Os três grupos tiveram um encontro neste dia 28. Aproveitando-se da fragilidade do governo Temer, foi convocada uma paralisação nacional para demonstrar força e expressar o descontentamento com as reformas. O resultado foi positivo para a oposição, apesar da manifestação não poder medir de forma sincera o grau de adesão voluntária ao movimento. A grande repercussão veio por causa da paralisação do transporte público. A mobilidade urbana tornou-se a espinha dorsal da atividade produtiva; logo deverá ser considerado pelos legisladores como serviço essencial. O contingente dos impedidos de trabalhar será contabilizado como adesão ao movimento. É um erro! Desse contingente muitos podem até concordar com a paralisação, mas fica a sensação de não sabermos seu contingente real. Outro dado: o dia mesmo da paralisação também não ajuda a medir a força dos opositores porque tivemos um incentivo ao feriadão. Do saldo positivo das grandes manifestações de 2015, cristalizou-se a ideia que uma mobilização feita no fim de semana expressa melhor e espontânea a opinião pública.
Mesmo considerando esses aspectos “negativos” e dúbios da paralisação, devemos saldar o momento como positivo. Ele permitirá ao governo intensificar a comunicação para demonstrar a imperiosa necessidade de realizar as reformas, principalmente a da Previdência. O movimento também pode ter criado uma oportunidade para melhor discutir os parâmetros da proposta negociada até o momento no Congresso. Para isso, devemos partir do reconhecimento da grave crise e a necessidade de reformas institucionais. Tudo indica que vivemos uma época de transição e urgência de construir um novo pacto social-político relativo ao tamanho do setor público sustentável para as condições reais de modernização da sociedade brasileira.
Valmir Lopes
lopes.valmir@gmail.comCientista político e coordenador do Laboratório de Estudos sobre Política, Eleições e Mídia (Lepem), da Universidade Federal do Ceará (UFC); membro do Conselho de Leitores do O POVO