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Emanuel Freitas: A verdadeira "ideologia de gênero"
Opinião

Emanuel Freitas: A verdadeira "ideologia de gênero"

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O brutal espancamento, seguido de morte, de Dandara, bem como a violência desferida contra Herica, semanas depois, na avenida José Bastos (ambas pessoas trans) são fatos mais do que oportunos para nos fazerem recuar um pouco no tempo e pensar melhor sobre o porquê da violência contra pessoas trans ainda ser tão legitimada ou, ao menos, pouco “choradas”.

 

No ano de 2015, assistimos a uma verdadeira “cruzada nacional” em todos os espaços do Poder Legislativo por parte de parlamentares ligados às diversas instituições religiosas, para retirarem dos Planos Estaduais e Municipais de Educação qualquer referência às questões de gênero. Seus discursos, de Norte a Sul do País, diziam o mesmo: queriam transformar as escolas em espaços de “destruição da família”, a ensinar “as crianças a serem gays” e coisas do tipo. Discurso ralo, mas que impôs dura derrota aos movimentos LGBT e, em especial, às pessoas que sofrem, diuturnamente, discriminações por conta de sua identidade de gênero (que pode assumir as feições de um assassinato, como vemos sempre).


O que chamavam de “ideologia de gênero” é, na verdade, um conjunto de estudos que, desde os anos 1970, passaram a questionar a ideologia dominante em seus diversos aspectos: no que tange a uma suposta inferiorização da mulher e seu papel “essencial” de condutora do lar, o que sustenta o machismo e as diversas faces da misoginia; a denúncia de uma suposta anormalidade daqueles que não se orientavam sexualmente para o sexo oposto, os homossexuais, por tanto tempo tidos como “doentes”; a despatologização das identidades trans, daqueles e daquelas que não se identificavam com seu corpo biológico, mas, sim, com o outro gênero etc. É isso que os estudos de gênero desconstroem, na possibilidade de construção de um espaço social plural.


Mas, nossa escola, e a sociedade, viu-se “livre” dessas problemáticas, fazendo com que menos espaço exista para pessoas diferentes, continuando a relegar-se, a pessoas como Dandara e Herica, o espaço da violenta exclusão.

 

Emanuel Freitas

emanuel.freitas@uece.br

Professor de Teoria Política da Universidade Estadual do Ceará (Uece)

 

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