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Pais e filhos. Como tirar lições positivas dos escândalos políticos
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Pais e filhos. Como tirar lições positivas dos escândalos políticos

Educação: As denúncias e revelações de práticas desonestas podem trazer momento propício para ensinamentos sobre a honestidade e o respeito aos direitos de todos
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Gente grande lavando dinheiro, fazendo acordo de delação premiada, comprando silêncio... Tramas e termos confusos até para adultos que acompanham o turbilhão de escândalos no Brasil. 

[SAIBAMAIS] 

Quando os comentários chegam às crianças e adolescentes, as denúncias tendem a gerar perguntas. “Quem é Dilma?” e “o que é sonegação fiscal?” foram dúvidas do estudante Yuri, 13, sobre as discussões que acompanha na escola e nas redes sociais.
 

O momento é fértil para transmitir aos filhos os valores da cidadania, acredita a publicitária Louise Parente, 33. Mãe do Yuri e da Liz, de 6 anos, ela se considera apartidária e busca promover reflexões que conversem com o cotidiano deles. “Explico que eu governo a nossa casa. E pergunto: se eu pego o dinheiro que seria da conta de luz e compro uma bicicleta, o que estou fazendo com a casa?”, exemplifica. Outra situação comparada é a do líder da sala na escola. Ela ensina que ele ganha por escolha da maioria, apesar de não ter recebido o voto de todos.
 

A preocupação é em transmitir o conceito de democracia onde todos tenham voz e direito à manifestação, contra ou a favor. Sem ter crescido interessada em assuntos políticos, Louise percebe o tema nas conversas do filho e enxerga a chance de ensinar o respeito às diferentes opiniões. Enquanto busca entender a política, Yuri já avisa que vai votar quando completar 16 anos. “Quero fazer alguma diferença”, resume.
 

Destrinchados nas investigações, os tratos ilícitos entre representantes do poder público e da iniciativa privada abrem a discussão para práticas até naturalizadas e relativizadas, como receber favores ou levar vantagens sobre o outro. São conversas que também podem ser trazidas para os filhos. O respeito ao que é de todos e os limites entre certo e errado são reflexões que acompanham a formação de Luísa, também com 13 anos e amiga de Yuri. “Os fins justificam os meios?” foi uma das perguntas direcionadas à mãe, Natália Escóssia, 33.
 

“Deixo em aberto para que ela mesma responda. E explico que é questão de honestidade, se ela acha que pode fazer qualquer coisa para conseguir o que quer”, conta. Para Natália, uma das formas de trazer as lições para a realidade da filha é lembrar que as corrupções começam em ações corriqueiras, como no desrespeito às leis de trânsito e à ordem da fila. “Isso exige da família o exemplo e muita coerência”, ressalta Natália.

Referências
Na infância, os pais são os principais modelos éticos para os filhos. Por isso, a criança até os 6 ou 7 anos aprende os valores a partir dos exemplos diretos, pontua Marco Aurélio Patrício, psicólogo e educador. Nessa fase, é mais eficaz demonstrar bons comportamentos do que falar sobre ética. Até porque a criança não assimila conceitos abstratos, como justiça, liberdade ou democracia.
Na pré-adolescência, o jovem se abre a questões mais complexas. 

 

Para o psicólogo, o ideal é guiar o jovem de forma objetiva. “Não adianta vir com aula de sociologia quando o filho apenas pergunta se uma situação é certa ou errada”. Nessas fases, o jovem volta o referencial para os amigos e para as instâncias que ele elege como socialmente importantes. O papel dos pais é acompanhar as amizades dos filhos e está disponível para orientar em momentos de dúvida. E não perder oportunidades de ensinar. “É usar tudo o que chega, da violência à corrupção, mostrando o mal dessas ações à sociedade”, completa Patrício. 

 

De que os personagens principais são acusados?

 

Lula
Presidente entre 2003 e 2010

É acusado de ter recebido um apartamento de três andares e um sítio. Seriam presentes de empresas que receberam favores do governo na época em que Lula era presidente. Fazer um favor não é crime, é até bom poder ajudar alguém. Mas, nesse caso, o presidente não estaria fazendo favores com o que é dele. Estaria usando o que é público, de todo mundo, em troca de um benefício só para ele.


Aécio Neves
Senador, candidato a presidente nas eleições de 2014

Foi gravado numa conversa com um empresário para quem pediu dinheiro. Aécio disse que era um empréstimo e que iria devolver tudo depois. Mas, o empresário disse que deu dinheiro ao senador outras vezes, até mesmo na campanha para ser presidente. A suspeita também é de troca de favores.
 

Dilma Rousseff
Presidente entre 2011 e 2016. Cassada após processo de impeachment

Sofreu impeachment acusada de mudar as contas na matemática do governo para ninguém perceber que faltava dinheiro. Agora, vai ser julgada pela acusação de fazer favores a empresários em troca de dinheiro para a campanha, quando se reelegeu junto com Michel Temer. Também é suspeita de ter feito pagamentos ilegais escondidos ao casal que fez a propaganda dela.

Michel Temer
Vice-presidente entre 2011 e 2016. Presidente interino entre maio e agosto, durante processo de impeachment de Dilma. Presidente desde agosto de 2016

Acusado por ter se reunido com empresário investigado por vários crimes sem ninguém saber. Ele teria ouvido o empresário falar de tentar subornar três pessoas e não denunciou. Um presidente tem a obrigação de falar quando souber que alguém cometeu crime. 

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