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Oscar. Minorias ganham visibilidade, mas nem tanto
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Oscar. Minorias ganham visibilidade, mas nem tanto

Discussões em torno do Oscar 2017 vão além das questões cinematográficas e dão destaque para temas sobre diversidade e representatividade de minorias
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Cultura

Esta edição do Oscar tem se destacado nas redes sociais, conversas e páginas de jornal como a mais diversa em anos – depois de duas edições consecutivas com apenas brancos nas indicações das categorias de atuação, não seria lá muito difícil. No entanto, a reação à presença de sete atores e atrizes não-brancos indicados, além de três longas protagonizados por negros disputando Melhor Filme, foi tão positiva que até a hashtag #OscarsSoWhite (“Oscar tão branco”, que viralizou nas redes sociais nos últimos anos) virou #OscarsNotSoWhite (“Oscar não tão branco”). Apurando o olhar, porém, é possível ver que o perfil da premiação segue pouco diverso.
[SAIBAMAIS] 

Recorde
A presença de negros na edição de 2017 é a maior da história do prêmio, mas é justamente examinando essa mesma história que se encontram situações que suscitam desconfiança. O professor e crítico de cinema Heitor Augusto, do blog Urso de Lata, recupera a edição de 2002, na qual Halle Berry e Denzel Washington, ambos negros, ganharam os prêmios de Melhor Atriz e Ator, e Sidney Poitier – primeiro negro vencedor na categoria, em 1964 – ganhou um Oscar honorário pela obra. “Entrou-se numa euforia extrema, de que ali seria um ponto de virada. Houve capa e matéria gigante no The New York Times”, lembra.
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Quinze anos depois, a situação é semelhante. “Muito provavelmente não estamos vendo mudanças estruturais, apenas readequações”, avalia. “Raramente as concessões vindas de espaços hegemônicos surgem de intenções genuínas de se repensar, colocar-se em crise. Utilizam a diversidade como se ela fosse uma commodity (mercadoria), não algo com lastro e luta histórica”, critica Heitor. Para Georgia Cruz, professora de Sistemas e Mídias Digitais da Universidade Federal do Ceará (UFC), essa abertura passa sim pela apropriação da causa, mas pode ser usada em favor da luta. “O capitalismo se apropria das bandeiras, mas essa apropriação promove aumento de visibilidade. A partir do momento que tenho abertura, tenho questionamento ao status quo”, reflete.
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Outras minorias
Apesar do recorde de negros indicados em 2017, a presença de asiáticos, latinos, mulheres ou LGBTQs, que também demandam presença não apenas no prêmio, mas na indústria do cinema, é mínima. “Segmentar opressões e minorias é uma estratégia histórica de quem detém poder e privilégio. Colocam-se uns contra os outros e se justifica com o discurso ‘primeiro vamos aqui, depois ali’”, afirma Heitor. “Para de fato termos diversidade genuína, é incontornável a presença de outras raças, gêneros e sexualidades em postos de decisão e criação”, defende.

Georgia concorda e ainda vê a abertura aos negros como um passo importante para novas aberturas. “O espaço ocupado pelos negros legitima que outras minorias cheguem também. A partir do momento que esses assuntos têm visibilidade, eles ganham legitimidade. Quando alguém com mais visibilidade que eu dá voz àquele discurso, ganho uma plataforma”, pondera.

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