O litoral cearense é um importante patrimônio ambiental para a região. A preservação, a conservação e a exploração deste litoral devem ser planejadas de maneira inclusiva e sustentável, com objetivos de longo prazo. Assistimos, com espanto e tristeza, à aceleração das ocupações desordenadas da nossa orla marítima, sem o mínimo planejamento e, na maioria das vezes, lideradas por ações pontuais e imediatistas em prejuízo ao meio ambiente, da Barra do Ceará à Praia do Futuro. Quando abordamos o caso específico da Praia do Futuro, constatamos que a ocupação ilegal da faixa de praia tomou proporções inimagináveis e sem o mínimo controle urbano.

 

Na minha infância, nos anos 1970, costumava ir à Praia do Futuro e lembro quando surgiram os primeiros restaurantes (dois ou três) ofertando caranguejos, no trecho que hoje apelidamos de antiga Praia do Futuro. Os restaurantes, implantados na quadra lindeira à praia, se tornaram uma atração em um local tão deserto e sem equipamentos; atravessávamos a avenida com a maior empolgação!

Continuo frequentando a Praia do Futuro nos fins de semana e feriados, porém não desfruto mais daquela vista natural e belíssima. Avistar o mágico cenário de praia e mar ficou comprometido pelas volumosas edificações erguidas ao longo do calçadão. Recentemente, levando um cliente/turista no meio da semana à Praia do Futuro, para mostrar as belezas da Cidade e as áreas passíveis de futuros investimentos, encontramos um passeio intransitável, ocupado por lixeiras, montanhas de restos de coco e carcaças de caranguejos em decomposição!

Penso ser oportuno um questionamento crítico dos nossos hábitos, especialmente da “cultura” de priorizar o nosso comodismo. Pergunto: atravessar a rua para desfrutar o nosso caranguejo seria sacrifício? Temos de nos conscientizar que a Praia do Futuro tem um enorme potencial paisagístico atualmente comprometido pela ocupação das “barracas”.

Sou a favor de incentivarmos que nossa orla seja movimentada e com atrativos de lazer, gastronomia e hospitalidade, porém é imperioso que estes equipamentos estejam implantados em locais apropriados respeitando as leis de ocupação. O bairro Praia do Futuro tem atualmente uma ocupação rarefeita por uma conjunção de fatores: a maresia, a ausência de serviços, a visada do farol, e, principalmente, por existir uma grande concentração de terrenos na mão de poucos investidores.

Proponho a elaboração de um plano diretor específico, representativo, com financiamento público e privado, com o foco de buscar o equilíbrio de uma ocupação e exploração sustentável de uma área tão bela de nossa Fortaleza

"do Futuro”.

 

Márcia Cavalcante

marcia@oikearquitetos.com.br

Professora doutora do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da UFC