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Plínio Bortolotti: "Alguém avise a Temer que o governo acabou"
Opinião

Plínio Bortolotti: "Alguém avise a Temer que o governo acabou"

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O governo Michel Temer acabou. Falta alguém com coragem para bater à porta do bunker para dar-lhe a notícia. Ele até pode continuar no cargo, recusando-se à renúncia e mantendo o título de “presidente”, mas passará a ser visto, inclusive pelos aliados, como estorvo a ser removido.

Pensando bem, o aviso talvez nem seja necessário, pois Temer passou recibo de que está acuado ao convocar as Forças Armadas na tentativa de conter protestos populares contra o seu governo. Por óbvio, não se defende aqui depredações, violência e ataque ao patrimônio público, praticados pela minoria entre os manifestantes, cerca de 30 mil.


Porém, chamar as Forças Armadas para controlar movimentos sociais é medida equivocada e perigosa: resultado da tentação autoritária ou do desespero - ou das duas coisas juntas.


Ou ainda da covardia, pois Temer não teve coragem nem de assumir a responsabilidade pelo seu feito. Mandou seu ministro da Defesa, Raul Jungmann, dizer que o decreto de “garantia da lei e da ordem” (válido até 31/5) fora assinado “por solicitação do sr. presidente da Câmara”.


O problema é que Rodrigo Maia (DEM-RJ), um dos principais aliados do presidente, desmentiu Temer, pedindo que o ministro “restabeleça a verdade” sobre a convocação das Forças Armadas. “Eu afirmo e reafirmo que isso não é verdade”, declarou Maia. O que o deputado pediu ao presidente foi a intervenção da Força Nacional (composta por policiais de vários estados), e não das Forças Armadas.


Muito provavelmente o contratempo entre os dois não tenha consequências mais sérias. Mas o presidente da Câmara deve ter-se sentido mais incomodado pelo fato de ser filho de um exilado político no período da ditadura, César Maia (ex-prefeito do Rio). Deve despertar-lhe traumas ver as Forças Armadas sendo usadas para conter manifestações populares.


Com déficit de popularidade, balançando no cargo, Temer apela para Forças Armadas para mostrar sua autoridade.

É péssima ideia.


Plínio Bortolotti

plinio@opovo.com.br
Jornalista do O POVO
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