Nas contas públicas ou no orçamento familiar há uma equação da qual não se pode fugir: a receita tem de ser maior que a despesa. Quando isso não acontece, vários problemas vem a reboque como o endividamento, a restrição ao crédito, os desgastes e, em muitos casos, a falta de dinheiro para aquilo que é essencial. Para evitar entrar nesta bola de neve, o caminho é revisar os gastos. Ou seja, fazer seu próprio ‘ajuste fiscal’ em casa.
“Se a despesa é maior que receita, não tem outra saída: é apertar o cinto. Este é um princípio da economia que ninguém deve esquecer, nem as famílias e nem o Governo”, explica o vice-presidente do Instituto Brasileiro dos Executivos de Finanças (Ibef-CE), Ênio Arêa Leão.
[SAIBAMAIS]Ele afirma que o primeiro passo para quem quer retomar as rédeas do seu orçamento é anotar todas as despesas e receitas para entender o caminho do dinheiro. Ver onde estão concentrados os maiores gastos, as dívidas mais caras, para partir daí começar a traçar soluções.
Atenção especial para aquelas com maior taxa de juros, como cartões de crédito e cheque especial e que, na prática, são as únicas que podem ser totalmente zeradas. “Alimentação e casa, você não pode abrir mão. Mas juros sim. E um erro muito comum é as pessoas entenderem os empréstimos bancários, o cheque especial ou o cartão, como uma extensão da renda e não é”. De acordo com a pesquisa da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Ceará (Fecomércio-CE) de julho, embora a taxa de inadimplência potencial, ou seja, a proporção de consumidores que não terão condições financeiras para honrar seus compromissos, tenha caído 11,8% em relação ao mesmo período do ano passado, o número de endividados ainda é muito alto. Em Fortaleza, 67,9% dos consumidores possuem algum tipo de dívida.
O professor da Universidade Federal do Ceará (UFC) e pesquisador em finanças pessoais, Érico Veras Marques, adianta que o esforço em reduzir despesas é essencial para que comece a sobrar mais um pouco para amortizar os débitos e, no futuro, melhorar a reserva financeira. Ressalta que despesas não obrigatórias variáveis, como a viagem de final de ano ou a ida a um restaurante, são mais fáceis de serem mexidas. É possível também obter ganhos significativos naqueles gastos obrigatórios que são variáveis, como a conta de energia ou de água, com apenas algumas mudanças de hábitos. Ou na substituição de marcas no supermercado. Vale reavaliar também a necessidade de alguns serviços que, na prática, são pouco usados. Se você quase não assiste TV a cabo, por exemplo, reconsidere a assinatura ou procure um pacote mais barato que atenda às suas necessidades. Mas dependendo do grau de endividamento da família, o caminho talvez seja partir como muitas empresas estão fazendo, a exemplo da Petrobras, para um plano de desinvestimentos. Ou seja, se desfazer de alguns bens para quitar dívidas, como vender um carro, uma casa.
Ou mesmo considerar mudanças mais drásticas em gastos fixos obrigatórios.“Deve ser analisado até que ponto o ajuste que estou fazendo compromete a renda futura. O Governo, por exemplo, precisa avaliar se o corte que está fazendo em áreas como saúde ou educação no curto prazo, não vão se tornar um prejuízo lá na frente. Da mesma forma nas famílias, abrir mão do plano de saúde? De um curso que vai me garantir melhor colocação profissional? Tudo isso pode ter um preço maior mais na frente”, finaliza.
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Raio X
O desequilíbrio financeiro - diferença entre a renda e os gastos – é a principal justificativa para atraso no pagamento de dívidas, segundo pesquisa da Fecomércio - CE. Em seguida, aparecem o uso dos recurso para outros fins e contestação da dívida.Perfil
A inadimplência é maior entre homens, com idade entre 25 e 34 anos e com renda inferior a cinco salários mínimos.