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Jericoacoara. Chegada de aeroporto a Jeri reforça necessidade de cuidado ambiental
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Jericoacoara. Chegada de aeroporto a Jeri reforça necessidade de cuidado ambiental

Fluxo de visitantes aumentará em Jeri. A intensificação do turismo estimula a economia e gera mais demanda para o meio ambiente
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Jericoacoara é, ao mesmo tempo, lugar de todo mundo e de ninguém. O neozelandês Tomas Dib, 26, que há três anos orienta passeios de blokart na praia mais procurada da costa oeste cearense, a 295 quilômetros de Fortaleza, a chama de “cidade internacional”. Porque, no lugar de casas de nativos, a vila é abarrotada de pousadas, hotéis, restaurantes e comércios — tudo ocupado por gente de todo lugar.

[SAIBAMAIS]

A atmosfera de ilha paradisíaca encobre realidades da região que circunda Jericoacoara — e Jijoca, município que a abrange. É soma de disputa política, negligência ambiental e segregação da cultura local — só para começar. Com a inauguração do aeroporto regional, em Cruz, voos comerciais passam a chegar com frequência de São Paulo e Recife, aumentando a quantidade de turistas e movimentando a economia. Mas, com isso, essas questões — principalmente, as ambientais — se agravam e exigem atenção proporcional.


A praia convive, por exemplo, com falta de lixeiras, aluguel indiscriminado de cavalos e jegues para passeios e contínua passagem de veículos na faixa de areia, comprometendo a desova e desprezando o encalhe de tartarugas marinhas. Porém, mesmo sem lixeiras públicas, Jeri se mostra limpa para o turista. A situação se deve, basicamente, aos esforços de nativos e responsáveis pelo comércio, que ou a limpam ou ajudam a custear a usina de reciclagem do local.


A preocupação é que, com o aumento do fluxo de visitantes, essa realidade mude. A empresária e integrante da associação de empresários Eu Amo Jeri, Raquel Tanigaki Borges, compara: “Jericoacoara tinha uma, duas pousadas quando cheguei (em 2001), agora tem mais de 500. Antes, era um turismo mais ambientalista, agora é um turismo… diferente”. O neozelandês Tomas Dib reforça que o aumento de visitantes requer lixeiras e, também, banheiros públicos para manter a praia como o paraíso vendido pelas agências de turismo. “É a razão por que todo mundo tá aqui”.


Lixo na vila

Em Jeri, quem vem de fora sequer vê o caminhão fazer a varredura regular pela manhã. “A coleta é feita das cinco horas às seis, enquanto o turista tá tomando café. Quando ele termina, já tá tudo limpinho”, comemora o prefeito de Jijoca de Jericoacoara, Lindbergh Martins. Os rejeitos, segundo o gestor, são destinados à usina de reciclagem ou ao lixão da Cidade, a cerca de 30 quilômetros da praia.

 

Na última semana, quando O POVO esteve em Jeri, moradores da vila (são poucos os que sobraram desde que o lugar se tornou turístico) também disseram que alguns turistas mantêm o cuidado de procurar casas ou pontos comerciais para depositar o lixo. Sabem que não podem despejar nas ruelas. “Eles ‘num’ rebolam à toa”, atesta o agricultor Raimundo Gerônimo de Sousa, 51, recém-chegado a Jericoacoara.

 

SAIBA MAIS

 

O Parque Nacional tem quatro entradas: pela Vila do Preá, pela Lagoa Grande (Jijoca), pelo Mangue Seco e pelo Guriú. O acesso é possível por veículos 4x4.


O aluguel de jegues e cavalos — montados ou puxados por charretes — para passeios turísticos também é frequente em Jeri e deve aumentar proporcionalmente conforme o aumento de turistas. Neste cenário, a fauna local fica desprotegida e sujeita a interesses comerciais.


A Praia do Preá é considerada, pelo Plano de Manejo do Parque Nacional de Jericoacoara, Zona de Uso Intensivo. Esta zona, conforme o documento, pode ter o tráfego de veículos interrompido, limitado ou redirecionado, para a devida proteção de desovas de tartarugas marinhas. Na passagem do O POVO pelo local, foram vistos cadáveres de três grandes tartarugas encalhadas na areia. Uma delas com uma sacola plástica enrolada ao pescoço.

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