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Transfobia e homofobia. Dandara mostra uma imagem que as pessoas negavam que existia
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Transfobia e homofobia. Dandara mostra uma imagem que as pessoas negavam que existia

Coordenador da Diversidade Sexual em Fortaleza, o humorista e ex-vereador Paulo Diógenes afirma que Dandara mostra imagem que as pessoas negavam existir
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Morta a chutes, pauladas e tiros no dia 15 de fevereiro, no Bom Jardim, e exposta à sociedade no dia 3 de março, quando o vídeo do seu assassinato proliferou na Internet, Dandara dos Santos, 42, tornou-se símbolo da violência sofrida diariamente por pessoas trans no Brasil. Além do preconceito e do ódio escancarados, o crime revelou a marginalização social e o desamparo a que estão submetidos LGBTs — particularmente, travestis e transexuais.


Só 15 dias depois, quando o vídeo se tornou conhecido e quando virou manchete do O POVO, que autoridades deram respostas.

 

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Morta a chutes, pauladas e tiros no dia 15 de fevereiro, no Bom Jardim, e exposta à sociedade no dia 3 de março, quando o vídeo do seu assassinato proliferou na Internet, Dandara dos Santos, 42, tornou-se símbolo da violência sofrida diariamente por pessoas trans no Brasil. Além do preconceito e do ódio escancarados, o crime revelou a marginalização social e o desamparo a que estão submetidos LGBTs — particularmente, travestis e transexuais.


Só 15 dias depois, quando o vídeo se tornou conhecido e quando virou manchete do O POVO, que autoridades deram respostas.

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Na última sexta-feira, 10, o governador Camilo Santana (PT) anunciou ações como a criação do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos Humanos LGBT e a permissão para uso do nome social em serviços públicos prestados pelo Estado. Na Capital, o prefeito Roberto Cláudio (PDT) afirmou que tem prestado atendimento à família de Dandara e que a Prefeitura já dispõe da Coordenadoria Municipal da Diversidade Sexual para prestar auxílio a LGBTs. Coordenador do órgão, o ex-vereador e humorista Paulo Diógenes (PSD) disse ao O POVO que, sensibilizado pelo movimento, o prefeito fará mudanças na gestão.


O POVO - O que a Coordenadoria da Diversidade Sexual faz para garantir direitos básicos a travestis e transexuais?

Paulo Diógenes - Tem o Centro de Referência LGBT. Esse centro recebe denúncias pelo Disque 100 e de forma presencial. Temos estatísticas de denúncias, mas não de violações, porque não se pode ter estatística de homofobia se ela não é criminalizada ainda. Temos levantamentos: 47% das denúncias (em 2016) são casos de violações aos direitos de travestis e transexuais.

OP - Quais são os recursos financeiros e estruturais de que dispõe a Coordenadoria? O que dá para fazer com o que tem?

Paulo - Assumi a Coordenadoria faz um mês. Tive uma conversa com o prefeito (Roberto Cláudio) e ele está sensibilizado com o caso da Dandara, mas, também, com o movimento LGBT. Acho que vem muita coisa boa, que não posso dizer agora, para o movimento. Acho, inclusive, que o que a gente vai implantar é inédito em todo o Brasil. O prefeito é muito sensível a essa causa. Por eu ser sujeito da história, LGBT, militante, isso me sensibiliza muito. Mexeu com os outros, mexeu comigo.

OP - Quais são as potencialidades desse novo equipamento?

Paulo - Amparo, acolhimento.

OP - Política pública: o que é possível criar?

Paulo - Trabalho com a juventude a respeito da tolerância. É muito político se aproveitando do movimento LGBT para sobressair e ecoar o ódio dele. O erro da gente foi ter ecoado esse discurso, também. A gente está indo a transexuais e travestis que estão nas esquinas perguntar o que é que essas pessoas querem, porque não é o que a gente quer. Quais são as necessidades básicas. Geralmente, falam: “A travesti tá lá na esquina”. O produto que ela tem para vender é o corpo, então ela tem de estar nua para as pessoas comprarem o produto e ela poder almoçar e jantar no outro dia.

OP - A gente sabe que a violência contra travestis e transexuais é subnotificada...

Paulo - É invisível. Quando chega para denunciar vem como agressão, mas não tem dizendo a razão. Tem o caso da Safira: ela é uma modelo belíssima que foi expulsa do banheiro do Terminal do Papicu. A violação é diária. Não é só espancamento. É horrível.

OP - A exemplo da Coordenadoria Estadual de Políticas Públicas LGBT, que se une à Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) na criação de um plano de proteção, como a Coordenadoria Municipal pode se aliar a outros órgãos para garantir a efetividade de direitos?

Paulo - Já existe. Com Secretaria da Cultura, da Saúde, da Educação. A coordenadoria só não existe sem essas.

OP - Mas como fazer as outras secretarias serem mais atuantes?

Paulo - Aí que está. Tem de explicar como respeitar. A própria Guarda Municipal, Polícia Militar. É um trabalho duro. Essa semana a gente se reuniu com o Júlio Brizzi, da (Coordenadoria da) Juventude. Vamos trabalhar nos Cucas.

OP - O que o assassinato da Dandara e a repercussão que teve a história dela revelam?

Paulo - Discurso de ódio culminou nisso. Em muita coisa, na verdade, mas o que o que deu visibilidade foi a Dandara. Com a Hérica (Izidoro), que foi poucos dias antes, você não viu essa visibilidade. Talvez se tivesse sido filmado… mas foi com o mesmo requinte de crueldade. Só que as pessoas não viram para crer. A Dandara mostra uma imagem que as pessoas negavam que existia.

 

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