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Zenilce Vieira Bruno: "Reserva de felicidade"
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Zenilce Vieira Bruno: "Reserva de felicidade"

Edição Impressa
Tipo Notícia Por

Zenilce Vieira Bruno

zenilcebruno@uol.com.br

Psicóloga, sexóloga e pedagoga


Os leitores acostumados com meus artigos com certeza reconhecem a expressão do título - muitas vezes usadas quando me refiro a aproveitar as oportunidades de sermos felizes e de não segurar as emoções. Acredito que podemos nos relacionar com o mundo, extraindo dele as alegrias dos momentos de encantamento, nos aprofundando lenta e saborosamente nas delícias de um mundo volátil, que nos oferece as coisas simples ao nosso alcance, nutrindo nas grandes e pequenas alegrias do amor uma sabedoria de convívio, de toque, de bem-estar íntimo vivenciado com os amigos, família e amores. Sonhamos com felicidade, de preferência absoluta, estonteante e definitiva, mas isso é fantasia. Ela é um sentimento simples, que anda mais perto da suavidade e da paz que das conquistas ruidosas e extremadas de bens, culto do corpo e de si mesmo.


Adoro os reencontros com amigos antigos. É inacreditável como parece que nunca nos separamos, falando exaustivamente de nossas vidas e intimidades. Fico encantada com isso, não abro mão desses momentos e da possibilidade de me sentir feliz, saindo sempre desses encontros renovada e animada. Esse é um sentimento de felicidade interna e tranquila, mesmo que algo externo a promova. Nos últimos dias, tenho enxergado a vida com um olhar diferenciado, em busca do encantamento necessário para sermos felizes. Quando olhamos o mundo ao redor de nós, aprendemos que há um entrelaçamento de fatos e coisas que não parecem estar desvinculados e por acaso. Uma comunicação pode ser sentida e vivida quando paramos e enxergamos o que nos cerca.

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Algo se passa como se essas coisas que contemplamos gostassem disso e nos enviassem seu reconhecimento, tornando-nos enriquecidos por essa interação. Encontro a felicidade neste caminho da amizade e do amor em que são possíveis saídas ao dilema que vivemos, por um lado, a saturação das relações pós-modernas globalizadas, e por outro, a solidão que se torna ameaçadora. Essas relações possibilitam-nos também outra aprendizagem democrática. Afinal, é nesse conviver que exercitamos a tolerância, o respeito, o entendimento, a desconstrução de ideias, a reinvenção de nós mesmos, a politização dos sentimentos.


Penso que podemos sonhar com uma humanidade mais cordial, o que acontecerá quando começarmos a ser mais amáveis uns com os outros, principalmente os outros mais próximos de nós. A amizade pode ser o caminho de amorosidade necessário ao bem-estar das relações, proporcionando-nos a sonhada felicidade. Podemos nos reencantar com outras coisas que são simples e belas: deixar-se atingir pela emoção do encontro, da palavra, da brincadeira, do presente. Podemos, sim, autorizar a emoção da coisa simples que há na vida e no viver. Deixemos nosso riso frouxo quando estivermos ao lado de quem queremos bem.


O ato de escrever sobre isso me faz pensar em estimular amigos leitores a incrementar e valorizar a ética da amizade, a política do bem querer. Amigo não é só aquele que nos conforta no abatimento, mas, sobretudo, aquele que vibra com nossas vitórias. Alegrar-se com a alegria do outro é uma das mais puras expressões de generosidade. Muito da graça da vida devemos aos amigos e à família. A eles, dedico essas reflexões.

 

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