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Valmir Lopes: "Diálogo e transição"
Opinião

Valmir Lopes: "Diálogo e transição"

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Constituíram-se na sociedade brasileira três correntes de opinião que conflitam pela atenção pública. A primeira é contra o governo Temer, não importa o que faça nem os esforços para retirar o País do atoleiro onde se encontra. O segundo grupo é formado pelos que acreditam que este não é o governo dos sonhos, mas é o que foi possível constituir com o material disponível após a tempestade Dilma. Mesmo que não se goste dele, nem se concorde integralmente com suas iniciativas, todas merecem crédito porque não há outra alternativa realista. Por fim, há uma ampla corrente dos indiferentes e desiludidos. É um grande contingente de brasileiros resignados aos tempos difíceis, sem muita esperança.

 

Os três grupos tiveram um encontro neste dia 28. Aproveitando-se da fragilidade do governo Temer, foi convocada uma paralisação nacional para demonstrar força e expressar o descontentamento com as reformas. O resultado foi positivo para a oposição, apesar da manifestação não poder medir de forma sincera o grau de adesão voluntária ao movimento. A grande repercussão veio por causa da paralisação do transporte público. A mobilidade urbana tornou-se a espinha dorsal da atividade produtiva; logo deverá ser considerado pelos legisladores como serviço essencial. O contingente dos impedidos de trabalhar será contabilizado como adesão ao movimento. É um erro! Desse contingente muitos podem até concordar com a paralisação, mas fica a sensação de não sabermos seu contingente real. Outro dado: o dia mesmo da paralisação também não ajuda a medir a força dos opositores porque tivemos um incentivo ao feriadão. Do saldo positivo das grandes manifestações de 2015, cristalizou-se a ideia que uma mobilização feita no fim de semana expressa melhor e espontânea a opinião pública.


Mesmo considerando esses aspectos “negativos” e dúbios da paralisação, devemos saldar o momento como positivo. Ele permitirá ao governo intensificar a comunicação para demonstrar a imperiosa necessidade de realizar as reformas, principalmente a da Previdência. O movimento também pode ter criado uma oportunidade para melhor discutir os parâmetros da proposta negociada até o momento no Congresso. Para isso, devemos partir do reconhecimento da grave crise e a necessidade de reformas institucionais. Tudo indica que vivemos uma época de transição e urgência de construir um novo pacto social-político relativo ao tamanho do setor público sustentável para as condições reais de modernização da sociedade brasileira.

 

Valmir Lopes

lopes.valmir@gmail.com

Cientista político e coordenador do Laboratório de Estudos sobre Política, Eleições e Mídia (Lepem), da Universidade Federal do Ceará (UFC); membro do Conselho de Leitores do O POVO

 

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