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Em meio à crise, frota de carros do Ceará fica mais velha
Cotidiano

Em meio à crise, frota de carros do Ceará fica mais velha

Carros novos e seminovos já representaram quase metade dos registrados no Ceará. Contudo, instabilidade econômica retraiu renovação
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O Ceará já teve praticamente metade da frota de veículos nova ou seminova. Contudo, em cinco anos — e em meio a cenário de instabilidade econômica nacional — a frota envelheceu. Para quem trabalha na área de mobilidade, a tendência preocupa. Aumenta congestionamentos, polui mais e coloca a população em risco. Com a queda, automóveis mais novos representam 30,6% dos que circulam nas ruas do Estado, segundo o Departamento Estadual do Trânsito (Detran-CE). Hoje, menos de um terço da frota.


Neste ano, o número total de veículos registrados no órgão superou três milhões, chegando à média de um automóvel para cada três cearenses. Ainda assim, a inserção de novos carros, motocicletas, ônibus e caminhões não provocou renovação significativa da frota. Em dezembro de 2012, automóveis com até cinco anos de uso representavam 49,2% dos registros do Detran-CE. De acordo com o balanço divulgado pelo órgão no mês passado, atualmente, 30,6% da frota tem até cinco anos.

 

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Enquanto isso, cresceu a proporção de veículos com idade entre 5 e 10 anos de uso. Em 2012, representava 17,8% dos registros. Neste ano, chegou a 30,8%. Outro crescimento observado é o de carros com mais de 15 anos de uso. Em cinco anos, essa parcela de automóveis passou de 19,6% da frota para 25,8%.


De acordo com Fernando Pontes, presidente da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), até 2012 o Ceará acompanhou a tendência nacional de crescimento econômico, inclusive no setor automotivo. No intervalo até 2017, houve aumento da instabilidade financeira e redução no poder de compra. “Montadora que vendia três milhões de carros passou a vender menos de dois milhões, por exemplo”, diz. Com menor incremento de veículos novos, os comprados naquela época estão envelhecendo.


Pontes ressalta ainda que a redução de vendas chegou a empresas de transportes, responsáveis por parcela da compra de veículos de grande porte, como caminhões e ônibus. Além da instabilidade econômica, ele aponta o aumento no preço dos combustíveis. “São áreas que exigem investimento bem maior e estão amargando os sacrifícios da crise e do aumento”, explica.


Somado à crise, outro fator considerado como desestimulador da renovação é o abatimento gradual do Imposto Sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA). Proporcional à idade do carro, a taxa vai reduzindo até chegar à isenção, que ocorre no Ceará quando veículos atingem 15 anos de fabricação. A base de cálculo do imposto é realizada a partir do valor praticado do carro no mercado, reduzindo quanto mais antigo o automóvel é.


Impactos

Para quem trabalha no setor, há fatores que preocupam além da desaceleração de mercado. Segundo o Detran-CE, esse tipo de automóvel reduz a velocidade média nas vias. Os impactos de uma frota mais velha se estendem e atingem meio ambiente, segurança e mobilidade urbana. De acordo com o presidente da Fenabrave, os carros tendem a acumular danos, apresentar mais problemas mecânicos, perder dirigibilidade e provocar maiores congestionamentos com o envelhecimento.

 

“Carro velho quebra, tem mais problema, polui mais, vai perdendo suas características porque nem sempre recebe a manutenção correta”, aponta o professor da Engenharia dos Transportes da Universidade Federal do Ceará (UFC), Mário Azevedo. Segundo ele, independentemente do ano de fabricação, um carro antigo pode poluir menos que um seminovo, se receber as revisões necessárias.


Contudo, ele pondera que, no Brasil, a inspeção veicular pelos órgãos de gerenciamento do trânsito é negligenciada. “Se você coloca mais uma vistoria, será necessária uma logística pesada para avaliar itens de segurança e de poluição. E o Detran não tem condições de fazer isso”, comenta Azevedo.

 

Saiba mais


Fora de circulação

Neste ano, o Conselho Nacional de Trânsito (Contram) facilitou para que proprietários de veículos deem “baixa” no órgão.

 

Medida determina que usuários podem retirar veículos antigos do cadastro do órgão usando uma declaração. A decisão se aplica a automóveis que não estejam mais em circulação.


Até então, o proprietário precisava levar ao Detran-CE a placa traseira e um pedaço do chassi para dar baixa no veículos.


“Em muitos casos, o proprietário não tinhas mais condições de fazer isso, porque o veículo estava parado e não tinha mais placa”, informou o órgão estadual.

 

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