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"Brasil vive maior crise dos últimos 120 anos"
Economia

"Brasil vive maior crise dos últimos 120 anos"

A afirmação é do economista Samuel Pessoa, chefe do Centro de Crescimento Econômico da FGV. Em Fortaleza, ele e o economista do Ipece, Flávio Ataliba, apontam os fatores que desencadearam a atual crise econômica
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“O Brasil vive a maior crise dos últimos 120 anos”, diz o chefe do Centro de Crescimento Econômico do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre-FGV), professor Samuel Pessoa. Em passagem por Fortaleza, Samuel destaca que as taxas de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) per capita quadrianuais mostram isso. “Se as previsões do Ibre estiverem certas ao final deste ano a queda do PIB per capita será de 9,8% do PIB per capita de 2013”, projeta. Falando sobre “Perspectivas econômicas e políticas no Brasil” no VIII Encontro de Políticas Públicas e Crescimento Econômico do Curso de Pós-Graduação em Economia (Caen) da Universidade Federal do Ceará (UFC) e a Escola de Pós-Graduação em Economia (EPGE), disse que parece que o País passou por uma guerra. “A gente perdeu 10% do PIB per capita em quatro anos e essa queda, se olhar pelo lado da demanda, é uma queda de investimento. A taxa de investimentos este ano vai ser 25% menor do que ao final de 2013”, ressalta, considerando que para compreender esta crise é preciso entender porque houve um brutal corte de investimentos.


Para explicar, o especialista lembra a forte desaceleração da economia iniciada mais ou menos em 2009. “Foi uma desaceleração em que simultaneamente a ela tivemos inflação pressionada o tempo todo, juros reais elevados o tempo todo, taxa de desemprego elevada o tempo todo, salário real subindo acima da produtividade o tempo todo, deterioração das transações correntes e piora fiscal. Tudo ao mesmo tempo de 2009 a 2014. Foi um fenômeno de produtividade e não de demanda”, avalia.


O diretor geral do Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece), Flávio Ataliba, analisou a crise brasileira fazendo algumas reflexões sobre a política de juros altos. Ele também falou da política macroeconômica de câmbio flutuante, metas de inflação e acumulação de reservas. “No final de 2013 a dívida pública tem uma aceleração sendo mais importante que a queda no crescimento”, diz, observando que pelas evidências os juros da dívida têm uma aceleração mais rápida. Para ele, a trajetória expansionista dos juros é importante para explicar o crescimento da dívida pública em relação ao PIB.


Destaca ainda a emissão de títulos para dar liquidez fazendo elevar a dívida pública. E questiona a manutenção dos juros altos. “Isso tem que ser discutido”, defende, ressaltando que o momento atual não é propício para fazer a reforma da Previdência que deve ser debatida com a população por um presidente eleito.


O VIII Encontro de Políticas Públicas e Crescimento Econômico do Caen-EPGE continua hoje. Os artigos que serão apresentados e a programação completa estão disponíveis no site da EPGE (https://goo.gl/thzM80). Mais informações podem ser acessadas no site do Caen (www.caen.ufc.br).

 

Perspectivas de retomada


Samuel Pessoa

“A retomada está sendo difícil e o motivo da dificuldade é que a economia está muito machucada e demora um tempo para consertar. O setor real está machucado. Quero dizer que por mais de 10 anos, nós ficamos investindo em diversos projetos, setores e esses investimentos não geraram capacidade de geração de receita e renda. Foram mal feitos. Os investimentos geraram dívidas, mas não geraram receitas porque foram mal desenhados, mal executados. Então tem um tempo de digestão dessa massa falida. Essa é uma crise que não é produto de um erro, de uma variável econômica qualquer, ela é fruto de um problema estrutural da economia”.

 

Flávio Ataliba

“Os sinais de retomada da economia são ainda muito incertos. Nós temos informações que mostram em alguns setores uma melhora, mas em outros ainda não tem como garantir uma recuperação. Então, você ainda não consegue ter uma previsibilidade, se realmente estamos numa retomada. O que acontece também é que, do ponto de vista estatístico, como nós chegamos num nível muito baixo da atividade econômica, certamente, qualquer ganho adicional representa um crescimento, porque a base está muito comprimida”.

 

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