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Investimento. Barracas e hotéis exploram potencial
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Investimento. Barracas e hotéis exploram potencial

Barracas ampliam seus negócios e empreendimentos, como hotéis, são erguidos na Praia do Futuro driblando estigmas de insegurança e excesso de maresia do bairro
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A Praia do Futuro é “o lugar para onde o turismo vai avançar”, projeta Cláudia Diniz, diretora comercial do Gran Mareiro. Cravado na rua Osvaldo Araújo, desde dezembro de 2015, o hotel é a materialização de sua aposta. Para colocar de pé 270 quartos e 12 salões para eventos foram investidos quase R$ 100 milhões, sendo R$ 30 milhões financiados pelo Banco do Nordeste do Brasil (BNB). “Parece que agora todo mundo está migrando pra cá. Está começando a ter muita novidade em um curto espaço de tempo”, analisa Cláudia, referindo-se a obras de requalificação realizadas pela Prefeitura na área, como a construção das areninhas do Serviluz e do Caça e Pesca, e a inauguração dos bolsões de estacionamento. Elenca ainda o surgimento do Centro de Eventos do Ceará para atrair hóspedes e de novos empreendimentos na região, como o VG Sun Residence (2012), o Hotel Crocobeach (2015) e o próprio Gran Mareiro como uma prova de aquecimento econômico na região. “Alguém tinha que vir primeiro pra cá. No caso, foi o Vila Galé, que veio há muito tempo (em 2001) e ficou sozinho durante muitos anos”.
 

Gerando 130 empregos diretos e com uma ocupação sazonal do segmento corporativo e para lazer, Cláudia garante que o retorno do investimento em hotelaria “é uma coisa muito lenta”, que só vem em aproximadamente 15 anos. Enquanto isso, não projeta nenhum tipo de expansão, mas “trabalhar o produto” que tem em mãos “porque o hotel se demonstra bem adequado para o que a gente queria”.
 

João Fiúza, engenheiro e presidente da Diagonal, construtora responsável por grandes obras na região, como o Beach Village Residence, enfatiza que o frente mar é algo que “tem valor em qualquer lugar do mundo”. Ainda assim, esclarece ser impossível precisar se, em breve, o setor imobiliário migrará ou não em peso para as imediações da praia. “Não dá pra prever porque é mercado, mas por ser a única praia usada (em Fortaleza) pelos banhistas, acredito que já chegou a vez dela (Praia do Futuro). Não 100% por conta da questão mercadológica”.
 

O arquiteto Francisco Nasser Hissa defende um melhor aproveitamento da Praia do Futuro e de todo o seu potencial. “Nenhuma cidade pode desperdiçar um espaço sem utilização como aquele; não tem sentido espalhar muito a cidade pra outras dimensões mais distantes”. Para viabilizar a mudança, orienta um esforço conjunto entre iniciativa pública e privada para prover, por exemplo, uma ampla rede de esgoto na área.

“Para todos”
Com quase 25 anos de existência, a barraca Terra do Sol, de Ivan Assunção, conta atualmente com 113 funcionários registrados com carteira assinada. Só com coqueiros transplantados para evitar a formação de dunas de areia e fazer sombra para clientes, o proprietário investiu R$ 70 mil. “Praticamente tudo que a gente foi ganhando ao longo dos anos foi reinvestido aqui para fazer melhorias, comprar equipamentos e reestruturar tudo”.
 

Segundo Ivan, o fluxo semanal na barraca é de cinco a sete mil pessoas,  sendo boa parte do público formada por fortalezenses. “A Praia do Futuro é ainda um dos lugares mais democráticos da Cidade. Têm barracas que atendem a todos os níveis sociais”.
 

Conforme a Secretaria do Turismo do Estado (Setur), além das barracas, a Praia do Futuro conta com 21 meios de hospedagem, englobando 2.713 leitos. “Sem dúvida, a Praia do Futuro é uma área com muito potencial. Embora perigosa, é uma das praia menos poluídas de Fortaleza”, analisa o arquiteto José Nasser Hissa. 

 

MERCADO IMOBILIÁRIO


Maresia inibe investimentos

Em pontos conhecidos da Cidade, como a avenida Beira Mar, empreendimentos surgiram vertiginosamente. Enquanto isso, a velha Praia do Futuro abriga, até hoje, uma espécie de “fantasma”: a maresia, que corrói, pouco a pouco, grandes investimentos imobiliários que foram ou que poderiam ter sido feitos lá. Estima-se, inclusive, que a praia tem a 2ª maior propagação de maresia do mundo, perdendo apenas para o Mar Morto, em Israel.
 

Rivelino Cavalcante, professor do curso de Ciências Ambientais do Labomar da UFC, explica que, de fato, a agressividade da atmosfera quanto ao spray marinho - nome técnico para a popular maresia - na Praia do Futuro é “consideravelmente alta”. “Na imagem de satélite de Fortaleza temos o vento entrando quase pela frente da Praia do Futuro e pelas costas da Beira Mar. O regime de vento predominante da região favorece o aporte maior desse spray marinho”. Lembra, porém, que o estudo pode não ter sido realizado em outras regiões do mundo, o que tiraria a praia do topo do ranking.
 

Outro fator que inibiu forte migração imobiliária é a limitação de construção imposta no Plano Diretor de Fortaleza, segundo o qual a Zona de Orla (ZO), região situada entre a praia e a avenida Dioguinho, só podem receber empreendimentos com altura máxima de 48 metros, comprimento corresponde a um prédio com cerca de 13 andares. 

 

JULGAMENTO
 

O futuro incerto das barracas de praia
Sob a alegação de que ocupam áreas de uso comum de banhistas (linha preamar), caracterizadas como praia, causando “sérios danos ambientais”, no último dia 15 de março foi levada a julgamento a apelação cívil (nº EINFAC538085-CE) do Ministério Público Federal que decidiria sobre a retirada de barracas na orla da Praia do Futuro.
 

No entanto, o julgamento foi suspenso após o desembargador Roberto Machado pedir vistas do processo.
 

Mesmo que a Prefeitura de Fortaleza conste como autora da ação, a sua intenção, desde 2013, não é demolir, mas reordenar a ocupação, “tendo em vista a importância das barracas para o turismo”, assegura o procurador-geral do Município, José Leite Jucá.
 

Presidente da Associação de Barracas, Fátima Queiroz, conta que, por falência ou desistência, hoje existem 82 estruturas do tipo na praia e não mais 153. Esperando que “tudo se resolva logo”, reivindica direitos adquiridos pelos empresários. “Estamos há 40 anos ali”. A professora Márcia, por sua vez, é “radicalmente contra” a permanência das barracas na Praia do Futuro. “Basicamente, você só consegue acessar a praia passando por uma barraca. (Os empresários) falam que pagam impostos, mas todo mundo e toda empresa paga. Quem tem lucro tem mesmo é que dar emprego. Acho frágil essa defesa”, rebate. 

 

SEGURANÇA E SERVIÇOS
 

Estigmas que perduram
Além da maresia, a professora do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da UFC, Márcia Cavalcante, elenca a especulação imobiliária e a falta de serviços como entraves ao pleno desenvolvimento econômico da Praia do Futuro. “Não tem uma farmácia, um supermercado; os serviços não chegaram lá. E ainda tem uma grande quantidade de terras nas mãos de poucos”, que não consideraram vantajoso investir antes no local, migrando para outras áreas, conta a professora.
 

Outro estigma que a Praia do Futuro carrega é o da violência. O local já foi palco de casos emblemáticos, como a Chacina dos Portugueses. A trágica história da morte dos seis portugueses, agredidos e enterrados ainda vivos na cozinha da extinta barraca Vela Latina, é revisitada até os dias de hoje. Da mesma forma, ainda repercutem a agressão e tentativa de estupro sofrida por uma turista de origem japonesa no calçadão da avenida Zezé Diogo.
 

Ivan Assunção, dono da barraca do Terra do Sol, rechaça a ideia da violência pairar apenas sobre a praia. “A violência fragilizou toda a população, que está com medo de sair de casa à noite. Mas a orla de Fortaleza é a área mais segura de toda a Cidade”, defende.
 

João Fiúza, no entanto, vê a segurança como “a primeira coisa” a ser resolvida na área. 

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