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Como será o caminho para tornar a "América grande novamente"
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Como será o caminho para tornar a "América grande novamente"

Com muitas promessas e poucos detalhes de como vai realizá-las, o magnata republicano Donald Trump chega hoje à Casa Branca em meio a protestos, boicotes e forte esquema de segurança
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Imprevisibilidade. A palavra é uma das que melhor definem o novo presidente dos Estados Unidos. O bilionário republicano Donald Trump assume o cargo hoje, ao meio-dia, na capital Washington. Três meses depois de vencer a eleição, ele promete fazer a “América grande novamente” a partir de agora. Se conseguirá e como será o caminho até o objetivo são perguntas ainda sem resposta.


O desfecho desse governo, liderado por homem sem carreira política e de discurso polêmico, é tão incerto quanto algumas de suas declarações, apontam especialistas. Da campanha à posse, vários posicionamentos dele sofreram alterações.


[SAIBAMAIS]Para a professora de relações internacionais da ESPM, Denilde Holzhacker, o programa de governo de Trump é vago, portanto, ainda é preciso esperar como seus secretários se comportarão. “Vai ser um governo controverso que terá uma política bastante diferente do que foi Barack Obama. É um governo mais populista na área de economia, mas mais protecionista em termos de comércio internacional e com uma visão da necessidade de menor intervenção do governo em assuntos econômicos”, afirma.

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Trump chega à Casa Branca com um Congresso de maioria republicana. No entanto, as relações com o próprio partido e seus cacifes é cheia de altos e baixos.


Em campanha, Trump prometeu reduzir as atividades de lobistas em Washington. Quer criar regra que impede que ex-funcionários do governo virem lobistas por cinco anos após deixarem o posto público. A medida contraria os interesses dos políticos tradicionais que trocam favores por benefícios de empresas em seus distritos, onde angariam votos.


Recursos

Por um lado, ele pode tomar decisões sem o aval do Congresso, como a construção do muro e aumento dos agentes de imigração. Por outro, ele depende dos congressistas para aprovar orçamento. Sem dinheiro, a maioria dos planos para “tornar a América grande novamente” pode fracassar. Talvez ele tenha de recuar, regular o tom das críticas e negociar com a política nacional que tanto critica - o oposto do que ele demonstrou que faria durante a campanha.

 

O mandato de Trump tem sido questionado antes mesmo de começar. Apesar de ter se afastado do comando das empresas, passando-o para o filho, o nível de conflito de interesses no papel de presidente e magnata pode trazer problemas para ele. “Há também uma dúvida se ele conseguirá exercer um cargo público, que tem uma dinâmica muito diferente da empresarial”, diz Denilde.


A pesquisadora aponta ainda que, se investigações provarem que a Rússia e Trump interferiram nas eleições, ele pode ter o mandato ameaçado.


Até o momento, o líder dos Estados Unidos ainda não falou sobre a América Latina. “O Brasil vai continuar fora do radar. As consequências do protecionismo que ele quer podem ser ruins para o Brasil”, afirma o doutor em economia do Ibmec Reginaldo Nogueira.


Ele avalia que as medidas econômicas podem afetar a América Latina de forma indireta, mas que é preciso cautela e espera antes de especular. “Existe uma diferença grande entre retórica e ações. Ele pode ter um discurso, mas isso pode não se traduzir em nada na prática”, explica. Reginaldo diz ainda que as proposições econômicas de Trump são similares às de Dilma Rousseff para o Brasil: ineficazes, mas com ganho eleitoral imediato.


Protestos

Trump é recebido com desconfiança e antipatia por vários líderes mundiais, sobretudo na Europa. Seus discursos de teor machista, racista e xenófobo são o oposto de valores pregados por democratas americanos e europeus. Nacionalmente, grupos se organizam para protestar hoje contra o presidente

eleito.


Ele atraiu a antipatia de feministas, estudiosos e ativistas do clima, liberalistas e latinos. A comunicação entre Trump e esses setores da sociedade também continua em aberto, mas promete ser tão turbulenta quanto as relações dele com a grande imprensa, contra a qual declarou guerra.

 

FRASES


TEM GENTE QUE NÃO QUER QUE EU MENCIONE A CHINA COMO NOSSO INIMIGO. MAS É EXATAMENTE ISSO QUE ELA É. [...] NO QUE TANGE À POLÍTICA GLOBAL AMERICANA, QUEREMOS SUPRIR AS VANTAGENS

DA CHINA

 

PODERÍAMOS AUMENTAR TARIFAS ALFANDEGÁRIAS. PODERÍAMOS AUMENTAR A TARIFA DE VISTOS TEMPORÁRIOS. PODERÍAMOS ATÉ MESMO CONFISCAR REMESSAS DERIVADAS DE SALÁRIOS ILEGAIS

 

SOU UM CARA BACANA. SOU MESMO. MAS TENHO UM HÁBITO DESAGRADÁVEL QUE A MAIORIA DOS POLÍTICOS DE CARREIRA NÃO TEM: FALO A VERDADE. NÃO TENHO MEDO DE DIZER EM QUE ACREDITO

 

A CERIMÔNIA


SOLENIDADE CENTENÁRIA

A cerimônia de posse de Donald Trump como 45º presidente dos Estados Unidos é o momento mais importante de vários dias marcados por solenidades com pompa e circunstância na capital norte-americana. Esse tipo de rito de passagem é tradição centenária em Washington. Hoje, Barack Obama amanhece na Casa Branca, mas é Donald Trump quem vai dormir no local. No meio do dia, durante eventos, uma equipe irá fazer a mudança de mobília e pertences para a troca presidencial.

 

AGENDA

Trump chegou ontem à capital, onde participou de show de country no Lincoln Center e discursou. Hoje pela manhã ele, o vice-presidente Mike Pence e suas famílias participam de uma cerimônia religiosa na Igreja Episcopal de Saint John. Às 9h30min, ele será recebido por Obama e Michelle. O juramento como presidente será feito ao meio-dia, tomado pelo presidente da Suprema Corte, John Roberts.

 

JURAMENTO

Para isso, serão usadas duas Bíblias: a utilizada na posse do presidente Abraham Lincoln e uma pertencente a Trump. Os ex-presidentes Jimmy Carter e George W. Bush confirmaram presença na solenidade. Trump fará discurso que deve durar 20 minutos. À tarde, Trump e Pence percorrerão 2,4 km do Capitólio até a Casa Branca, acompanhados por 8 mil participantes, que incluem representantes das Forças Armadas, escolas e universidades.

 

PROTESTOS E BOICOTE

O esquema de segurança em Washington foi montado na expectativa de receber 250 mil manifestantes durante as solenidades que marcam a posse do novo presidente. Diversos grupos organizaram caminhadas e exposições de cartazes do lado de fora dos principais prédios da capital. Mais de 50 democratas afirmaram que não irão para a cerimônia. O boicote será realizado por pelo menos 30 parlamentares. Durante os preparativos para as festividades, os organizadores tiveram dificuldades em encontrar artistas para tocar e cantar nos shows tradicionais de posse. A maioria da classe artística, incluindo nomes famosos da música como Jay Z e Beyoncé, tem sido crítica e radicalmente contra a vitória de Trump.

 

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