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Rotativo. Para quitar as dívidas do cartão
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Rotativo. Para quitar as dívidas do cartão

Economia: Nova regra do rotativo do cartão de crédito entrará em vigor em abril. Pela norma, fica facultado aos bancos oferecer a modalidade de parcelamento após 30 dias do pagamento do mínimo da fatura. Entenda outros pontos da mudança
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O Governo Federal quer reduzir o índice de inadimplência no País, bem como reduzir o superendividamento dos consumidores. Para isso, optou por mudanças no rotativo do cartão de crédito, que entrarão em vigor já no dia 3 de abril. Como o novo modelo se aplica?


Ainda hoje o consumidor se dá ao luxo de utilizar o pagamento mínimo da fatura do cartão todos os meses. Na regra atual, se o cliente atingir compras na fatura no valor de R$ 1.000, mas tiver apenas R$ 150 para pagar, a dívida aumentaria. No primeiro mês, o saldo devedor saltaria de R$ 850 para R$ 948. No fim do sexto mês estaria em R$ 1.708. O novo modelo que entrará em vigor em abril exclui esse risco. O consumidor cairia no rotativo apenas por um mês. No entanto, passado o prazo, fica facultado ao banco contatar o consumidor e perguntar se ele quer parcelar (até 24 meses) a dívida ou pagar à vista. Se não fizer nenhuma dessas escolhas, se tornará inadimplente. “É importante lembrar que o banco não é obrigado a parcelar a dívida de ninguém. A norma é facultada às instituições. Mas, obviamente, eles vão ofertar essa modalidade para manter seus clientes”, destaca Ricardo Vieira, diretor executivo da Associação Brasileira das Empresas de Cartões
de Crédito (Abecs).
 

Caso faça o parcelamento da dívida, o consumidor tem seu crédito travado? Na verdade não. Um exemplo: a fatura do consumidor atingiu R$ 1.000 e ele pagou apenas R$ 300, mesmo com um limite de R$ 2 mil no cartão. Ele terá R$ 1.300 de saldo, mas R$ 700 de débitos no rotativo (contabilizando encargos). Trinta dias depois, o banco o acionará para um acordo. Ele opta por um parcelamento em 10 vezes e o valor da parcela fica R$ 77 ao mês. Mediante o pagamento do valor acordado mensalmente com o banco, o crédito é restabelecido.
 

O consumidor também pode contrair novos parcelamentos. Mas a regra vai depender de cada instituição financeira. Mesmo que o usuário já tenha um parcelamento e não consiga honrar os débitos do mês e pagou rotativo, passados os 30 dias da regra, o banco oferecerá uma nova proposta de quitação. No entanto, o primeiro parcelamento ficará ativo. “Não quer dizer que todas as instituições financeiras vão fornecer múltiplos parcelamentos. Cada uma vai fazer suas normas e apresentar para os clientes”, analisa Roberto Vertamatti, diretor de Economia da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac).
 

Segundo ele, duas razões favorecem o encarecimento do rotativo do cartão no País. “A concorrência entre as operadoras de cartão de crédito é escassa.  

 

A segunda é o fato de 30% dos consumidores que utilizam o rotativo financiam as compras parceladas dos outros 70% que pagam em dia. Não pagou em dia, pagou juros”, explica Vermatti. De acordo com Banco Central, o percentual médio dos juros do rotativo ficou em 484,6% no ano passado. Já o parcelado ficou na média de 161,9%.

Mudança
As mudanças no rotativo do cartão de crédito terão um efeito educacional na vida financeira do brasileiro. Sem controle na gerência dos débitos, o sistema “freia” os excessos. Para o economista Alex Araújo, a retomada do consumo ainda demandará tempo. “O papel é educativo e força o consumidor a uma negociação imediata, mas as mudanças serão vistas apenas daqui a um ano ou um ano em meio”, disse.
 

A expectativa é que a taxa do rotativo diminua com o direcionamento dos clientes para o parcelamento. Os juros do parcelamento, contudo, não serão afetados. “O cartão tem um custo e a taxa de parcelamento é muito menor. O acordo é pré-fixado. Não há uma justificativa para aumento. O Banco Central vai acompanhar de perto”, adianta.
 

Eventuais números positivos da mudança do rotativo do cartão podem sensibilizar o Governo a mudar as condições do cheque especial. “O cheque especial é da mesma natureza, mas incide em uma parcela menor da população. É possível que tenhamos medidas, desde que a reação do rotativo seja significativa para o Governo”, disse Alex Araújo. 

 

Baixo retorno
A regra obrigatória do rotativo não vai beneficiar clientes. A avaliação é do economista Roberto Troster, membro do Conselho Federal de Economia (Cofecon). “As pessoas terão de pagar um pouco mais para parcelar. Quando se exige mais e financia menos, tira-se esse benefício do consumidor”, afirma.
 

O juro do cartão de crédito deve despencar no curto prazo. “Vai cair pela metade, mas ainda será alta. Em alguns países, o rotativo chega a 30%. A taxa do parcelado, por sua vez, sofrerá um aumento considerável”, calcula. 

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