Recentemente Dandara foi espancada até a morte, mal conseguia se mover, chorava indefensa. Bateram nela com um chinelo. “Viado ‘fêi’”, xingavam. Poucos dias antes, outra travesti, Herika Izidoro, havia sido espancada na avenida José Bastos e deu entrada no Instituto José Frota com traumatismo craniano. Está internada até hoje em estado grave, com perda de massa encefálica.
A tortura brutal de Dandara não foi só mais uma em meio às milhares de travestis que morrem todos os anos. Foi o estopim do “basta”, e esse “basta” não se dá com varinha mágica, mas com promoção de justiça social, de responsabilidade do poder público. A transfobia se mostra uma realidade tão latente e escancarada que pessoas como eu, héteros cisgêneros (pessoas que não são transexuais), pais de família, estão somando contra essa crueldade.
Cotas para travestis e transexuais não são privilégios. Não é porque essas pessoas são menos competentes que outras. É que o preconceito que elas sofrem é tão absurdo, a humilhação e a segregação são tão explícitas, que algo prático deve ser feito além de inúteis lamentos. Quantas professoras travestis nós conhecemos? Quantos vendedores? Motoristas? Médicos? Advogados? Elas são rejeitadas por uma sociedade e não conseguem emprego formal, e daí vem a necessidade da atuação do poder público para inseri-las no mercado de trabalho.
Desafio qualquer um a colocar a palavra “travesti” no Google e não sair algo relacionado a prostituição ou notícias de homicídios. Até quando ficaremos de braços cruzados? Proponho, portanto, um projeto de lei que reserva 2% das vagas dos concursos públicos municipais para transgêneros e transexuais. Estou fazendo a minha parte e ficarei muito feliz ao ver uma dessas pessoas vulneráveis fora das ruas, do perigo e da humilhação, com a dignidade e o respeito que merecem!
Márcio Martins
vereadormarciomartins@gmail.comVereador de Fortaleza (PR)