Algumas pessoas se identificarão com essas falas:“Se pudesse nem saia de casa”. “Ando preferindo os bichos e plantas às pessoas”.
“Conheço tanta gente, mas me sinto tão sozinho”.
“Prefiro ficar sozinho”.
Talvez o nosso medo de pessoas, do mundo e do levantar de cada dia esteja escondido nessa tamanha falta de empatia que existe hoje.
Caixinhas de falas prontas, receitas doces e exigências subliminares.
Exigência da beleza, do padrão de alto nível, exigência de status em um país de economia e educação decadentes. Exigências de felicidade, sorrisos, num mundo em que sempre existirá dores. E elas se tornando maiores devido à solidão do barulho. Ninguém mais tem a companhia do silêncio, do tempo, da calma e da alma. Porque não podemos parar.
Porque não podemos chorar. Nem mesmo podemos amargar nossas perdas ou vestir nosso luto. “Vão-se os anéis ficam os dedos. Devemos ser gratos pelo que temos”. Mas a alma humana é inquieta demais para ser tão positiva o tempo todo. Se ao menos nos fosse dado o direito de ter tempo para chorar. Mas o choro incomoda. O choro é proibido. E por isso, choraremos escondidos no cantinho do nosso quarto, de preferência de costas para a janela. Não é porque existe alguém com dor também que minha dor não dói, não é porque o motivo é aparentemente simples que essa dor não dói. Não é porque uma frase bonita foi dita que essa dor cessará de imediato. Conhecimento leva anos para ser adquirido e, às vezes, uma vida inteira para ser assimilado.
Por que a gente não pode esperar doer e lamber as feridas do mesmo jeito que se espera o tempo de chuva se aproximar para poder semear?
Deixa que o amanhecer traga luz e trabalho, mas permita que o anoitecer seja o tempo de descanso ao invés da agonia de uma mente que não pode parar, aflita pelas obrigações às quais vivemos presos.
A natureza não pára, mas faz pausas. Porque nós não? Talvez, existam momentos em que as palavras melhores sejam aquelas que calam e cedem espaço a um abraço, a um olhar e ao silêncio. Porque pessoas fazem barulho demais e nem sempre é possível ouvir de verdade.
Kenia de Lima Pinto
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