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Redes sociais. O celular no meio da vida conjugal
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Redes sociais. O celular no meio da vida conjugal

Comportamento Aplicativos e redes sociais podem gerar sérios conflitos e até separação entre os casais. Respeito e confiança são necessários
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Há quem defina o momento atual dos relacionamentos como “amor líquido”, quando os laços humanos estão mais frágeis e apenas um like pode casar ou separar. O celular — e toda a sua infinidade de aplicativos e redes sociais — é hoje o pivô de muitos conflitos entre os casais. O tempo antes dedicado aos momentos a dois, é facilmente direcionado a grupos de amigos. O ciúme, já tão problemático, ganhou aliados poderosos na hora da perseguição e das brigas: curtidas, mensagens, fotos, comentários, check-in… a vida virtual não se separa mais da real.

[SAIBAMAIS]
Ainda não há muitas pesquisas brasileiras que possam demonstrar os reais efeitos que a tecnologia, a internet e o compartilhamento de dados podem trazer. De acordo com a Associação de Advogados Matrimoniais da Itália, o WhatsApp é citado em 40% dos casos de divórcio no País. Um estudo americano, da Universidade de Baylor, descobriu que 46,3% dos 453 adultos entrevistados já tinham sido “trocados” pelo telefone. O fenômeno é conhecido como phubbing, termo que representa a junção das palavras snubbing (esnobar, em português) e phone.
 

“O celular está no meio de tudo e, entre os casais, se potencializa pelo fato de ter as redes sociais. Onde já há tantos conflitos, agora existe mais um estímulo”, avalia a psicóloga Gabriela Nunes Fernandez. Em seu consultório, o aparelho de telefone faz parte das sessões, se tornou instrumento de terapia, e as queixas são sempre as mesmas. A especialista explica que, quando o casal está bem, o celular é um incômodo. Mas quando a relação já tem algum conflito, o celular se transforma numa fuga, num escudo.
 

“O outro fica ali, se diverte, sorri, vê filme. E isso tudo com outras pessoas. Quando a rotina da casa acaba, o celular é a escolha”, conta Gabriela. Sendo o virtual a extensão do cotidiano, um comentário ou uma curtida podem ganhar status de traição. E publicamente. “Tem gente que conta as curtidas e quem sempre curte. Entra em cada perfil para ver os comentários. Se não tiver controle, essa investigação não acaba nunca. A pessoa acaba de fiscalizar e daqui a uma hora já tem mais a investigar”, explica a psicóloga.

Casais
Fale de controle para a atendente de telemarketing Daniele de Sena, 22, e saberá que não é tão fácil. “É complicado porque ele tem uma banda, usa muito o Facebook e lá aparece muita coisa que não é para aparecer”, dispara. “Ele” é o namorado de dois anos, o músico Stone Falcão, 33. Com eles, já aconteceram várias situações que renderam brigas. Ele adicionou quem ela não conhecia, alguém comentou uma foto dizendo que estava com saudades e a senha emprestada para um site de festas também já causou desconforto.
“Não tem nada demais. Eu converso com os amigos, marco show ou é algum cliente, porque eu também sou vendedor. Uso o celular pra uma coisa e ela pensa que é outra”, defende Stone. Para ele, as redes sociais são uma ferramenta múltipla, precisa ser usada. Já tentaram ter acesso à senha um do outro, mas não deu muito certo. “Deixo meu celular com ela hoje em dia”, diz. Daniele não se faz de rogada. Inspeciona quem ele adiciona, monitora as conversas e confessa que tem ciúme. “Mas eu também evito postar algumas fotos, porque as pessoas comentam o que querem”, conta a atendente de telemarketing. “É, já chamaram ela de gostosa, de minha rainha…”, complementa o músico.
 

Entre a autônoma Edileusa Teixeira, 37, e sua companheira há 11 anos, a garçonete Edilene da Silva, 32, os cuidados para que o celular não entre no meio das duas são tomados de forma preventiva. Edileusa gosta de interagir nas redes sociais. Edilene só tem WhatsApp para dar respostas de trabalho. 

 

“Internet junta quem está longe e separa quem está perto. Hoje, por exemplo, que a gente veio aqui para relaxar, eu nem trouxe o meu celular, que é o que tem aplicativos e essas coisas”, conta Edileusa. Elas moram no bairro Siqueira e foram até a Beira Mar para namorar.

 

DICAS PARA GERENCIAR O TEMPO

1. Na frente do computador ou com o celular na mão, as pessoas podem ter a falsa sensação de que estão sozinhas. Podem não se dar conta de que milhares de pessoas verão cada palavra ou imagem publicadas.

2. Tente eleger um dia para que o casal fique sem o celular ou o dia da casa sem wi-fi

3. Escolha ficar com o outro, com quem se tem uma relação autêntica.

4. Não olhe, não procure. Se você fiscalizar o telefone alheio, sempre haverá algo para se incomodar. O outro não é você, não gosta do que você gosta, não fala o que você quer que ele fale…

5. A perseguição nas redes sociais pode não ter fim. A busca por dados sempre terá mais um capítulo.

6. E se a pergunta vier: mas e se ele (a) me trai? Um outra pergunta deve ser feita: e o que será feito se for descoberto? Se a resposta for “não sei”, pare de fiscalizar.

7. Quando tiver vontade de ter a senha de acesso do outro, se questione sobre o porquê. Como isso poderá ajudar o casal?

8. Imagine se você pudesse ouvir todas as conversas do seu parceiro (a), inclusive as que ele (a) fala sobre você. Pense se não é melhor que a DR (discussão de relacionamento) aconteça com terceiros do que com você.

9. Tudo que causa sofrimento para si e para o outro é patológico. Seguir os passos do outro nas redes sociais não o fará deixar de trair.

10. Os casais mais saudáveis são aqueles que não se importam com novas amizades.

11. Ninguém é dono de ninguém.

12. Não faça perfis conjugados. Por mais que haja união entre o casal, as pessoas não gostam das mesmas coisas. E uma timeline deve ser a tradução dos gostos pessoais.

13. Invadir a privacidade do outro sempre dá problema. 

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