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Carlo Tursi: "Arma por arma"
Opinião

Carlo Tursi: "Arma por arma"

São pueris as fantasias do indivíduo que se sente mais forte ao sair de casa armado
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Parte do povo que se juntou na Praça Portugal no domingo passado manifestava repúdio à política de desarmamento civil. Os argumentos aduzidos são: 1) Os órgãos estatais de repressão à violência são ineficientes e não conseguem cumprir a contento sua função de garantir a ordem e segurança públicas. 2) Daí, assiste ao cidadão o direito de defender o que é seu com meios próprios. 3) O desarmamento civil criou um desequilíbrio de forças – com o “cidadão de bem” desarmado, sobram armas do lado dos “bandidos”.

 

Considero inconsistente, nefasta essa linha de raciocínio. Argumentos a favor do desarmamento civil são:

Um dos maiores avanços civilizatórios consiste na renúncia dos cidadãos ao direito natural de se defender com seus próprios meios contra agressores, delegando-o aos órgãos do Estado de Direito. Este exerce, em nome de tod@s, o monopólio da violência. A alternativa, conhecida dos filmes “faroeste”: indivíduos fazendo “justiça” com as próprias mãos, guerra de todos contra todos. Quem gostaria de recair no estado de barbárie?

 

As falhas notórias do aparelho estatal de repressão (ineficiência, truculência, baixíssima taxa de desvendamento dos crimes, agentes corruptos) devem ser corrigidas, não usadas como desculpa para a particularização do combate à violência.


O cidadão armado torna-se alvo predileto dos assaltantes que procuram armas de fogo. Que o digam os vigias noturnos que já tiveram suas armas tomadas. São pueris as fantasias do indivíduo que se sente mais forte ao sair de casa armado.


A maioria das mortes ocorridas durante assalto se deve ao fato de a vítima ter reagido, puxando uma arma ou tentando luta corporal. Quem alega amar a sua vida, deve aprender a preservá-la de forma mais eficaz.


Quem carrega arma de fogo deve estar disposto a usá-la, ou seja, tirar uma vida. Que o assaltante corra esse risco, ninguém duvida. Mas, você, “cidadão de bem”, teria esta disposição interior para matar?


Andar armado requer enorme equilíbrio emocional, além de grande perícia. Os profissionais do ramo, apesar de treinados, às vezes não demonstram a estrutura psicológica requerida pela função. Como o cidadão comum pretende possuí-la?


Permito-me, teólogo que sou, um questionamento de ordem ideológica: o que faria uma pessoa cristã (que diz comungar com as ideias de Jesus de Nazaré) propor o “pegar em armas” como saída para a violência generalizada? Arma por arma? Bala por bala?

Vida por vida?

 

Carlo Tursi

tursicarlo@gmail.com

Professor teólogo

 

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