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Regina Ribeiro: "Pelos olhos de Michel Temer"
Opinião

Regina Ribeiro: "Pelos olhos de Michel Temer"

Edição Impressa
Tipo Notícia Por

Regina Ribeiro

reginah_ribeiro@yahoo.com.br

Jornalista do O POVO


Li com atenção os dois artigos do presidente Michel Temer, publicados no O POVO. Com 91% de reprovação no Nordeste, segundo pesquisas divulgadas neste jornal no mês passado, nada mais normal para o presidente do que tentar amenizar imagem tão negativa. Pelos textos, parece que tudo vai bem.


No primeiro, ele afirma que o Nordeste é prioridade no seu governo. O contexto é a transposição das águas do rio São Francisco, mas ele erra a mão. Em primeiro lugar, esta prioridade nunca foi do seu governo. E não precisa de muito esforço nem muita pesquisa para verificar que a região está bem longe do topo das suas preocupações. Qual a política pública destinada ao Nordeste pelo governo Temer desde que ele assumiu? Quais os incentivos nas áreas de geração de emprego, saúde, educação, cultura que este governo elegeu como prioritários para a região? Nenhum.


Nesta semana, o presidente Temer voltou a escrever para comemorar o saldo de empregos com carteira assinada no País: 35 mil vagas em fevereiro. Ao dividirmos esse número pelo conjunto de empresas em atividade - de todos os tamanhos e segmentos -, verificamos que o presidente poderia ter esperado um pouco mais para fazer festa. Só para se ter noção desse universo, de janeiro a novembro de 2016, de acordo com informações do Serasa Experian, foi criado em todo o Brasil 1,8 milhão de novos negócios. Basta que essas novas empresas tenham admitido um único trabalhador com carteira assinada, para deduzirmos o quão insignificante é este número.


Ele também disse que seu governo está pondo o Brasil nos trilhos de uma economia forte e exuberante com responsabilidade etc e tal, o que vai gerar ainda mais empregos. Dois dias depois, o governo anuncia corte de

R$ 42 bilhões no orçamento e a desoneração da folha de pagamentos, mecanismo que o governo Dilma tinha inventado para conter a redução de vagas de emprego. Os setores atingidos já calculam que os efeitos da medida serão o aumento de preços e a redução nas contratações, embora – estranhamente – a desoneração da folha não tenha gerado nenhum impacto positivo.


Analisando rapidamente o discurso presidencial e os dados do seu próprio governo, custa crer que o Nordeste vá começar a ver o País pelos olhos de Michel Temer.

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