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Allan Aguiar: "Praia do Futuro: Brasil legal x Brasil real"
Opinião

Allan Aguiar: "Praia do Futuro: Brasil legal x Brasil real"

Punir as barracas por danos ambientais e "passar o trator" sobre elas transformará a Praia do Futuro na praia do passado: deserta e estéril
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“Para matar os carrapatos, vamos matar a melhor vaca?”. Impressiona a miopia do Brasil legal diante do Brasil real. O fenômeno da pororoca do Brasil legal sobre a agonia do Brasil real pode ser observado no contencioso que objetiva arrancar as barracas da Praia do Futuro. Aparentemente escudados no cipoal da legislação ambiental que disciplina o uso e a ocupação do solo costeiro de municípios praianos, os legalistas, que adoram uma boa patola no Beach Park, travam uma batalha judicial que não resultará em vencedores, mas somente perdedores.

 

Interpretando as enormes subjetividades dessas leis ambientais em desfavor dos estabelecimentos comerciais que ainda dão alguma vida à principal praia urbana de lazer de Fortaleza, a artilharia dos legalistas foi apontada majoritariamente para o inimigo errado, as barracas, quando deviam ser direcionadas principalmente ao próprio setor público municipal/estadual/federal que se esquivou de sua função de ordenar e promover o zoneamento econômico e ecológico da faixa de praia ocupada, desde o século passado, pelo Brasil real.


A Fortaleza, sem indústrias ou agronegócio, restou virar uma monocultura do setor de serviços e depender visceralmente do turismo para gerar empregos e cidadania aos seus habitantes pelo vetor do comércio e serviços. Além de ser a praia de todas as classes sociais dos residentes, a excelente infraestrutura de atendimento notabilizou nossa Capital como sendo detentora da melhor praia urbana do Brasil.


Assim, qualquer encaminhamento que venha a ameaçar o sustento de tantas famílias não pode ser tomado em tribunais entre fracos e fortes, mas, sim, no mínimo, entre fortes e fortes. Punir as barracas por danos ambientais e “passar o trator” sobre elas, como comentam, transformará a Praia do Futuro na praia do passado: deserta e estéril.


A palavra é “dialogar”, ordenando urbanisticamente as barracas, dotando-as de todos os recursos sanitários, estimulando todos a frequentá-las e reforçando a boa hotelaria que começa a robustecer aquela orla.


Allan Aguiar

allan.aa.aguiar@gmail.com

Ex-secretário do Turismo do Ceará

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