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Festa nas ruas. "Eu quero é todo mundo nesse Carnaval"
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Festa nas ruas. "Eu quero é todo mundo nesse Carnaval"

Movidos mais pela alegria do que por recursos públicos, foliões se juntam em blocos para dar corda ao relógio do Carnaval em Fortaleza. O medo abre alas: as ruas da Capital ganham risos, fantasias e bem querer
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A alegria é senhora, desde que janeiro é janeiro é assim. Cantando, o povo faz as pazes com a Cidade, emenda fevereiro e se renova. A cada ano, blocos e mais blocos carnavalescos, formados pela espontaneidade, abrem espaços entre os medos urbanos e a falta de dinheiro para mostrar que a alegria é o grande poder transformador.

 

“Os blocos trazem as pessoas, de novo, para o contato com a rua. E isso cria uma conexão com a Cidade. Acho muito positivo e tenho o otimismo de que vai ficar cada vez maior, com diversidade”, festeja Hadji Aires, um dos organizadores do Bloco Glitter. “O que isso quer dizer para a Cidade é: as pessoas desejam ocupar a Cidade, desejam estar na sua Cidade... Querem vivenciar aquilo que é delas”, dialoga o ator Denis Lacerda, do Bloco As Travestidas. O Glitter e As Travestidas são estreantes no Pré-Carnaval de Fortaleza e que já despontam no circuito da Praia de Iracema.

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O primeiro nasceu em uma festa de aniversário de uma loja da avenida Monsenhor Tabosa, no último sábado de janeiro. “Isolamos o estacionamento, pedimos autorização (na Prefeitura). E veio mais gente do que o esperado!”, admira Hadji. “Pela demanda espontânea”, ele soma, “corremos para solicitar o uso do Mercado dos Pinhões... Era um local estratégico, que já tinha uma história com o Pré-Carnaval”.


Nas últimas apresentações, cerca de quatro mil pessoas, destaca Hadji, confirmaram presença nos eventos do bloco, via Facebook. “Como vimos que tem muita gente, vamos tentar conseguir apoio, de edital, de patrocínio. Para que todo mundo se divirta sem preocupação”, projeta para 2018. Nesta estreia, a venda de bebidas ajudou a pagar o investimento ainda por se calcular. “Depois é que vou saber direito (quanto o bloco gastou)... Só de glitter foram uns R$ 2 mil!”, diz.


Já o Bloco As Travestidas vem do grupo teatral homônimo e se propõe a, “além da diversão”, colocar no mesmo passo, pelas ruas até o Mambembe, “a questão da visibilidade (das travestis)” - pontua o ator Denis Lacerda. A Prefeitura cedeu espaços, reconhece Denis, mas ainda “é muito difícil colocar o bloco na rua. Sempre tem uma dificuldade com a papelada (para autorizações)... O preço tem sido caro”.

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A folia desses blocos vai se bancando por patrocínios e pelo bem querer. Do outro lado da Cidade, na Barra do Ceará, um grupo de “amigos de infância”, que se criou em um conjunto residencial “por trás do campo do Ferroviário”, formou o Bloco Amigos do HP. Quem conta a história é o advogado Frederico Parente: “HP é o nome do residencial Hermes Pereira. Na organização, somos seis. Mas todo mundo colabora”.


Rifas, cotas, vendas de blusas, tudo se transforma em festa nos sábados de 28 de janeiro a 18 de fevereiro. “Com isso a gente conseguiu revitalizar a praça do conjunto”, adita Frederico. Mesmo sem ser selecionado no Edital de Apoio aos Blocos de Rua/Ciclo Carnavalesco 2017, da Prefeitura, o bloco segue se profissionalizando, ressalta o organizador. Em seu segundo ano, passaram do “som mecânico” para “duas bandas”. Os gastos com segurança e locação de banheiros também se multiplicaram, e a conta da festa deu um salto de cerca de R$ 2 mil para até R$ 7 mil.


Mas o encontro com a fantasia pelas ruas de uma Fortaleza apavorada não tem preço. Assim imaginou o Bloco Iracema Bode Beat em parceria com o Dragão do Mar: do romance entre a índia Iracema e o Bode Ioiô, nascem os filhos que fazem o Carnaval – os artistas. Malabaristas, atores, músicos cortejam os domingos e convidam a ver uma Cidade mais feliz.


“A ocupação das ruas tem que existir diariamente. No Carnaval, a gente tem um mote para ocupar. Na Praia de Iracema, sempre se fala dessa violência. Nós fizemos esse bloco e é muita família participando”, exalta Tauí Castro, um dos idealizadores do Iracema Bode Beat. “Sempre faço esse convite: venha ver como funciona. Porque se ficar dentro de casa, a gente continua reverberando isso (o medo)”, conclui.

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Saiba mais

 

Para blocos carnavalescos realizarem festas nas ruas, é preciso autorização da Prefeitura por meio das Secretarias Regionais, esclarece a Secretaria Municipal da Cultura de Fortaleza (Secultfor). As regras valem para os blocos contemplados ou não no edital do Ciclo Carnavalesco.

 

As autorizações são gratuitas, solicitadas nas Regionais de cada bairro, mas os blocos devem cumprir uma série de exigências determinadas por outros órgãos. Por exemplo: caso seja necessário bloquear vias, o pedido também é analisado pela Autarquia Municipal de Trânsito (AMC); já a Secretaria Municipal de Urbanismo e Meio Ambiente (Seuma) avalia questões relativas ao som.

 

Serviço

 

Bloco Iracema Bode Beat -
apresentações hoje (19) e no próximo dia 26. Concentração às 15 horas, com DJ, no Café Couture (rua dos Tabajaras, 554, Praia de Iracema). O “rolê de Iracema e seu bode”, um cortejo até a Praça Verde do Dragão do Mar, está marcado para 16h20min. Na Praça, tem show da Banda Bode Beat.

 

Bloco As Travestidas – última apresentação no próximo dia 24, com o Baile Divine (uma homenagem à extinta boate LGBT de Fortaleza). Concentração às 20 horas, no Estoril (Praia de Iracema). O Baile começa às 22 horas, no Mambembe. Entrada: R$ 15.

 

Mais Pré-Carnaval – confira a programação completa deste domingo no canal Carnaval, do O POVO Online, em bit.ly/especialcarnaval2017.

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