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Dois dedos de prosa com Josias Teófilo
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Dois dedos de prosa com Josias Teófilo

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Josias Teófilo. O primeiro longa do diretor recifense bateu o recorde de arrecadação por financiamento coletivo: R$ 350 mil em projeto de crowdfunding. O motivo, além do “trabalho árduo” de divulgação, segundo Josias Teófilo, 29, é seu personagem. O Jardim das Aflições aborda a vida e ideias de Olavo de Carvalho, filósofo famoso na internet por opiniões controversas e posições conservadoras, guiado por temas do livro homônimo. Alvo de polêmicas – que culminou com sete diretores retirando seus filmes no festival de cinema Cine PE contra o documentário “alinhado a direita”–, Josias se diz “perseguido”, mas se rejubila na estreia: “Está tudo lotado”.
“Fui recusado por mais de 20 festivais brasileiros”


O POVO - O senhor se considera um seguidor de Olavo de Carvalho?
Josias Teófilo - Não sei dizer se eu seria “seguidor”, não. Mas sou aluno dele. Não sou dos mais dedicados, mas sou aluno, e admiro muito o pensamento dele, as obras dele, especialmente as filosóficas, para além dos comentários políticos. Mas sou admirador, sim. Compactuo com muitas ideias, mas também temos muitas diferenças. Por exemplo: sou vegetariano, ele é caçador. Ficamos de boa.

OP - É possível, como admirador, fazer um “documentário filosófico” e investigar a fundo a vida do personagem?
Josias Teófilo - Pra fazer um filme com alguém, tem que ser admirador. Uma obra de arte é uma obra de amor pelo tema. Como diria Ortega y Gasset, é obra de amor intelectual. Não vejo necessidade de objetividade, porque é obra de arte, que é uma aproximação poética. Você chega, se aproxima, observa, como uma foto. É visão pessoal. Quer coisa mais subjetiva que isso? Dizem que falta “visão contraditória”. Como se pode ter isso? Não é sobre o Olavo, mas sobre algumas ideias dele, a partir de sua própria presença. Tem um preconceito no Brasil de que documentário é jornalismo. Documentário é arte. Mesmo documentários jornalísticos são obras de arte, e mesmo jornalismo, quando bem feito, é arte, segundo (Honoré de) Balzac. Quer alguém que entende mais jornalismo do que ele?

OP - Como se chegou à polêmica que culminou em festival adiado em protesto ao seu filme?
Josias Teófilo - Esse filme foi recusado por mais de 20 festivais brasileiros. Todos os lugares até agora. Eu imaginava. De repente, o Cine PE selecionou. Eu achei muito estranho e sabia que ia dar treta, mas não sabia qual tipo. Pensei que ia chegar gente gritando, tentando fazer confusão – o que ainda acho que vai acontecer. Mas essa história de retirar os filmes... É inédito. Dizer que é porque o personagem tem uma certa postura ideológica, que ele nem próprio admite. Olavo não admite ser chamado de “conservador”, porque não reduz o pensamento dele a uma área política.

OP - E o senhor se considera vítima de perseguição e censura?
Josias Teófilo - Claro. Não posso mais trabalhar no cinema brasileiro nunca mais. Fui excluído de todos os meios, porque o cinema brasileiro é completamente dominado pela esquerda. E não é uma esquerda muito tolerante, não. Foi extremamente hostil. As pessoas dizem que ajudou a divulgar, mas eu fiquei uma semana terrível. Não digo emocionalmente, mas tendo tantas demandas exteriores, que criam energias emocionais terríveis. Agora, tenho que criar outro meio. Tem o filme Bonifácio, do Mauro Ventura, por exemplo, que copiou nosso modelo de financiamento; o Danilo Gentili nos chamou pra fazer um filme, e vamos fazer, sobre o limite do humor. E vamos criando. Ninguém precisa de meio artístico. Eu sou meu próprio meio artístico. Fodam-se. 


Por Daniel Duarte
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