% de participação. Somos modestos 1,8% da Indústria nacional.

 

Longe dos mercados consumidores e deficiências nas infraestruturas de escoamento, restou a velha guerra fiscal como arma nessa luta para gerar postos de trabalho pelo viés da industrialização. Adicionando esses complicadores, estados como Pernambuco e Maranhão ganharam enorme espaço na disputa da movimentação de cargas com seus Portos de Suape e Itaqui, respectivamente o quinto e o sétimo maiores do Brasil.


Surfando na falta de planejamento e sem saber ajustar a vela, o Estado assistiu a vocações de grande inclusão social serem prejudicadas por outras que poderiam ser alocadas no interior do Estado. O exemplo mais frustrante pode ser visualizado ao longo dos

573 km de litoral, transformados em paliteiro de aerogeradores que esterilizam extensas áreas vocacionada para o petróleo cearense ainda não extraído: o Turismo.


Enquanto o Estado queria indústria, os investidores só tinham olhos para o Turismo, a mais inclusiva atividade econômica existente. Olhavam nossas praias e vislumbravam um novo Caribe na esquina da América do Sul. Em 1995, o Estado acordou do sonho único e criou a Secretaria do Turismo (Setur), buscando uma agenda capaz de inserir o Ceará no jogo da economia do turismo. Contudo, abdicou de uma gestão profissional capaz de emular com os agentes econômicos do setor e preferiu entregar a pasta para políticos preocupados com as próximas eleições, e não com as próximas gerações.


Assim, estamos longe de ser uma São Paulo das indústrias e mais distante ainda de uma Flórida dos turistas. Como cantou nosso poeta, que partiu, “o passado é uma roupa que não nos serve mais”. 

 

Allan Aguiar

allan@allanaguiar.com

Ex-secretário do Turismo do Ceará

 

O que você achou desse conteúdo?