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Na terra da Lava Jato. Por dentro da República de Curitiba
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Na terra da Lava Jato. Por dentro da República de Curitiba

Como a maior investigação criminal do País, de combate à corrupção numa estatal de petróleo, transformou a rotina de uma cidade pacata como Curitiba
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Henrique Araújo
ENVIADO A CURITIBA
henriquearaujo@opovo.com.br

 

Os procuradores da Operação Lava Jato sorriem pouco. Graves, eles se revezam no esforço que parece comum a todos os 11 integrantes da força-tarefa: evitar que a maior operação de combate à corrupção no País se transforme em pizza. Para tanto, o coordenador da investigação, Deltan Dallagnol, recorre frequentemente a parábolas bíblicas a fim de ilustrar o seu pensamento. Quando quer reforçar o caráter pioneiro da ação, por exemplo, usa termos como “semente” e “plantas” que podem germinar e florescer em solo pátrio caso as condições sejam favoráveis. Dallagnol não disfarça o desejo de ver a Lava Jato espalhar-se pelo restante do País, tornando-se o que costuma chamar de “portal para uma transformação”.

[SAIBAMAIS]

Bibiana Antoniacomi também espera o mesmo. Diretora de uma agência de turismo em Curitiba, sede da operação, há cerca de um ano a turismóloga vem experimentando uma nova rota de visitação na cidade. O roteiro, que faz vista grossa para os cartões-postais da capital paranaense, como o Jardim Botânico e a Ópera do Arame, prioriza edificações ignoradas até três anos atrás, como o prédio da Justiça Federal. Segundo Bibiana, o passeio nasceu como demanda espontânea dos clientes. “Tinha gente que saía do aeroporto e vinha direto pra cá querendo visitar o lugar onde o juiz Sergio Moro trabalha. Foi quando nasceu a ideia de criar a rota da Lava Jato”, explica.


Para a dona da Special Paraná, a investigação, além de dividendos à empresa (cada passeio pode custar até R$ 375), representa valores associados a correção, respeito às regras e igualdade de direitos. Daí à expressão “República de Curitiba” foi um pulo.


E esse salto foi dado com a ajuda inestimável do ex-presidente Lula. Réu cinco vezes na Lava Jato, foi o petista que se referiu pela primeira vez à operação como a República de Curitiba, numa alusão à República do Galeão, um gabinete de oposição a Getúlio Vargas montado no aeroporto do Rio, em 1954 – Getúlio cometeria suicídio pouco tempo depois. Para Lula, Sergio Moro e os procuradores da Lava Jato teriam criado um enclave punitivo na cidade a fim de criminalizar o Partido dos Trabalhadores (PT) e a ex-presidente Dilma – afastada em processo de impeachment.


Orgulho

A expressão, que tinha tudo para se tornar pejorativa, acabou sendo abraçada pela cidade. No acampamento montado há um ano em frente à sede do Tribunal Federal, por exemplo, a novidade na última sexta-feira era a chegada de um novo brinde a ser distribuído entre apoiadores do juiz Moro: um passaporte da “República de Curitiba”. A brincadeira, porém, era coisa séria para Marilda Brandalise. Uma das coordenadoras do acampamento, a ativista se orgulha do rótulo que o ex-presidente pespegou à metrópole. “A gente tem orgulho da República de Curitiba. Aqui se cumpre a lei. Por isso que a Lava Jato é um divisor de águas no Brasil”, declara Brandalise.

 

Mais comedida, a companheira de acampamento Paula Milani garante que ninguém ali arreda pé antes do fim da operação. E quando termina a investigação? “Quando prenderem o vagabundo do Lula”, responde na lata, antes de lamentar que Marisa Letícia não tenha ido “morrer no SUS”. Segundo Milani, enquanto a prisão do petista não chega, a Lava Jato rende frutos.

 

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