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Pesquisadores. Métodos sustentáveis não são unanimidade
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Pesquisadores. Métodos sustentáveis não são unanimidade

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A linha de pensamento Earthship não é unânime entre estudiosos da arquitetura e da sustentabilidade. A maior crítica fica em torno dos esforços humanos, financeiros e técnicos despendidos para dar conta das práticas propostas..


“A arquitetura sustentável sempre existiu. Na verdade, toda a arquitetura tenta se relacionar com o ambiente, aproveitando questões climáticas, por exemplo. Nos últimos tempos é que passaram a dar nome a isso. É preciso colocar na ponta do lápis para ver se medidas como plantação de hortaliça, por exemplo, valem a pena. Porque, no fim das contas, pode ser uma ‘faca de dois gumes’. É um campo de muita discussão”, explica o professor Romeu Duarte, chefe do departamento de Arquitetura da Universidade Federal do Ceará (UFC).


O arquiteto e pesquisador Aderson Passos, assim como Romeu, acredita que é na medição dos resultados que esses questionamentos podem ser solucionados. "É necessário aferir quão válida a substituição de determinados materiais é condição de peso para trocar um projeto convencional por um de cunho sustentável. Muitas vezes, faz-se a opção de uma cor por ela ser mais clara e ter propriedades que tornem menos necessário o uso da energia elétrica. Em alguns casos, no entanto, o envelhecimento dessa cor pode torná-la mais escura, o que exigiria uma maior frequência de manutenção e um maior consumo de tintas ao longo da vida útil do edifício, sem a garantia do resfriamento sensível no interior do prédio. Por isso, é relevante considerar os custos do desenvolvimento da obra e, sobretudo, da manutenção. Isso também é sustentabilidade", enfatiza o especialista em projeto bioclimático e sustentável pela Universidade de Fortaleza (Unifor).


Aderson explica que a Earthship é bastante vinculada ao entrosamento com a natureza e acrescenta que existem modelos arquitetônicos do leque de soluções ambientais que não contemplam todas as realidades do ser humano.


Professor do curso de Arquitetura e Urbanismo da UFC, Daniel Cardoso diz que existem em diversos países do mundo técnicas alinhadas com outras vertentes, como a Arquitetura Intuitiva, na qual experimentações são bastante realizadas. “Como fruto desse empirismo, você tem o uso de adobes (material vernacular anterior ao tijolo de barro) e materiais crus. Existe uma série de ferramentas que podem ser incorporadas, mas é preciso pensar se há viabilidade”.


Daniel é um dos coordenadores do projeto Energia Pecém, que consome bem menos energia elétrica para o funcionamento, aproveitando fontes naturais, como a solar. O docente aponta a ventilação natural viabilizada pela Arquitetura computacional e a refrigeração de baixo impacto -na qual o gás clorofluorcarboneto (CFC) é substituído por água fria - como instrumentos capazes de demonstrar otimização dos recursos financeiros e naturais usados na construção e funcionamento do prédio onde funciona o projeto.


Ao encontro dessa filosofia, vai a opinião de Renan Varela, professor do curso de Arquitetura da UFC. “O grande desafio do século é a arquitetura de baixa energia”, comenta o especialista em conforto ambiental e defensor de uma arquitetura definida por ele como “pensada por meio de conceitos mais holísticos”. “A arquitetura planejada nestas bases é de muito menor impacto e consciente dos limites do planeta. A gente não pode mais ignorar os impactos das obras para a natureza”, finaliza.

 

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